Dizer que as conquistas e recuos do movimento LGBT, quando existe, em redor do mundo são tão diversos, plurais e antagónicos não é uma afirmação que espante. Enquanto na Sérvia se proíbe uma parada gay e, consequentemente, uma parada de extrema-direita, com a justificativa da preservação da segurança (como se fossem os gays que causassem distúrbios…), por cá, mais a Ocidente, assiste-se à 1ª parada gay dos Açores.
Escusado será dizer que os arautos moralistas da Pátria já ergueram as suas vozes na protecção inestimável do código imaginário do macho latino. Por exemplo, João Rocha (!) referiu no jornal "A União" (!) que a marcha gay atentava contra os homossexuais sensatos.
Deixa cá ver: como se definem os homossexuais sensatos? Serão aqueles que casam numa cerimónia religiosa claramente etnocêntrica e exibicionista e tem carradas de crias e que enquanto passa a marcha gay na televisão, destilam um conjunto de insultos que vai do paneleiro para cima e, a meio da noite, vai reflectir para a sauna das grandes cidades (no caso dos Açores, desconheço) sobre “A” família? Serão aqueles que arrotam, cospem no chão e mijam em via pública para mostrar a toda a gente que mijam de pé mas estão ansiosos para vestir o bra e o fio dental das pobres esposas e prostituírem-se na rua mais próxima, quiçá, com o primeiro exemplo que dei? Serão aqueles que, no alto da sua moralidade de batina, escolhem a via sacrossanta como expiação do pecado da sodomia e, uma vez dilacerados pelos desejos, escolhem as desérticas ilhas para pregar a fé cristã e evangelizar crianças inocentes introduzindo-lhes no pobre circuito da clandestinidade pecaminosa, sem levar a mínima suspeita pela sua devoção ao Senhor? Nunca o saberemos, assim como nunca saberemos em que categoria João Rocha se encaixa.
Sabemos sim que tais argumentos nunca mudam e, andando sempre a bater na mesma tecla, procuram mais dilacerar e por em confronto os próprios homossexuais do que fomentar o respeito pelo próximo, tal como refere a Bíblia. Não estou a imaginar um homossexual sensato a exclamar que não deva ter direitos. Não estou a imaginar um homossexual sensato a atentar contra a dignidade da sua própria vida, exceptuando se for suicida claro. Não estou a imaginar um homossexual sensato a dizer: “não, eu não tenho o direito de me manifestar publicamente pela igualdade”.
É nestas horas que acho que o fosso entre Portugal e Sérvia é bastante estreito. Os arautos da moral não se distinguem dos extremistas de direita; estão na mesmíssima categoria e usam e abusam da sua liberdade de expressão, atacando a dos/as outros/as, ignorando que se trata apenas de uma questão de tempo para a absoluta igualdade. Perante tais esforços e investidas, que já estamos fartos/as de conhecer até a náusea, dou um mero conselho: homofóbicos/as, sejam sensatos/as!
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