terça-feira, 31 de maio de 2011

Depois do episódio dos desempregados que devem trabalhar...

... Passos parece quer retirar votos ao CDS. O futuro de Portugal a partir do próximo domingo!

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Playlist de Maio

The Gift – RGB

Afirmar que os The Gift são, indubitavelmente, uma das melhores bandas portuguesas é pernicioso se não desmentirmos anteriormente que o facto de cantarem em língua inglesa não é um critério, pelo menos determinante, desse título. Da pertinência da velhíssima «Do you wanna something simple?» até à corajosa «Driving You Slow», da charmosa «The Question of Love» ao gigante lamechas de «Fácil de Entender» ou a festiva «Music», The Gift provaram ser eclécticos (e ecléticas pois muito desse carisma se deve à poderosa Sónia Tavares). Quer a sonoridade mais rock de «RBG» e que joga o jogo da apanhada entre momentos de calma e momentos de euforia, quer a letra (The Gift metaforizam demasiado o lado lírico das canções), quer o clipe, versão portuguesa do clássico Bonnie & Clyde, são factores que tornam esta canção uma verdadeira pérola da musica pop made in Portugal.

Aloe Blacc – Dollar

Nas discotecas é comum ouvir-se esta canção remixada mas a sua verdadeira riqueza vem precisamente da sua componente mais acústica. Se não fosse um negro a cantá-la juraríamos que poderia ser considerada uma canção country (e não percebo porque não poderia ser…). Tirando o factor de ser muito secante a nível da sua estrutura, é uma óptima canção de camaradagem e com temática actual se tivermos em conta os temos que vivemos : i need euro, euro, euro is what i need.

Beyoncé - Run The World (Girls)

Sempre tive as minhas relutâncias em relação a Beyoncé. Acho-a super cínica (mas quer Madonna quer GaGa são cínicas e tu gostas); abusa demasiado das ancas e tem uma silhueta estranha (Jennifer Lopez também e o «Love?» dela tornou-se o teu álbum preferido de Verão); é a eterna rainha norte-americana do RNB, estilo que tu nem vais muito à bola (mas cantado por Britney ou Rihanna até marcha). Não percebo porque é nunca gostei muito dela e, não, não me acusem de racismo porque venero artistas como Rihanna, KId Cudi ou Kelis (ou teriam obrigatoriamente que acusar os artistas negros que não ouvem Lily Allen). Contudo, «Run The World», apesar de recapturar o feminismo bacoco de «Singles Ladies» ou «If I Were a Boy» conjuntamente com a imagética tribal chic (“Diva”), tem algo que a torna bastante interessante. Aproximação ao pop de Spears? Talvez. Jogo de cintura com ritmos exóticos (Grace Jones, Kanye West, Shakira) ou militarizados (Rihanna, Destiny Child)? Sim, talvez seja isso. Moral da história: canção fundamental no mp3 até porque foge à tendência da pop mundial (o euro-dance, o house, o electro) mantendo-se, mesmo assim, com uma forte componente urbana e mainstream.

Hercules & Love Affair - Shelter (The xx Cover)

O sucesso de «Blue Songs», amostra pop dos H&LA este ano, poderá estar comprometido. Podemos, inclusive, culpar a ausência de Anthony (“Blind”, “Time Will”) por esse facto mas isso seria negligenciar o vozeirão da comandante Kim e respectivos recrutas, estreantes nestas lides como Negrot ou Shaun Wright. Whatever, o que convêm, contudo, não ignorar é o cover estratégico de uma das bandas fulgurantes dos últimos três anos: The xx. Com «Shelter», H&LA mostram a sua veia pró no manuseamento da electrónica minimalista underground com toda a subtil elegância e sensualidade que só eles/as sabem fazer, evidente em faixas como o subestimado «My House», no novíssimo single (por acaso, uma das minhas canções da década) «Painted Eyes» ou «This Is My Love». A ouvir!

Buraka Som Sistema - Hangover (Ba Ba Ba)

Apetece-me noticiar: olha quem voltou. Pois é, «Hangover (Ba Ba Ba)» é o primeiro single do novo trabalho dos Buraka, "Komba". Conclusões: refrões onomatopeicos como em «Yah», a mesma intensidade urbana do kuduro-electro como em «Luanda Lisboa» e a mesma etnicidade (ou africandidade) globalizada que os caracteriza. Demasiado minimalista, menos pop, mas altamente consumível. Habemos novo hit de Verão.

Simian Mobile Disco - Bad Blood (ft. Alexis)

E por falar em ritmos exóticos, Simian Mobile Disco somam e seguem com esta coisa dos duetos. É Beth Ditto, e agora o vocalista dos carismáticos Hot Chip. «Bad Blood» é quente e hipnótica, ideal para se ouvir nas mil e umas esplanadas do Verão de 2011... apesar de a canção ser já de 2009.

Eldar & Nigar - Running Scared

Não colocar numa playlist de Maio a música vencedora do Eurovisão é a mesma coisa que elaborar uma playlist de canções gays e não colocar Madonna. Desta vez, o prémio calhou ao previsível Azerbaijão, com o cliché para lá de secante das incertezas amorosas e do romance heterossexualizado. Os «Homens (e mulher) da Luta» ficaram, previsivelmente, pelo caminho, coisa que aconteceria com qualquer um/a que fosse representar no nosso famigerado país (espírito inconformista tipicamente lusitano? Yap…). Seja como for, o romancezinho, algures entre as melhores músicas dos Keane, convenceu-me.

X- Wife - Keep on dancing

Parece que a música tuga está em alta. Directamente (ou não) vindos da Queima, temos o X-Wife, cada vez mais dispostos a tornarem-se a versão nacional dos Green Day. Nada contra.

Kazaky - I'm just a dancer

É de admirar que um dos grupos musicais mais badalados das redes sociais gay seja de um país terrivelmente homofóbico como a Ucrânia e arredores. Com a ideia bastante original de ressuscitar o voguing e adensar a imagética camp e a queerness ao máximo (de tal forma que chegam a ser identificados como a primeira boysband gay a nível mundial – se bem que todas as outras sejam já bastante gays -), os belíssimos Kazaky prosseguem no seu caminho rumo ao triunfo pop com olho para a gramática gay (sexo, dinheiro, fama). E, portanto, com a lição bem estudada de seus camaradas GBT. «Love» é Cazwell “daft punkeado”, «In The Middle» é Colton Ford com ritmos arabizados, «I’m just a dancer» é uma piscadela de olho ao vanguardista trabalho de Kele Orekeke. Somam e seguem apesar de serem apenas… dançarinos.

Amor Electro - A Maquina

Definitivamente a música tuga está a dar-lhe. Quem anda muito pelo facebook já os deve reconhecer: Amor Electro, a novíssima banda portuguesa com temas, não facilmente digestíveis ou orelhudos mas pertinentes como «Capitão Romance» ou «A Máquina». Quem não os conhece, pense numa amalgama entre Clã, The Gift e Donna Maria.

Medina – Lonely

A promessa da dance regressa com «Lonely». Nada muito diferente do seu mega hit «You & I». Mais intimista talvez mas igualmente energético e com forte componente diva (isto é, um house recoberto de uma voz feminina forte. Pensem na música de Whitney Houston). Nada de genial por aqui.

Sak Noel – Loca People

Esta canção está apenas aqui porque vai ser a minha canção de Verão 2011 com especial incidência sobre a viagem de sonho que farei a… Barcelona. Como ela é? Uma mistura divertida entre a “Barbra Streisand”, a clássica e inesquecível “Short Dick Man” e “Destination Calabria” de Alex Gaudino com Natasja. Loca! Está tudo dito…

Outras:

Cazwell - Get my money back

Swedish House Mafia - Save The World

Peaches - Mud/Jonhy

Fleetwood Mac - Dreams (Glee)

Adele - Someone Like You

Interpol - Lights

Jose Castelo Branco - Pata Pata

Christina Perri - Jar Of Hearts

BEP - Don't Stop The Party

Lady GaGa - Edge of Glory

Rihanna - California King Bed

Tiago Bettencourt & Mantra - O Jogo

Kate Bush - Babooska

Manu Chao - Clandestino

Sean Riley & Slowriders – Silver

Meritocracia (ou novas formas de apanhar choques infinitamente...)


Interrogado sobre a velha dicotomia político-ideológica “esquerda/direita”, um amigo meu retorquiu: “eu não sou de direita nem de esquerda; acredito é na meritocracia!”.

Ora, nada poderia ser mais incoerente porque a meritocracia é, por assim dizer, um sistema de crenças ideológicas reportadas à direita neoliberal logo ela não é neutral e/ou asséptica.

Nos tempos do Ancient Regime, onde a mobilidade social era um ataque directo à estrutura de classes tripartida (nobreza, clero, povo) e onde “filho de sapateiro só podia ser sapateiro”, aquilo que hoje se denomina de meritocracia (não existia a definição, apenas a lógica da mobilidade social) era revolucionário pois era entendido como uma desorganização do sistema de classes e uma desbiologização (e.g., os filhos seguem caminhos diferentes dos pais). Poderia-se-ia linearmente e muito grotescamente admitir que essa mobilidade social era revolucionária, estaria situada ideologicamente à esquerda (ou naquilo que a esquerda é hoje). O avanço do capitalismo e a mudança de enfoque na esquerda recém-moderna (olá Marx) fez com que a mobilidade social (e o crescimento da burguesia) fosse um atentado ao fim das classes. Mas será essa mobilidade real?

A ordem social actual fragmentou o local em detrimento do global produzindo ironicamente novas formas de resistência do local, o que tal não significa (como se julga frequentemente) que formas tradicionais e biologizadas se perderam (e, muitas das vezes, não tem que ver com uma geometria territorial simbólica: Interior/tradicional; Litoral/moderno). A possibilidade de escolha é uma inevitabilidade do mundo moderno (em muitos casos) mas não significa que as pessoas construam os seus núcleos, as suas redes de sociabilidade, os seus sistemas de favorecimento (e.g., as cunhas). Logo a ideia de uma sociedade meritocratica onde cada um/a ascende pelo seu exclusivo (?) mérito é uma falácia e uma retórica discursiva. Mesmo se tivermos em conta os contextos diferenciais de desenvolvimento humano.

É tentadora a ideia de que as pessoas têm méritos e competências muito diferentes. Que duas pessoas, concorrendo para um lugar onde só pode entrar uma, estarão destinadas à (falsa) presunção que uma tem mérito a outra não. Essa ideia é coexistente à ideia de sociedade enquanto hierarquia: os/as que tem mérito e os/as sem mérito. Mas a retórica não se fica por aqui.

Porque a desigualdade é (infelizmente) estrutural, não será o discurso da meritocracia uma retórica das elites? Imaginem uma caixa de Thorndike onde o gato vai aprendendo a obter os comportamentos mais eficazes para conseguir comida (ou onde vários gatos vão competindo entre si) sobre o olhar atento e ironicamente divertido de… Thorndike. Enquanto lhes é dada a comida e eles competem, eles não se interrogam sobre o mecanismo da caixa e vai continuando a guerrear entre si e, simultaneamente, a alardear as maravilhas da meritocracia. Há gente que gosta mesmo de levar choques eléctricos…

François Nel

Este é o Mister Gay World de 2011 e vem da África do Sul, país cujo continente é caracterizado pela temperatura alta. Parece que os clichés desta coisas dos Misters (e Misses): "Quero acabar com a fome no mundo!" começa a fazer algum sentido, principalmente com comida tão deliciosa como esta, ai ai!