quinta-feira, 30 de setembro de 2010

TRANSformar mentalidades


Parece que a lei da identidade de género foi decidida em plenário concedendo às pessoas transexuais o pleno reconhecimento da sua identidade, por exemplo, no BI. Algumas almas, que adorariam patologizar mais a transexualidade (Como se um lifting fosse menos nosólogico do que a decisão de se mudar de sexo...), querem histerectomizar e vasectomizar @s transexuais antes da operação.


Afinal, isso não é anti-vida?

Juízo

está-me a nascer o dente do sizo...

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Netólicos anónimos

Natcho deixou o portátil na garantia (30 dias), sexta acaba o prazo e ainda não recebeu mensagem para o ir buscar. Natcho está a stressar sem netona...

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Rafael Cardoso & João Gabriel Vasconcelos

São os protagonistas centrais do polémico filme brasileiro «Do Começo ao Fim» que mistura incesto e homossexualidade. O filme não é grande coisa mas com esses gatões era do começo ao fim. Literalmente...

Os Dois






Rafael Cardoso













João Gabriel Vasconcelos







sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Fálacias alaranjadas

À ida para a facultis deparei-me com um cartaz da JSD, estrategicamente situado, no S. João. Dizia algo como: 15 anos de socialismo (15? Mas o Governo Sócrates só anda aqui a governar desde 2004... A mania das grandezas alaranjadas!); 21% dos jovens estão desempregados (adoro frases essencializadas!), esqueceram-se de dizer que, com o PSD, era dizer bye bye ao subsídio de desemprego... Pormenores!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Não me vetem o blogue por favor...



...é que, mais tarde ou mais cedo, surgirá outro! ahahah

Novas Oportunidades (para estar calado)


Adoro os comentários desta gente tão letrada. De repente nem foi preciso as “Novas Oportunidades” para se tecer comentários tão omniscientes, tão elaborados do ponto de vista intelectual. Dos processos de reconhecimento de competências nada se sabe mas manda-se umas boquinhas anti-PS (anti-esquerda), muito discurso anti-facilitismo (onde está o facilitismo em fazer-se exactamente o mesmo exame nacional que os outros e outras que vieram do secundário?), pincela-se com umas pitadas de populismo (como se as “Novas Oportunidades” pretendessem ser um modelo universal normativo) e voilá! Temos a arraia-miúda (patrocinada pelo despotismo reaccionário) toda licenciada, mestranda e outras coisas acabadas por “ada”.

A saber: embora a escola seja uma instituição social importante e represente o locus de poder simbólico de uma sociedade, o seu saber é apenas um entre muitos. Nem tudo o que se aprende na escola fica retido ou tem utilidade. Essa analogia é falsa. Quem critica o (suposto) facilitismo dos CNO’s não é adepto das aprendizagens em si mas das ritualizações do esforço/saber. Parece claríssimo…

Os mesmos e as mesmas que criticam o sistema dos CNO’s são essencialmente os mesmos e mesmas que condenam as taxas de analfabetismo absurdo do pais… ESTRANHO! E é vê-los e vê-las com o discurso da “família devia educar os seus filhos e filhas” bla bla bla. Pois… Utopias? Eu respeito as de cada um/a mas os Estados não se devem guiar por utopias nem se imiscuir na vida privada de outrem… Não é verdade, Tea Party?

Pergunto-me: é justo um/a estudante entrar num curso que não quer só porque entrou com uma boa nota retirando a vaga a outrem que quer esse curso? O despotismo das médias é ou não é pernicioso?

Pergunto-me: é facilitismo um aluno ou aluna candidatar-se ao Ensino Superior só com a nota de UM exame ao contrário dos/as outros/as que entram amparados/as pela média?

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

E qua qua qua como os peixes...


«fazer glu glu glu como os patos»

Rafa

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Families do it?

Dissem alguns e algumas que as famílias deveriam fazer o seu trabalho no que diz respeito à educação sexual. A questão é: as famílias fazem-no?

Compreendo que entrar no mundo da família seja desbravar o espaço da intimidade mas também se sabe que o espaço da intimidade é dúbio (ver a forma como os casos de violência domestica são resolvidos). Que os pais/mães e encarregados/as de educação tenham o direito de escolher a unidade curricular (como quem escolhe – ou não - a religião moral) é admissível, se bem que o currículo escolar público corre o serio risco de se tornar num serviço de self-service… Olha, tal como o sexo!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Síntese da 1ª semana de aulas

Seminário de Projectos - Interessante mas "preciosamente" exigente.
Socioantropologia do Desenvolvimento - Complexa, actual e com forma de avaliação não muito agradável (síntese - forma light de se chamar a um exame) embora me gusta!
Sistemas da Formação, Trabalho e Justiça Social - Numa palavra: Secante!
Análise de Políticas Sociais e Educativas - Fácil (é política for god sake!), barata e dá milhões.
Laboratório de Metodologias Quantitativas - Faz-me lembrar matemática, blurg! Só se safa por causa da professora.
Intervenção Comunitária e Desenvolvimento Local - O Cadeirão do 1º semestre! A ver vamos se tiro mais que o já habitual 15 com sabor a caramelo.
Educação, Género e Cidadania - A mais light de todas e a que mais me desperta interesse.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Playlist de Setembro

A playlist de Setembro é bem camp (depois de uma playlist masculinizada - a de Agosto). Scissors Sisters e Kylie dispensam apresentações. Adam Lambert bem pode seguir-lhes os passos do flamming pop. Robyn representa o lado dyke do espectro camp, Frank Sinatra é o Beckham dos anos 40 (isto é, o hetero mais gay do pedaço) e Robbie (assim como Enrique) passeia calmamente pela corda bamba. Pop elevado ao quadrado e alguns laivos de rock/indie (Adam e Arcade) para se ouvir enquanto as primeiras folhas de Outono caem...

Kelly Rowland – Commander


O mundo da música é uma permuta. Se a black music norte-americana concedeu a Guetta os seus privilégios mainstream (ou será antes o contrário?), então seriam esperado que em breve se exigisse uma moeda de troca. A esquecida ex-Destiny Child foi a presenteada pelo deus actual das pistas da house comercial e este não lhe negou um empurrãozinho. Travestida de Leia pop, traçando caminhos já descaradamente percorridos (Kelis, GaGa), Kelly não aprende e não se importa muito em ser um fantoche. Apesar de «Commander» ser um torpedo house com refrão igualmente vicioso não parece acertar o alvo (que Guetta alcançou com Kelly em sentido inverso). Caso para dizer: para quem promete ser comandante ainda vai ter que se contentar com o papel de hospedeira…

Scissors Sisters - Any Which Way



Policromáticos, festivos e indiscretos, assim sao as «Irmãs Tesouras» em inícios de uma nova década onde o disco parece (ainda) fazer as delicias do pessoal. O polisexual «Any Which Way» traz glam, disco-sound, factor camp e piano em doses certas e até demais. Ouvir «Filthy & Gorgeous» e ouvir «Any Which Way» é como virar o disco e tocar o mesmo. O destaque vai mesmo para Matronic que se sobressai com uma um spoken word super-mega-hiper sexy no apogeu da canção, exercendo o seu papel (tradicionalmente apagado) de femme fatale da banda (Jake Shears, desculpa). Apesar de não haver nada de novo fora do armário, fica o aviso: better take them, any which way you can.

Kylie Minogue - Get Outta My Way



Entrar no mundo encantado de Minogue é ter a certeza de que nada de muito ofensivo surgirá (excepção seja feita a «Impossible Princess» (1998)). Assim, «Aphrodite» não foge à regra. «All The Lovers» é a convocação (esperada) para a celebração do Eros, «Closer» é a dança soturna da luxúria, «Illusion», «Too much» e «Better Than Today são homenagens (ou lições bem aprendidas) aos homólogos Scissors Sisters. No meio de tanto açúcar só a intensa «Cupid Boy» (parece ter sido arrancada à força de «X») e a etérea «Looking for na Angel» (que tanto faz lembrar Coldplay no início) nos salvam (ou salvam Kylie…). Nem Calvin Harris refreia tanta inocência electro-pop com acidez house. «Get Outta My Way» é uma espécie de «Wow» que de Wow não tem nada. Nem o clipe (que pecou pela falta de sal). Andou lá perto com o segundo single. Mas não há ninguém que resista a Aphrodite, rainha do amor pop australiano. Pois não?

Enrique Iglesias - I Like It




As canções pop têm uma característica crucial: a capacidade parasita dos refrões em infiltrarem-se nas nossas estruturas cerebrais. Por mais sem sentido ou básicos que eles sejam. «I Like It» da estrela (cadente) latina do clã Iglésias não foge à regra. Reforçada pelo electro pimp de Pitbul (o novo Timbaland), «I Like It» pode fazer alguns estragos nas rádios mundiais. E faz. Mas as canções pop têm outra característica essencial: o seu imediato esquecimento. Valeu o esforço Enrique…

Robyn - Hang With Me



«Body Talk pt. 2» é a versão mais hardcore (em termos rítmicos e conceptuais – sexuais, maybe…) do primeiro «Body Talk». De um grito de independência («Dancing on my own»), a princesa da pop nórdica declara-se. No entanto não é por cantar o amor que Robyn amolece seu coraçãozinho de gelo.

Sia - Oh Father



E por falar em Robyn e em pop, hell, oh Sia! Depois de colaborações com Aguilera (como o enjoativo «You Lost Me»), Sia apropria-se da mega power balada da Rainha da Pop, Madonna, «Oh Father». O ressentimento dissimulado de Madge dá lugar a uma densidade infantilizada e a canção transforma-se e, apesar de não ter a raiva condensada e enrouquecida da mega-estrela cinquentona, passa no teste sempre difícil de superar a mestre que nem sempre é agradável. Oh Sia.

Frank Sinatra - I Get a Kick Out Of You



My story is much to sad to be told
But practically everything leaves me totally cold
The only exception I know is the case
When I’m out on a quiet spree, fighting vainly the old ennui
Then I suddenly turn and see
Your fabulous face

Chorus:

I get no kick from champagne
Mere alcohol doesn’t thrill me at all
So tell me why should it be true
That I get a kick out of you

Some like the perfume from spain
I’m sure that if I took even one sniff
It would bore me terrifically too
But I get a kick out of you

some like the bop-type refrain
I’m sure that if, I heard even one riff
it would bore me terrifically too
but I get a kick out of you

some they may go for cocaine
i’m sure that if, I took even one sniff
it would bore me terrifically too
but I get a kick out of you

I get a kick every time I see you standing there before me
I get a kick though it’s clear to see, you obviously do not adore me

I get no kick in a plane
Flying too high with some gal in the sky
Is my idea of nothing to do
But I get a kick out of you

Juntar cocaina, champagne e perfurme espanhol nao é para qualquer um.

South Street Player - (who) keeps changing your mind (Daniel bovie and roy rox dub mix)



Chill out on the beach, presente nas sempre interessantes compilações de Hed Kandi, para queimar os últimos cartuchos do Verão.

Robbie Williams – Shame


Robbie Williams and Gary Barlow - Shame
Carregado por EMI_Music. - Videos de musica, clipes, entrevista das artistas, shows e muito mais.

E quando parecia que nada nos surpreendia chega o rebelde da pop britânica a brincar ao Brokeback Mountain com o seu colega, ex-Take That, Gareth numa balada pegajosa. A surpresa não se deve tanto ao clipe fortemente homoerótico (afinal de contas basta aparecer Robbie para o clipe ser camp o suficiente) mas sim ao facto de não ousar ir mais longe (onde está o beijo Robbie?). Logo agora que o casamento gay no UK parece ser uma realidade cada vez mais próxima, Robbie vai casar com… uma mulher! Isso sim Robbie, é uma vergonha!

Arcade Fire - Mouth Of May




“Largaram a bíblia e pegaram em guitarras eléctricas” é o primeiro pensamento que nos ocorre quando ouvimos este «Mouth Of May», canção presente no novíssimo «The Suburbs». Lições com Bruce Springsteen? Talvez mas fica-lhes bem um pouco de rebeldia on the road.

Adam Lambert - Whatya you want from me?



Adam parece ser o exemplo perfeito de quem vem, vê a vence. Do American Idol aos grandes espectáculos mainstream foi um tirinho. Esta balada energizada é a prova de que o francamente bonitão Adam, apesar de ter muito para fazer no campo da música pop, já pode muito bem ter dado um passo importante: conquistar multidões teen (sim, aquelas que vão e/ou vêem aos/os “Ídolos” com um mega hit direccionado para estádios e corações de manteiga. Ainda pergunta desentendido o que queremos dele. Que lata! Não é obvio?

Fumar não mata, liberta


Quê? Já não se pode fumar em recintos abertos?

Não vejo em que é que seja ofensivo fumar as páginas da Bíblia ou do Corão. Ou da Anita ou da Playboy…

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Skins


A série já não é nova, data mais precisamente de 2008, mas curiosamente despertou-me a atenção estas férias. De tal forma que já vou na terceira temporada. A primeira temporada (apresentada estrategicamente como sendo cada episodio dedicado a cada uma das personagens) é a melhor. A segunda começa bem mas acaba mal (até é preciso morrerem personagens – uma delas sendo uma das principais), a terceira revela alguma crise criativa. É muito mais hardcore e não traz nada de muito novo.

A serie? A série foca os conflitos típicos da adolescência de um grupo de jovens britânicos. A particularidade é que os foca realistamente sem direitos a eufemismos. Assim, temos doses nada modestas de sexo declarado (gay e hetero e sexualidades fluidas), temas polémicos que surgem relativizados – abandono filial, aborto, anorexia, violência, etc -, drogas (muitas!) e raves e mais drogas e mais raves. Bem, tudo aquilo que se sabe sobre a adolescência e teve sempre medo de perguntar. As personagens essas são padronizadas, multiculturais mas inseridas em contextos não propriamente estereotipados. Temos o jovem árabe (Anwar) e o seu melhor amigo gay (Maxxie) – estratégia claríssima de pedagogia anti-homofóbica; temos o triangulo amoroso cliché (ou será antes quadrado?): Tony, o galã sem tacto, Michelle, a boazuda insegura, Sid, o nerd-tipo (com direito a gorro e óculos) e Cassie, a insegura e frágil Cassie (que sofrerá com problemas relacionados com a sua imagem). Resta-nos a Jal, a negra desenquadrada (que toca clarinete e detesta confusões – estratégia anti-racista), o peace & love Chris (apreciador de uns belos charros) e Affy, a soturna e perversa irmã de Tony. Tudo isto com muito humor british e enredos imprevisíveis.

Não sendo uma serie 5 estrelas é, sem sombra de duvida, uma boa forma de passar os seus seroes.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A expulsão de homossexuais

Será que esta é a deixa para o Sarkosy atacar uma outra minoria - os homossexuais -? Se não são as taxas de natalidade são as taxas de incidência do HIV... A ver vamos!

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Opção ou Orientação?


Opção ou Orientação

Tornou-se quase um cliché incontornável colocar-se esta questão quando o assunto é a homossexualidade (e a heterossexualidade). Gostaria de fazer algumas observações antes de apresentar algumas observações.

a) Porque é que nunca colocamos essa questão quando o que está em jogo é a própria heterossexualidade? Da mesma forma porque é que as teorias explicativas incidem apenas sobre a homossexualidade? Está a heterossexualidade explicada? É um tabu as tentativas para a sua explicação? Será um medo da descoberta da ausência de origens biológicas da heterossexualidade (como se sempre se supôs)?

Parece portanto óbvio que existe aqui uma parcialidade. Procurar-se, através da lógica do poder-saber, controlar para prever alguma realidade. Tende-se a explicar o desvio, o erro, o “anormal”, nunca o pré-estabelecido. Contudo, em Ciências (Naturais ou Sociais) não podem (nem devem) existir tabus. Explicaremos a heterossexualidade também… Gostaria de ver o ar de estupidificação dos/as cientistas quando chegarem às mesmas inconlusões que chegaram ao estudar (ou será melhor o termo “moralizar”?) sobre a homossexualidade.

Contudo, o debate (apesar desta introdução inicial) vai no sentido de perceber até que ponto a homossexualidade é uma opção ou uma orientação. Tornou-se um facto evidente que no discurso dos activistas LGBT’s (e nos homossexuais) na sua generalidade, quando alguém refere a homossexualidade como uma opção, leva logo com um comentário indignado: “mas não é uma opção!”. Parece-nos também um facto que no discurso homofóbico (e nomeadamente o de cariz religioso) a homossexualidade é uma opção, uma escolha linear, um acto que pode estar sujeito a um juízo de valor e/ou moral. Em suma: o discurso pró-gay defende a homossexualidade como uma orientação (no sentido mais ontológico: algo que pré-existe, estruturado, inerente ao sujeito, muito provavelmente de cariz biológico e, portanto pré-determinado) e o discurso homofóbico defende (ou ataca) a homossexualidade como sendo uma opção, uma escolha, uma hipótese, um estilo de vida. Portanto um comportamento passível de avaliações (e assim de controlo) morais, logo, de mudança. Ora, nem tudo que é estruturado é biológico (a linguagem, por exemplo), nem tudo o que é linear é social (mudanças de sexo, cor de pele, etc).

Qual a razão para isto? – A epistemologia da verdade

Estas posições não são inocentes. Elas escondem intenções claramente politico e/ou ideológicas. A questão não é posicionarmos-nos numa posição como se ela fosse exclusivamente verdade até porque a verdade é, per si, também falsificada pelas ideologias. Como referia Haraway, a verdade é disputada num combativo campo de forças. Dessa feita, não faz sentido falarmos em verdade mas sim em verdades. Uma pluralidade delas. A verdade, ou verdades, são processos de negociação entre os sujeitos. Não quer dizer que se entre num relativismo arcaico (até porque continua haver os mesmos procedimentos metodológicos para a apuração da(s) verdade(s)), mas que, verdade seja dita, a verdade é constantemente posta em causa como finalidade, como absoluta, como incontornável (duvida metódica). Basta olharmos para a nossa História (e histórias) e vermos como verdades inatacáveis foram sendo postas em causa e mesmo desmentidas, num grau macro (os posicionamentos da Terra e do Sol, a lei da Física de Newton, etc) e/ou num grau micro (enredos das nossas histórias pessoais, por exemplo). Assim, a verdade é plural, contextualizada, negociável e intransigente.

Portanto, não devemos defender a (homo) sexualidade como opção ou como orientação mas perceber que, quer como opção, quer como orientação, nela confluem estratégias de saber-poder, esquemas ideológicos, etc. Quanto muito evidenciamo-la quer como opção, quer orientação, quando a nossa intenção (de defesa ou de ataque) for mais conveniente. É isso que acontece nos debates políticos.


A (homo) sexualidade como orientação

Desde do advento da Scientia Sexualis (Foucault), isto é, da constituição do dispositivo da sexualidade com evidentes interesses ideológicos (ligados ao capitalismo e à formação dos Estados-nação) e, consequentemente, do surgimento das categorias de hetero e homossexual remontando a 1870, que a homossexualidade (entendida aí como uma espécie e não já mais, pelo menos de forma ínvia, um vicio etiológico) passa pelo crivo da biologia. Ulrichs defenda-a como um hermafrotismo psíquico, uma inversão fruto de uma estrutura genética, anatómica, hormonal, em suma, biológica. A perspectiva é a defesa da homossexualidade. Convêm, antes de mais, definir cada premissa antes de prosseguirmos. No meu entender:


Orientação sexual: desejo potencial com o objectivo de concretização do acto sexual (distinguindo-se assim da apreciação estética) e que pressupõe uma atracção automática, resposta inconsciente e/ou involuntária do individuo a um determinado sexo do(s)/da(s) seu(s)/sua(s) parceiro(s)/parceira(s)(distinguindo-se assim a orientação sexual das práticas sexuais (por exemplo, a pedofilia ou o sexo oral nunca poderão ser orientações sexuais mas sim práticas sexuais). Nessa perspectiva, orientação sexual é “orientação para um sexo” ( o “sexual” do termo pressupõe, não pratica sexual, mas sim sexo). Quando o/a desejado/a e o/a desejador/a são do mesmo sexo a orientação é homossexual, quando são de diferentes sexos a orientação é heterossexual, quando é indiferente o sexo do/a parceiro/a a orientação é bissexual. A orientação sexual é imodificável visto ser um desejo em latência e apresenta uma estruturação interna que corresponde, em grande numero estatístico, a uma fase inicial do sujeito (infância). Por ser de cariz pré-determinado é uma característica identitária que se encontra no mesmo patamar do que a raça e/ou o sexo. A dimensão da orientação sexual, pela ontologia que encerra, é mais passível de patologização.


Comportamento homossexual: a prática exteriorizada de um (ou vários) acto sexual. Pode ou não corresponder a uma orientação sexual (por exemplo, homens gays que casam e tem sexo com mulheres por pressão social heteronormativa ou homens heteros que, por necessidade economica, são “obrigados” a prostituírem-se com homens) embora no sentido ético da questão se possa pensar que se deve corresponder. O comportamento, precisamente porque implica uma decisão consciente (o sujeito faz ou não faz), e portanto podendo diferir da natureza da orientação, está sujeito a avaliações morais, éticas e/ou politicas. Sendo essa a sua natureza, pode-se incluir no comportamento todo o tipo de práticas sexuais (violação, actos hetero ou homossexuais, cunnilingus, masturbação, etc). Assim, comportamento tem um carácter externalizado e aleatório (embora profundamente estruturado). O comportamento, pelo carácter de externalidade e aleatoriedade, é menos passível de patologização.


Identidade sexual: a identidade sexual que advêm de um determinado regime de sexualidade. Quando focalizado na orientação sexual produzem-se identidades hetero, homo, bissexuais; quando focalizado no comportamento sexual produzem-se identidades de todo o tipo de cariz sexual. A opção por um desses regimes obedece a critérios específicos. Se a estratégia é pró-gay sedimenta-se a identidade na orientação sexual; se é anti-gay no comportamento sexual. A identidade é sempre uma dimensão contextualizada e nunca substancializada se for edificada no comportamento. Se for edificada na orientação sexual, pelo contrário, será, mais ou menos, fixa. Visto que orientação sexual e comportamento sexual são, mais ou menos, distintos, a identidade será também sempre negociada embora obedecendo a uma lógica estrutural. Um indivíduo gay será sempre gay (porque tem uma orientação homossexual) embora ao nível dos comportamentos a sua identidade possa ser instigada.


Homossexualidade: um tipo de sexualidade (conjunto confluído e/ou desarticulado de variáveis, mais ou menos, fixadas – sexo, género, orientação sexual (o seu elemento constitutivo), comportamento sexual, praticas sexuais, tipo de relações, fantasias, fetiches, sensações, sentimentos, percepções, etc) que se caracteriza e se vive por indivíduos de orientação homossexual e/ou que apresentem comportamentos homossexuais.
De referir que estas definições (em clara défice metodológico porque este texto é apenas um comentário e não um trabalho de investigação que obedeceria a um rigor cientifico aprofundado) são apenas essencialmente consideradas, estando abertas a melhoramentos e/ou indagações.


Prosseguindo: a pressuposição da homossexualidade como estruturada biologicamente é defensável pelos pró-gay porque retira aos homossexuais uma carga moral. Determinado o desejo e a culpa associada. Se já nasci assim não tenho culpa. Permite equalizar a orientação homossexual à orientação heterossexual (e partindo o pressuposto que a orientação heterossexual é biológica também) e infiltra-se na inveracidade do discurso metafísico (Natureza = Deus): Deus criou os homossexuais e os homossexuais não tem culpa de serem assim. Esta é a perspectiva pró-gay inicial. Esta estratégia também favoreve o discurso do “homossexual como espécie” partindo-se o pressuposto que um dispositivo biológico é homoestatico e controlado (ou não. Exemplo das evoluções genéticas. Obrigado Gentil Martins!) e desfazendo o argumento homofóbico da universalidade exclusiva da homossexualidade.

Desenganem-se se pensarem que esta teoria não abre uma serie de precedentes homofóbicos. Justifica-se os racismos, as eugenias (os mesmos que atacam etnias e as mulheres como biologicamente desiguais de homens), as teorias da degenerescência e as comparações evolutivas (abrindo brechas, mais uma vez, para o discurso eugenista). Os homossexuais são então seres subdesenvolvidos na lógica darwiniana. São os invertidos, os doentes, os degenerados. A corrente biológica abre brechas no discurso para a patologização da homossexualidade. Esta está no patamar da síndrome de Down (poderá fazer-se um raciocínio que alia homossexualidade à genialidade, à cor de olhos e/ou estrutura do corpo – características essencialmente biológicas mas não invalida o discurso do estigma que a homofobia prontamente invocará). Biologia é destino. A orientação sexual é um fardo. Portanto não é uma boa estratégia pró-gay. Pelo menos, perfeita perfeitinha.

A homossexualidade como opção

O enfoque aqui é o comportamento sexual. Há um esquecimento calculado da dimensão da orientação sexual. Esta perspectiva é defendida pelo discurso homofóbico e particularmente o religioso. A premissa “ama o/a pecador/a mas condena o pecado” assenta como uma luva. O/a pecador/a (“o” e/ou “a” homossexual) não é rejeitado (mesmo que, inevitavelmente, tenha uma orientação sexual) mas se tiver um comportamento sexual e aí condena-se esse comportamento. Há uma avaliação moral que funciona como uma reprovação violenta que pune o sujeito para que este (ou esta) passe a ter comportamentos heterossexuais (os comportamentos politico/ideologicamente convenientes). Independentemente de ter ou não uma orientação sexual.

Ora, um discurso homofóbico tão assertivo cai em dois erros fundamentais:

a) Como interpretar a orientação sexual? Não se pode negar ou omitir dimensões…

b) Se o comportamento homossexual é uma escolha, o comportamento heterossexual também. Perde pois o comportamento heterossexual o seu carácter “natural” (e naturalizado), mesmo que maioritário…

Em relação a esta última premissa o discurso homofóbico não se pode defender sem considerar a orientação sexual (por exemplo: “toda a gente nasceu heterossexual e depois existe um grupo de indivíduos que se desvia”; se há gente que nasceu heterossexual, quer dizer que uma orientação porque ninguém nasce a fazer o que quer que seja). É a concepção da heterossexualidade dada/homossexualidade como excesso/libertinagem. Entramos pois no ponto fundamental:

c) A homossexualidade como escolha nunca poderá ser doença pois as escolhas não poderão ser consideradas doenças.

d) A homossexualidade como escolha politiza a discussão e relaciona a homossexualidade com duas premissas democráticas fundamentais: a liberdade individual/corporal e a liberdade de escolha. É pois uma mais-valia para o debate pro-direitos civis, pro-contracto social.
Em suma: o discurso homofóbico da homossexualidade como escolha é, sem querer, emancipatório e despatologizante.

Assim, não há uma verdade. Há uma conveniência de verdades que são úteis ou inúteis consoante o contexto. Por isso, (e isto é para muitos gays defensores da homossexualidade como orientação) não se deixem levar pelo discurso do determinismo e tenham um discurso mais flexível e plural. Uma homofobia (estratégia moderna de eugenização heterossexista) confusa (legitimamente) é meio caminho para a sua auto-destruição.

Perguntem-me se sou gay! «Natcho, és gay?» Natcho responde: «Não!» UAU!

Finalmente chegou ao fim o processo Casa Pia. Resolvido? Não sei... Mexer-se no lodo implica que muita coisa ainda fique por esclarecer. Tentou-se, enfim, recolocar a homossexualidade a par com a pedofilia. Sem êxito... Mas valeu o esforço!

Não deixa de ser interessante que alguns "psicólogos" e "psicólogas" tenham desenvolvido um sistema de forma a determinar a orientação sexual (provando assim que nenhum tinha uma orientação homossexual! UAU!) das (presumíveis) vítimas. Cheira-me a Nobel... Não acham?

Frase da Semana


«A vida é como um sonho; é o acordar que nos mata»

Virginia Wolf, in Orlando