quinta-feira, 15 de maio de 2008

God Saved The Queen (With A Hard Candy)

Ela está de volta. Após o sucesso comercial (e não só) do seu antecessor "Confessions On The Dancefloor" de 2005, Madonna regressa com "Hard Candy". Mas não regressa sozinha. Consigo traz nomes de peso da black music norte-americana como Timbaland, produtor conceituado da actualidade, responsável pelos hits negros da última década, Justin Timberlake, o menino bonito do r&b e da MTV, Pharell, Danja e Kanye West. Para quem sempre soube se reinventar, Madonna supreende. "Hard Candy" não é um disco de vanguarda como um "True Blue" ou um "Ray Of Light". Muitos outros artistas já tinham experimentado esta fórmula de sucesso, posteriormente e curiosamente, sucessoras da própria Madonna como Nelly Furtado ("Loose") ou até mesmo a (outrora) princesa da Pop, Britney Spears ("Blackout"). A um passo de completar imperceptíveis 50 anos, Madonna, ao contrário do 1º single do álbum, não está mais interessada em salvar o mundo. Quer é torna-lo mais divertido antes de acabar baseando-se na filosofia do carpe diem ao velho estilo dance que a caracterizou nos primórdios da sua carreira. Madonna quer dançar. Dançar e vender. Conquistar o público norte-americano desde do mal fadado e anti-patriótico "American Life". "Hard Candy" é um pedido de desculpas e aparentemente o público norte-americano aceitou-o com 374 mil discos vendidos em duas semanas nos EUA desde do lançamento oficial (25/04/2008). Desenganem-se aqueles que tomam o álbum como um acto de submissão. Não o é. Pelos menos não totalmente. Madonna ainda dá cartas. Na voz claro mas também na atitude. Ela molda o hip hop à faceta pop tornando-o irresistível e viciante. "Confessions On The Dancefloor" transporta-nos para uma viagem dançante futurista dos anos 70, 80. "Hard Candy" consegue o mesmo mas com mais beat, mais cru, mais street, mais pimp. O álbum mais divertido e depretensioso desde "Like A Virgin".


1- Candy Shop- Convite explícito à descoberta do álbum: "See which flavour you like and I'll have it for you/ Come on into my store, I've got candy galore/ Don't pretend you're not hungry, I've seen it before/ I've got turkish delight baby and so much more". Refrões grudentos, letra maliciosa, possível resposta à homónima canção misógena de 50 Cent. A sensualidade de Pharell é inegável. Viciante e hipnoticamente doce. Nota 10.


2- 4 Minutes- 1º single. Com as presenças vocais de Timbaland e Justin, a sonoridade suja faz lembrar a urgência dum super-herói em salvar o mundo, neste caso em dançar. Torna-se um pouco repetitiva mas vicia como um caramelo. Tem direito a videoclip. Nota 10.


3- Give It 2 Me- Suposto 2º single. Madonna reforça o funk retro com um sintetizador frenético que por vezes torna a canção um pouco incomodativa. A música abranda com a participação de Pharell demonstrando um novo estilo de dança made in Baltimore (EUA): o perculator. A letra é interessante. Prova viva da força de Rainha da Pop piscando o olho à filosofia punk do "do it yourself" que a caracterizou nos saudosos anos 80 no ínicio da sua carreira: "Give me a bassline and i'll shake it/ Give me a record and i'll break it" Um aviso à indústria musical? Nota 8.


4- Heartbeat- Doce, calma, pede que a cantarolemos até à exaustão. Os vocais quentes de Pharell fazem a canção ficar em ponto rebuçado. Um refrão kyliano faz o resto. No entanto, falta alguma energia. Nota 7.


5- Miles Away- Possível 3º single. Uma das minhas favoritas. Madonna fala-nos de um amor à distância e consegue parecer nostálgica. Na sonoridade (um violão com batidas à Timbaland). Na letra ("You'll always love me more, miles away"). Nota 10.


6- Incredible- Quase reggateon. Quase hip hop. Quase funk. Quase groove. Quase pop. Esta faixa é quase tudo e não chega a ser nada. Madonna perde-se no meio e a música está cheia de partes inusitadas (aliás, o álbum tem esse pequeno handicap). De qualquer forma um bom pretexto para abanar o capacete ao sabor da voz de embalo da "Madjesty". Nota 6.


7- She's Not Me- Esta canção é incrivelmente retro. Funkeada, podia ser um aviso de Madonna às wannabes. Tem um cheirinho a disco puro de tal forma que a música parece se remixar no final conferindo-lhe poder e vigor. Como se a Debbie Harry se cruzasse com o Danja sobre o olhar atento de Timbaland. Nota 10.


8- Beat Goes On- Muito diferente da demo que vazou há uns meses atrás. Esta música supreende pelos riffs electrónicos, o refrão viciante, uma produção bem elaborada e até mesmo um rap cremoso de Kanye West com direito a apitos e gritinhos típicos da música house dos finais dos idos anos 80. Nota 10.


9- Dance 2night- Parafraseando "Music" Madonna quer juntar o pessoal todo para curtir. É desacelarada cortando o ritmo infernal do álbum, tem presença vocal de Justin e certamente foi baseada no tipo de soul que estava a bombar nos clubs nova-iorquinos quando Madonna sonhava ser astro maior da constelação Pop. Falta no entanto uma certa alegria nesta música de auto-ajuda. Nota 6.


10- Spanish Lesson- Tentativa frustada de Madonna recriar hits latinos do passado como "La Isla Bonita" ou "Take A Bow". A letra é ridiculamente pimbolha. Tão pimbolha que chega a ser hilariante. Ideal para se acordar de manhã com um sorriso na cara. O perculator em força na sonoridade. Nota 6.


11- Devil Wouldn't Recognize You- A balada do álbum. Letra pop com profundidade revestida de camadas electrónicas que fazem lembrar chuva e beats que a tornam sombria e emocional. O "Cry Me A River" da Rainha do Pop. Tem uma certa espiritualidade sem pregar nenhuma religião. Nota 8.


12- Voices- A música abre com Justin: "Who is the master, who is the slave?" Ironia? Talvez. Há uma certa provocação nesta faixa que faz lembrar a também última faixa do último álbum de Madonna, "Like It Or Not". Fala sobre hierarquia e tem certas referências à Kaballah: "Are you walking the dog, 'cause that dog isn't new/ Are you out of control, is that dog walking you?" É quase chill out. Para descansar depois da euforia do álbum.

1 comentário:

Paulo Afonso disse...

humm... discordo da crítica do álbum, mas pronto são formas diferentes de encarar a carreira desta artista. Por mais que ouça o álbum, ele parece tudo menos madonna, parece-me um álbum da Rihanna deixado a meia-produção. Descaracterístico, impessoal e aborrecido. Atrevo-me a dizer a ti, que és um fan dela, que considero o álbum o pior que ela lançou nos últimos anos. Ah, e também sou fan.

Abc