quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Impunidade, gunas e relativismo
Sábado houve um jantar de despedida de uma amiga minha para o Brasil. Fomos ao restaurante «O Marinheiro», em frente ao túnel de Ceuta, e o jantar (tirando uma boquinha homofóbica “inocente”) até que correu bem. Como sobremesa, fomos aos «Armazém do Chá» (projecto noturno que se revelou um fracasso) e depois fui à ZOOM sozinho.
À vinda para cá vim de autocarro - há séculos que não andava de autocarro – e entrou um grupo de cinco, seis jovens, na casa dos 16, 17, e, além da pose extra-virilidade que faziam emanar, muito àquele estilo gunóide que caracteriza essa “raça” de brinco de orelha e cinto Dolce & Gabanna” mas que não pode ver um paneleiro pintado (ou se calhar até pode e gosta), o grupinho desatou a criticar e ultrajar quem passava com insultos que atingiram o seu pico no «filho da p***», «panasc*», «cabra», «chupa-me a p***», etc, e na ameaça de agressão física, que como bem se sabe, é crime público. Sem qualquer motivo que o justificasse, sem qualquer freio moral, sem qualquer regramento. Por momentos pensei que estava a assistir a uma cena do «Laranja Mecânica» ao vivo.
O apogeu se deu quando um dos gunóides, certamente com aquelas técnicas míticas e passadas de milénio em milénio (existiam gunas nas civilizações antigas?) fez qualquer coisa à porta do autocarro e ele encravou. E tal como manda o cardápio mitra, fez o acto e fugiu. Porque guna homem que é guna homem foge!
O motorista (que não escapou ao insulto durante a viagem toda) levanta-se e, como que amedrontado, anuncia que o autocarro já não poderá seguir viagem em vez de, justamente, correr com o gado lá para fora e assim “prejudicando” a vida (ou sono) de outras meia dúzias de passageiros/as, esses meios passageiros tão amedrontados quanto ele que, certamente, desconheciam o poder das colectividades como formas de resistência ao ditadores rappers (ironia não?).
Nessa altura, o bando de marginaizecos, em puro ritual de iniciação para a “má vida”, percebeu-se que a vinda da polícia era uma forte possibilidade e aí reduziu o insulto. Coisa que durou muito pouco pois não tardou que passassem a insultar novamente dando azo às suas frustrações sexuais e de classe (Paul Willis explica isso).
E assim correu a viagem, com os gunas a testarem os seus limites (um dia mais tarde poderão nem tê-los), o pessoal como escape goat das famílias desestruturadas (sim, estou a generalizar mas who cares?) e a impunidade no ar. Sem polícias, sem guardas, sem ninguém que lhes fizesse frente e o sentimento de impunidade a crescer, a crescer, a crescer como a taxa Euribor...
Lamento se não serei politicamente correcto mas, em algumas situações, sou a favor da pena de morte porque não podemos dar liberdade a quem quer tirar a nossa (gunas, neonazis, padres). Esta situação serve para reflectir sobre a impunidade de certas subculturas da nossa macro-sociedade, reconhecer que, mesmo os progressistas, tem os seus limites e que o relativismo não é um contra-argumento reaccionário mas sim um grande argumento que se pode virar contra esses mesmo reaccionários.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário