segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Promessas quebradas

Jurei a mim mesmo comer 25%, vá, das batatas do pacote; quando reparo só me restam três batatinhas desfeitas... Damn it!

Frase da Semana


«Nem sempre sou da minha opinião»
Autor: Paul Valery

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

10ª Edição das Feiras Francas: os Cupcakes do Poço dos Desejos


As Feiras Francas, que contam já com a sua quinta edição no Palácio das Artes (Fábrica de Talentos), são espaços de exposição artística e transversalidade criativa cujo o epicentro é a identidade (contemporanea ou tradicional, nacional ou internacional). Neste 10ª edição pediu-se ao/às participantes que ilustrassem o ponto de partida de 2011. Ver mais no blogue oficial.

Eu estarei lá a vender cupcakes (ver no facebook) do Poço dos Desejos ;)



Feiras Francas – 10ª Edição
Sábado, 29 de Janeiro · 10:00 – 22:00

Palácio das Artes – Fábrica de Talentos
Largo de S. Domingos, 16-22
Porto

Fantasmas no Mundo L


Noticias recentes dão conta que a homofobia no Uganda tende a aumentar: desde da propaganda religioso/ideológica anti-gay de uma Igreja norte-americana no país até à publicação de 100 nomes de homossexuais para serem enforcados num jornal (culminando ontem com o assassinato brutal de David Kato, activista gay), com uma novidade: o facto de os media focarem a sua atenção na lesbofobia, quer com o caso de Brenda, deportada do país, quer com o caso de Mllicient Gaika, vítima de estupros continuados como forma de "reconversão para a heterossexualidade", aqui não no Uganda mas no mesmo continente.

Estas notícias dão-nos conta que não são só os gays que enfrentam o preconceito e as suas variadas formas, as lésbicas também. Apesar de prevalecer no ar e historicamente a ideia de que a homossexualidade feminina é menos estigmatizada do que a homossexualidade masculina (com as suas razoes legítimas, é certo), a verdade é que a homossexualidade feminina pode muito bem ser tão ou mais estigmatizada do que a homossexualidade masculina, dependendo do conceito operacional de “estigma” que utilizamos. Se “estigma” (e distancio-me das noções concretas de Goffman, autor que fala muito sobre esta coisa do “estigma”) é “insulto e agressão” devemos, em princípio, todos/as concordar que os gays sofrem muito mais, mas a invisibilidade (“não se falar”, “não se dar nome”, etc) também é uma forma de estigma e, por vezes, mais cruel e insidiosa.

De facto, a invisibilidade lésbica é tão forte que a menção à mera palavra “homossexualidade” (e homossexuais) faz-nos surgir mentalmente imagens (estereotipadas ou não) de homens gays e nunca de lésbicas. Mais: o termo gay representa linguisticamente a franja enorme LGBT de tal forma que uma lésbica pode afirmar que é gay (o que significa que, de facto, ela é lésbica) e fazer-se entender (apesar de poder ser interpretada como uma mulher hetero a reafirmar a sua heterossexualidade no “gosto por homens”, equivalente ao desejo gay).

Tal como os/as feministas reivindicam (e bem) a dissolução do universal masculino na linguagem, as lésbicas deveriam insurgir-se também contra esta universalidade gay que, apesar da estratégia numérica e simbólica e da magnetização homofóbica anti-gay que mobiliza, invisibiliza-as através da linguagem.

Contudo, atenção: a invisibilidade vai muito para além da não referencialização linguística: pode ir para a dissimulação (“são só amigas”, o que nas sociabilidades femininas, mais fisicamente próximas que as masculinas, torna-se crítico), na efeminização (por exemplo, no argumento que faz das lésbicas melhores mães que homens gays porque “todas as mulheres estão destinadas a serem mães”), na assexualização (na referência à sexualidade lésbica com uma forte noção de companheirismo e nunca de sexualidade carnal) ou até mesmo exilação sexual que esconde um brutal machismo por trás (o argumento de o sexo lésbico é desacreditado porque, ao contrário do hetero e do gay, não existe penetração – “mas elas metem dedos? Isso é f***?” -, e que levou a Rainha D. Amélia a exclamar: “mas isso existe?”).

A razão para essa invisibilidade é óbvia. Ela tem que ver como a sociedade organiza o desejo e a sexualidade em modelos tidos como moralmente aceitáveis, princípios universais á la Kant (imperativo categórico que Nietzsche repudiava) e modelos de sexualidade convenientes, utilitários e artificialmente naturalizados tendo em conta um hipotético bem-comum e uma colectividade externa.

Esses regramentos assentam em quatro pressupostos inequívocos: a) a interiorização, inculcação e imposição dos papéis de género polarizados; b) a subordinação da mulher ao homem que hierarquiza esses papeis de género bem definidos; b) a imposição da heterossexualidade ou também chamada heterossexualidade obrigatória e d) a imposição da monogamia como modelo de estruturação educativa/familiar.

Destes pressupostos uma ilação anti-normativa podemos tirar: a sexualidade (toda e qualquer) não é natural, no sentido em que, mesmo sendo um corpo um dispositivo regido pela genética, ele não faz sentido no imbróglio em que a cultura, os padrões de moralidade, as subjectividades, etc, lhe colocam. Mesmo as dinâmicas genéticas são fortemente condicionadas por esses estruturas sociais que podem ser elaboradas/aplicadas pelo mecanismo jurídico-legal, pelas opções e estilísticas de modos de vida, etc.

A interiorização dos papéis de género (re) define-se exactamente pela sua vinculação a uma ideia essencializada (logo falseada) do corpo de homens e mulheres (homem = forte; mulher = fraca) e também à genitália e execução e dinâmica do acto sexual, que tem como pressuposto a reprodução. Isto é, porque um homem tem um pénis e sem ele estar erecto não existe fecundação, o seu desejo será primário (ou primariorizado) pois é crucial, contudo, o desejo da vagina será secundário pois para haver fecundação a mulher não precisa de se sentir estimulada limitando-se a “abrir as pernas”, assim o seu desejo é secundário (ou secundarizado). Não espanta pois que em questões como a mutilação do clítoris a sexualidade feminina seja desvalorizada assim como a sexualidade lésbica e haja uma repressão forte à sexualidade gay (se um homem gay não sente desejo por uma mulher, finito, no reprodution; se uma mulher é lésbica pode sempre ser violada…).

Ora, o desejo sócio-sexual ocidental é construído nestes regramentos arquetípicos e essencialistas e nestes 4 pressupostos tendo como princípio organizador o desejo do homem heterossexual (patriarcado e homofobia de mãos dadas).

A monogamia forçada obriga à competitividade (alguns/mas diriam que seria genética…) de clã uniracial (e assim à propagação de uma só raça) e à repressão (mas consequente forte erotização) do incesto e do adultério, tal como refere Gayle Rubin. Não admira, findo este ponto, que a sexualidade lésbica cumpra o seu compromisso de “harenização” (vem de “harém”) e de sexualidade-fetiche (ou de “adorno”) para homens heteros (que não tem equivalente na variante “gay/mulher hetero”) mas que o espectro butch seja altamente dessexualizante para homens heteros e, por vezes, ao revelar a reivindicação da autonomia e independência face ao homem (hetero), se torne ameaçador (como nas sociedades greco-romanas que permitindo a homossexualidade masculina, estigmatizaram fortemente a feminina), razão pela qual muitas feministas são tomadas como lésbicas frustradas e na crença de que a lésbica é alguém que sofreu algum trauma (violação: a homossexualidade como desvio causado por algo negativo) e ganhou nojo a homens ou então nunca sentiu o pulso sexual de um homem, daí as “violações de reconversão” que recriam da pior forma imagéticas do Holocausto nazi já que aí muitas lésbicas também eram abusadas sexualmente por soldados nazis (aliás, a elas eram-lhe dados um triangulo negro e não eram propriamente homossexualidades mas sim… anti-sociais - a homossexualidade feminina como nunca firme e determinada -).

Essa “fluidez” da sexualidade de adorno é uma miragem produzida pelos olhos de homens heteros mas que vincula lésbicas a casamentos de farsa.

Fica evidente então que as lésbicas sejam uma identidade sexual desacreditada dentro da comunidade LGBT, mesmo em cargos administrativos pois durante muito tempo as organizações de defesa dos LGBT eram lideradas por homens (gays); assim não admira que muitas feministas tenham decidido (após muita hesitação homofóbica) integrar lésbicas (assumidas) nas suas “fileiras” com o advento da lavender menace. Essa desigualdade institucional atinge as lésbicas dentro dos espaços LGBT (bares LGBT só – quando existe obviamente - com strips masculinos), na representação dos artefactos culturais LGBT como revistas (onde só aparecem homens desnudados), na afronta ao estereótipo butch (que muitos gays rejeitam) e na concentração da questão LGBT exclusivamente para os gays.

São eles que, por desigualdades de género estruturais, são compulsivamente vítimas das piores afrontas (insulto, agressão, morte) mas são elas que, ao não sofrerem as afrontas com a mesma intensidade de que os homólogos gays (e essencialmente falando concerteza), pensam que não existem.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Emprego à custa do desemprego


Portugal, terceiro país da UE com maior precariedade, decide cortar nas indeminizaçãoes a trabalhadores/as em casos de despedimento. Para quê? Para gerar mais emprego. À custa de quê? Do desemprego! E a Comissão Europeia apoia!

Bibi, filho, és condenado por ser pedófilo, não por seres bicha

«(...) não sou gay, sempre fui heterossexual (...)» Bibi

estes pedófilos badalhocos não tem vergonha de misturar questões de orientação sexual (dimensão legítima já que não interfere com ninguém) com o mero comportamento pedófilo (ilegítimo pois interfere com as crianças)?

Educar, educar, negócios à parte


Algumas escolas privadas protestaram esta terça-feira passada, em frente ao Ministério da Educação – com caixões -, por causa do corte de financiamentos públicos/estatais.

Ora, em primeiro lugar e antes de mais nada, convêm que se diga que se trata de uma questão democrática. Convêm esclarecer o sentido do "democrático": alguns discursos neoliberais poderão aferir o carácter desigual com que o Estado trata as suas instituições (o serviço público) e as instituições particulares alegando a violação de um determinado princípio da igualdade democrática. Não acho que a questão se coloque em termos de igualdade democrática (mais centrada, historicamente, nos direitos civis e não em garantias simbólicas – como lhe chamaria Giddens – como as dinâmicas monetárias, e institucionais), até porque, mesmo se quisermos abordar a questão nesses moldes, a crise toca a todos/as e portanto ninguém pode ficar de fora das medidas de austeridade (i.e., cortes de financiamentos), nem mesmo as escolas particulares.

Contudo, a questão coloca-se de uma outra forma: é viável o Estado financiar o Ensino privado? Na minha perspectiva não. Parece-me até paradoxal que o Estado ofereça aos cidadãos e cidadãs uma oferta pública gratuita (“ah e tal mas nunca é gratuita a 100%”. Ok, aceito, mas a sua frequência é gratuita pois ela nunca está comprometida contrariamente ao Ensino Privado cuja frequência é paga e bem paga) e patrocine um outro tipo de oferta que, por acaso, entra em competição com aquele que deveria ser primário. Pior: Isabel Alçada revela que as instituições escolares particulares têm recebido muito mais do que as públicas. De facto, está pois certíssima quando refere ao Público que «(…) alguns colégios receberam no passado um financiamento “mais do que seria justo”, o que permitiu que alguns “obtivessem elevadas margens de lucro”. “No ensino público ninguém recebe lucros. A única finalidade da escola pública é educar. Não havendo vantagens comerciais para ninguém” (…)». Ora, e o lucro para a educação são como as intenções para o Inferno e há que saber distinguir bens essenciais como educar e negócios cujo objectivo central é o lucro.
Num poste de Dezembro do blogue Arrastão, Daniel Oliveira é conciso:

«(…) A coisa é simples: por princípio, o Estado não deve financiar um colégio se tem ao lado uma oferta gratuita que ele próprio garante. O financiamento público apenas deve existir quando o Estado não está em condições de, num determinado lugar ou para uma determinada população escolar, garantir o direito de todos os cidadãos à educação. O espírito deve ser o de dar ao sistema privado um carácter supletivo: para quem o quer e por isso o paga e para quem não tem alternativas e por isso é financiado. Ao manter o financiamento automático, independentemente da oferta pública, esse carácter supletivo era distorcido. Desviavam-se fundos da escola pública para aquilo que é, muito legitimamente, um negócio. Mas os negócios devem depender do mercado e não do Orçamento de Estado (…)»

Ora, o Movimento SOS Educação vem revelar (num claro ataque ao ensino público) que «que segundo dados fornecidos pelo Governo à OCDE cada aluno das escolas com contrato de associação custa ao Estado 4200 euros/ano, enquanto na escola estatal os alunos custam 5200 euros anuais», contudo não esclarece que o background dos/as alunos/as da pública exigem mais precisamente, quer pela falta de cultura escolar, quer pelas insuficiências económicas que vitimizam esses/as alunos/as. Aliás, não é o que consta relativamente aos custos do ensino privado de ua forma institucional global:

«(…) a despesa do Estado com o funcionamento de cada turma com contrato de associação é três vezes superior àquela que é suportada com os estabelecimentos da rede pública. Sem contar com todos os encargos relativos aos vencimentos dos professores e das direcções das escolas, o Estado paga aos colégios - segundo contas enviadas pela tutela ao Diário Económico - 36.476 euros para despesas com o seu funcionamento, enquanto nas escolas públicas esse valor é de 11.806 euros. A nova legislação - alvo da ofensiva das escolas particulares - impõe um corte de 30% neste financiamento, o que significa que os estabelecimentos com este tipo de contrato passam a receber um total de 80 mil euros anuais por turma, em vez dos 114 mil que recebiam em média».

Algumas vozes afirmaram que não se tratava de escolas privadas no sentido tradicional do termo mas escolas que, sendo privadas, eram financiadas pelo Estado pois a rede pública, pelas dificuldades geográficas, não poderiam abranger essas escolas. Ora, não é preciso mencionar o truque estratégico dessas escolas na angariação de alunos/as fora do eixo geográfico quando tem escolas públicas no perímetro em seu redor. Alegarão a possibilidade de escolha dos/as pais/mães e encarregados/as de educação. Pois, então não se queixem da liberdade de escolha do Estado.

Por outro lado, não posso deixar de salientar a ironia da questão: as escolas privadas que se gabam de serem as melhores pelas alturas dos rankings (com ajudas dos financiamentos públicos?) são as primeiras a “arrebitar cachimbo” quando não vem o Estado a patrocinar os seus privilégios como coisas tão úteis pedagogicamente como «piscinas, campos de golfe, pratica de equitação». Refere Nuno Serra em relação à petulância dos privados:

«A comparação de resultados dos exames nacionais tem contribuído para alimentar uma percepção difusa, na sociedade portuguesa, sobre a existência de uma suposta supremacia do ensino privado face ao sistema público de educação. Dois equívocos associam-se a esta percepção: a ideia de que a escola privada é, tout court, melhor que a escola pública e, sobretudo, que a suposta supremacia do ensino privado resulta de características que lhe são intrínsecas. Isto é, de uma espécie de “código genético” que diferenciaria o ensino privado do ensino público».

Nesse excelente texto, Nuno Serra (inspirado pelo artigo “Desempenho educativo e igualdade de oportunidades em Portugal e na Europa: o papel da escola e a influência da família”, de Manuel Coutinho Pereira) demonstra que as escolas privadas tendem a ser consideradas melhores (importa esclarecer o que se entende por “melhor” e quais os critérios de avaliação operacionais para se tirar tal ilação) precisamente porque recebem “melhores alunos/as”.

Perante este cenário evidente, num minúsculo texto reactivo no «Diário Económico» (sem autor/a), é-se exímio nas tentativas de “apocalipsação” de cenários (à boa maneira direitista), nomeadamente aquele que diz respeito à possibilidade dos/as alunos/as do privado enveredarem pelo público e na insustentabilidade do público, alegando (ainda por cima) a eficiência do privado em dar guarida ao público em algumas circunstâncias (esquecendo por isso que Portugal vivia num regime ditatorial/salazarista onde mais metade das suas gentes eram analfabetas e o ensino tremendamente elitista). Quanto à questão da insustentabilidade é um mito até porque entre a despesa pública no processo de massificação (facilmente adaptáveis e reajustáveis) e nos financiamentos indevidos às escolas privadas venha o Diabo e escolha.

Estas tentativas (e protestos) são formas de impor ao sistema de ensino público a lógica do cheque-ensino (que Nuno Serra descreve tão bem) e do aluno-cliente. É a educação e o negócio de mãos dadas. Cavaco Silva estará lá até 2016, esperando que o PSD suba ao poder e se cumpra o sonho neoliberal de privatizar a Escola Pública, ficando assim evidente esta relação perversa e promíscua entre educação e negócios que fere de morte a nossa cidadania e democracia. Isto é, quem vai realmente nos caixões…

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Armazém do Café - Maia


Este é um sítio bem agradável localizado mesmo no (desértico) centro da Maia, mesmo em frente ao campo de futebol. Tem esplanada, wireless (embora de todas as vezes que lá fui a net não funcionava devidamente), uma variedade de muffins enorme, sendo essa a sua grande especialidade, e um café óptimo.

Contactos:

Maia - Vermoim
Avenida Dom Manuel II 1414, Maia4470-334 MAIA

Chamada Grátis
  • 229 427 324
  • 229 489 402

Playlist de Janeiro

1. Kanye West – Monster (ft. Nicki Nihaj)



Kanye West parece ter apostado em se tornar na versão masculina e negra de GaGa (e não é só o título da canção que o indica!). Essa estratégia traduz-se numa preocupação estética, conceptual e “vanguardista” para a sua música (a black music deixa de ser um turbilhão homogéneo de calão e sexismo), numa constante reinvenção de sonoridades (ele é auto-tune, ele é samples de música clássica) e na elaboração precisa e estratégica de um universo muito próprio, seguindo a cartilha do Rei Jackson mas de teor mais adulto.

Em «My Beautiful Dark Twisted Fantasy» (o nome é sugestivo!), Kanye, mais do recorrer à psicanálise freudiana, recruta uma séries de grandes nomes do pop mundial (de veterana Alicia Keys ao impensável Elton John passando pela vistosa Fergie ou a menina-do-momento, Rihanna) que relega para segundo plano com desdém e petulância de rapper.

«Monster», terceira amostra desta fantasia distorcida, bonita e negra, é um poço de desejos: samples de Bon Iver nas partes periféricas para conceder um pouco de misticismo à coisa, exercício irónico com o lirismo da canção e excentricidade “gagática” (e obscura) na imagética do clipe. Monstros sagrados da black music (o mago Jaz-Z e a novata mas igualmente polémica Nicki Minaj) dão uma ajuda.

Rui Miguel Abreu, na BLITZ, refere: «Como Elvis, Kanye também há muito que abandonou o edifício do rap (…) tal como o conhecíamos até aqui». E a gente concorda!

2. Christina Aguilera – But I’m a Good Girl



Todas as canções de «Burlesque» são canções perfeitamente encaixáveis no protótipo musical/cabaret mas «I’m a Good Girl», embora um cliché declarado e da aproximação nua e crua a Catherine Zeta-Jones de «Chicago», é um bom momento pop, não só na nudez de Aguilera mas na perversidade da letra por isso nada como perder umas boas horas a treinar o playback e os movimentos teatrais.

3. Hercules & Love Affair – My House



Passaram-se três anos desde que Hercules & Love Affair se estrearam nas lides musicais com um álbum homónimo e dois desde que incendiaram a Casa da Música. As coqueluches da altura eram a explosiva Kim Foxman e a exótica e exuberantemente sexy transexual Nomi. A Europa recorda-se da avassaladora e melancólica/house (e único hit realmente marcante) «Blind» na voz de Anthony e talvez seja esse o seu grande ex-libris. Às portas do novo (e sempre difícil) segundo álbum, intitulado «Blue Songs», H&LA lançam «My House». A canção é uma exercício de semi-experimentalismo que contraria o êxito dance-pop de «Blind» mas é fiel ao seguimento disco/eighties que H&LA nunca esconderam de traçar. Isso é notório (bastante aliás) no clipe, produzido em VHS e com direito até a intervalo e publicidade, marcado pelo carácter inacabado e sujo e onde o house rasca de fim de década 80 marca presença. Dois elementos em oposição, a jogar a favor e contra: demasiado experimental e, simultaneamente, fiel à onda eighties com o recrutamento, habitual arriscaria, de grandes nomes (i.e., Kele Orekeke, ex-vocalista dos Bloc Party). As coqueluches recrutadas são Shaun Wright e a venezuelana cantora Aerea Negrot. Esperamos ser convidados/as para a casa deles/as para termos a certeza de que a expectativa não dá lugar à desilusão…

4. Scissor Sisters – Invisible light



Muito foi dito sobre Scissor Sisters e o álbum «Night Work» (Bono Vox considera-os a melhor banda pop do mundo, o facebook censura-lhes a capa), a verdade é que «Night Work» é simplesmente uma obra-prima: junta o drama «Dexter» numa darkroom gay, o glam declarado de Minogue com a sedução requintada de Matronic, o pop rosa florescente e a “sombriedade” leather do disco.

«Invisible Light» (já falada na playlist de Maio de 2010 e agora com clipe) é o centro nevrálgico de «Night Work»: invoca a dança sobre os trejeitos obscuros e tem um clipe onde se confundem estilos musicais e artísticos diversos: psicanálise freudiana com surrealismo, simbolismo com feitiçaria, erotismo leather com Hitchcock. Até Ian McKellen dá o ar da sua graça com a recitação de um poema. Confirma-se: Scissor Sisters, senhores/as da pop 2011!

5. Cut Copy – Take Me Over



Cut Copy regressam mas não mudam de fórmula: synth pop voltada para a disco. «Take me Over» segue as pisadas da fórmula, tim a tim. Não é mau mas não se pode dizer que é original. Contudo, em Março, tira-se a prova dos 9.

6. Duffy – Lovestruck



Poucas coisas realmente me surpreendem, muito menos a minúscula loira com voz de Golias, Duffy. Porque? Sempre achei uma cópia (re) trabalhada de Amy Winehouse, empurrada aos trambolhões da onda soul sixties jazzy que embateu sobre o mundo em 2007. Não sou grande fã do estilo, é certo, mas não desgosto. Contudo, Duffy, no seu segundo registo, fez-me mudar de opinião.

«Endlessly»(2010) de Duffy é uma caixinha de surpresas: do enjoativo «Well, well, well» ao oriental «Keeping My Baby», do natalício «Breath Away» ao romântico «Hard for The Heart», Duffy prova que é moça versátil. «Lovestruck» revela o seu lado mais felino. Duffy Fatale!

7. Take That – The Flood



O mundo mudou imenso desde da onda avassaladora das boys e girlsband que marcou a ferro e fogo a pop dos anos 90. Backstreet Boys e Spice Girls dão voltas na tumba. Contudo, Robbie Williams parece estar descontente com esse (evidente) desfecho: reúne os colegas de colégio e elabora um videoclipe auto-sarcástico que ironiza, quer a idade, quer o iminente mau resultado da canção. Robbie enganou-se: «The Flood» é uma boa canção pop. Imaculada, inteligente e certeira, o que convêm. Isto tudo claro, sobre a supervisão perspicaz de Stuart Prince (Madonna, The Killers, New Order, etc).

8. Britney Spears - Hold it against me



Nada fazia prever que miss Britney Spears lançasse agora um bebé pop, a não ser (mais do que óbvio) a iminência de um mega hino pop nas mãos de GaGa (“Born This Way”) que ameaçaria o estrelato, já em banho-maria, da ex-virgem de Kentuchy. De facto, ao contrário da burlesca Aguilera, GaGa é uma rival de peso (apesar de ambas pesarem pouco menos de 50kg). Á primeira audição, «Hold it Against Me» é uma canção foleira, óptima para se ouvir nas corridas de carrinhos de choque por gente de pouca confiança (ou como se diz: “cunfia”) mas (e tirando o lirismo patético, banal e “maisdomesmo” da canção), a originalidade da sonoridade é de louvar: dubstep. O The Guardian refere que «(…) depois de Hold It Against Me, espere Madonna se jogar no dubstep até o fim do ano!». Não me parece, até porque Madonna já andou a navegar por essas áreas (“Bedtime Stories”, “Music”) mas, de facto, Britney Spears parece ter uma arma fatal contra GaGa (onde se espera que a fórmula “electro-pop + rnb” seja usada em força). Nem que lhe custe acusações de plágio…

9. Serge Devant ft. Emma Hewitt - Take me with you



Após a impulsivamente erótica «Addicted», é a vez de «Take me with you» fazer alguns estragos na pista. That’s only house and we like it.

10. Ricky Martin - The Best (ft. Joss Stone)



Desde que assumiu a sua homossexualidade, Ricky Martin tem apostado na exploração das temáticas sobre igualdade, tolerância, etc (o clipe é prova viva!). Neste (improvável) dueto com Joss Stone inventa o reggae latino (esqueçamos os devaneios da «Loca» de Shakira) e digam o que disserem, os quarenta dão-lhe charme. Ricky, alicia-me!

11. Taio Cruz - Higher (ft. Kylie Minogue)



Kylie parece determinada a entrar no universo «euro-hop» criado por Guetta e alia-se a Taio Cruz. Tirando o ardil machista do clipe, a promoção gratuita aos BMW's e as leves semelhanças com «Music» de Madonna, só o charme de Kylie, directamente proporcional à idade, é que a eleva... mais alto! Taio, clone de Usher, fica em terra... Aviso: a canção vicia!

12. Jamie Lewis ft. Kim Cooper – 1001 (Mix)



Os senhores (e senhora) de «So Sexy» e «Mo'Butter» estão aí com «1001», uma amálgama house onde os ritmos árabes e a black music andam aos beijinhos. Conclusão: o meu som do momento!

Outras canções que andaram a fazer comichão no meu mp3:


• Stromae - Alors dance
• Uffie - Pop the glock
• Aurea - Busy (for me)
• Maroon Five - Give a little more
• Lykkie Li – Get some
• Louie Austen – You, only you
• Placebo - One of a kind
• Bedük – Better than my baby
• Gaga – Born this way (Mugler Remix)
• Pink – Fuckin Perfect

Discurso, a quanto obrigas!


Através dos discursos pode-se perceber que tipo de pessoa temos pela frente. O discurso de Cavaco Silva ontem, pautado pelo rancor e centrado nos adversários (como recorda Mário Soares), revela não só o desejo de ambição/competição e a petulância de Cavaco mas também as suas prioridades. "Os" (as) portugueses (as)? Não. Vencer!

Frase da Semana


«O coração de um tolo está na sua boca, mas a boca de um sábio está no seu coração»

Benjamin Franklin

domingo, 23 de janeiro de 2011

Cam GIGAndet

Vai ficar para a história o strip-tease original (e kinky) que Jack (Cam Gigandet) faz para Ali (Christina Aguilera) em «Burlesque». Começa num pijama infantil, tudo menos erótico, para um pacote de bolachas estaladiças, estrategicamente bem (ou mal, depende) situadas. Com aquele ar de menino fofo/charmoso e super provocador, Ali não aguenta (quem aguentaria?). Vai uma trinca?































Por um Portugal + Alegre!

The Burlesque

O filme começa com um exemplo clássico de musical: uma miúda da terrinha que ambiciona ser uma super-estrela na cidade grande. Ali (Christina Aguilera), qual Madonna com 34 dólares no bolso a dirigir-se ao centro nevrálgico de NY, parte para L.A. para realizar o seu sonho (mas sem ter necessidade de castrar ninguém). Lá depara-se com a durona Tess (Cher), que pelos efeitos da sua idade jurássica, pouco brilho faz emanar (chegando a parecer uma autentica drag queen), pelo ganancioso Marcus que ambiciona comprar o cabaret e… Ali e o gato Jack (Cam Gigandet), que dá bastante… entusiasmo ao filme.

Como seria de esperar o filme tem uma dose ligeira de camp (flirts lésbicos entre as bailarinas, o melhor amigo de Tess que se envolve com um DJ na festa de um casamento e um mal-entendido entre Ali e Jack para depois se descobrir que afinal – e para muita pena nossa – o rapaz é hetero) e existem ligeiras semelhanças com Moulin Rouge (amores impossíveis, poder, sexo e dinheiro, etc) e Chicago (notório no numero “But I’m a Good Girl”) mas sem a parte teatral até porque Aguilera, embora duzentas vezes melhor que Britney no famigerado “Crossroads” (2001), ainda tem algumas falhas e incapacidades (na expressão da emotividade: por exemplo, a relação com a mãe, mas que é extensível ao resto do filme: a tristeza forçada de Cher, a desistência e desaparecimento fácil de Marcus e o namoro leviano de Jack com Nicole), apesar das suas piadas (de roteiro, é claro) serem fatais (como aquela da «vaca de Iowa»).

Quanto à música, «Something’s got a hold on me» é a primeira e dispara em todas as direcções jazz no vozeirão de Aguilera que tanto faz lembrar Amy Winehouse; «Welcome to Burlesque» marca a vez de Cher e, apesar da sua imobilidade, é sensual e oportuno; «Tough Lover» é o número de estreia de Aguilera e tem uma componente leather bastante demarcada e é uma das cenas mais interessantes do filme pois quando tudo se espera que corra mal, afinal não corre assim tão mal (cliché); «But I’m Good Girl» segue a linha erótica/perversa, (pseudo) call girl/pip show, de «Diamond’s are the best girl’s friends» de Marylin Monroe e «Material Girl» de Madonna. Aguilera pisca o olho a Catherine Zeta-Jones; «Guy Take His Time» é uma indirecta para Jack; «Express» é o apogeu da atmosfera burlesca; «You haven’t seen the last of me» é Cher de novo. Soa a (demasiado) autobiográfico e sombrio (sem a tal emotividade); «Bound to you» é uma canção de amor, demasiado Aguilera, a paredes meias com uma cena de strip fantástica de Cam Gigandet que faz o público (hetero feminino e gays) suspirar, na melhor das hipóteses; «Show me how you Burlesque» é a canção final e tal como «Express», segue a linha “cabaretiniana” (e arriscaria dizer “bioniquiniana” também) com falas rápidas e muito swing.

Em suma: não sendo perfeito, é um filme óptimo de entretenimento.


sábado, 22 de janeiro de 2011

Os candidatos a capitão num barco sem leme

Amanhã é dia de eleições presidenciais. Bem, desnecessário será dizer que o acto de votar é um exercício basilar da nossa cidadania mas nunca é demais frisar cada vez mais visto que as taxas de abstenção alastram por toda a Europa e poderão traduzir três pressupostos: a) o aumento generalizado do anarquismo (o que não me parece, de facto, a real razão); b) o aumento da adesão às ideologias monárquicas, mais viável que a primeira mas por uma questão estratégica essas ideologias teriam que ser enquadradas num quadro político-partidário e sujeito a eleições democráticas (não é o caso) e c) a falsa ideia de que o acto de não votar (ou votar em branco) não interfere com as dinâmicas politicas já que quem está lá «não faz nada» ou «são todos iguais» /o mais provável).

É certo que as Presidenciais não são as legislativas. O acto de se votar para eleger um/a Presidente não tem a mesma conotação do que votar para eleger um partido para formar Governo. Ou não. O/a Presidente tem funções somente representativas, é certo, mas é mais do que o Cavaco refere: alguém sem poderes, neutral e asséptico. Basta pensarmos no poder de vetar e/ou promulgar. Mais: temos que pensar o/a Presidente num articulado com o poder do Governo em vigor e prever as consequências dessa articulação.

Os candidatos:

Cavaco Silva: Cavaco transpira poder e suspira por poder. É, sem rodeios, o Reagan da política portuguesa (e Manuela Ferreira Leite, a Tatcher). É pois o estereótipo perfeito de político neoliberal mas sem o ar e pose progressista, charmosa e urbana de Passos Coelho. Cavaco é medonhamente ruralista: trata as mulheres como “fadas do lar”, recolhe votos em terras do “Interior esquecido” sem esconder o seu ar cínico de tolerância, e utiliza termos/expressões “assalazariados/as” como “raça” ou o “nós” colectivo de índole nacionalista, querendo até criar um (saudosista?) Ministério do Mar.

O seu grande objectivo é transformar o Governo num dispositivo sem Governação, entregue ao FMI e a outras agências internacionais, reduzir ao máximo o Estado Social, privatizar a Escola Pública e cumprir o sonho articulado neoliberal português: Cavaco, PSD e mercados/instituições bancárias.

Manuel Alegre: é o único que teve (e tem) um discurso coerente: sempre defendeu o Estado Social, a Escola Pública, a democracia no seu sentido primário (antes de ser desvirtuado para as neoliberazações) os direitos civis (é conhecido o seu voto no - vergonhoso - dia 10 de Outubro de 2008, quebrando a disciplina de voto sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo) e, apesar de ter um discurso descontextualizado temporalmente (com demasiadas alusões ao 25 de Abril, o que não deixa de ser pertinente), é o político-poeta, não no seu sentido irónico (sendo, contudo, nesse sentido que os adversários lhe contestam), mas no seu sentido (pseudo) utópico. É pois o oposto de Cavaco. Pena alguns assuntos lhe causarem engulhos… E ao PS também.

Francisco Lopes: representa a ala mais ortodoxa do Partido Comunista e parece que absorveu aquele separatismo entre o Bloco e o PCP, que tanto envergonha a esquerda portuguesa (basta reparar no número de candidatos de esquerda para estas eleições). Sisudo, tem contudo um discurso bastante coerente e assertivo.

Fernando Nobre: é o típico político-surfista. Anda lá para ali meio perdido dizendo meia dúzia de coisas sem sentido, fazendo jus à sua experiência como filantropo (AMI) para conceder alguma credibilidade (às vezes forçada) ao seu discurso “à sopinha de massa”. Utiliza indiscriminadamente clichés políticos e nunca ninguém ouvir falar dele. Falta-lhe pulso, determinação e menção a políticas concretas. Conselho: refreie o seu discurso “anti-política” (paradoxo dos paradoxos) e volte para África que está lá melhor.

Defensor Moura: ex-autarca de Viana de Castelo, tem atitudes mais corajosas do que Nobre e a experiência são vários pontos a favor. Tirando as falhas logísticas para a campanha, não teve tabus com o tema da corrupção, e tem um espírito de esquerda bastante apurado (apela ao consumo de produtos nacionais e à regionalização). Contudo, é demasiado cínico, e entrou na campanha declaradamente para retirar votos a Alegre (a desvantagem das candidaturas independentes é essa: a incerteza de estratégias do tipo “escoamento” e “distração”). O nome também não ajuda.

Jorge Manuel Coelho: É o político-anedota. Nunca ninguém ouviu falar dele, usa e abusa de clichés bacocos e populistas da ala direitista (e desculpem-me os/as habitantes das ilhas) e, tal como os verdadeiros populistas, só sabem debruçar-se sobre as questões relativas às politicas dos costumes (aborto, gays, aborto, gays, aborto, gays, …). Tal como Jardim ou Berlusconi, só lhe cheira a poder (e a cervejas, corrupção e gajas boas e novas para exercer bem o seu cargo de… moralista).

Porque estou farto de tocar Cavaquinho, desta Nobre indecência democrática e porque sou um Defensor da democracia, amanhã quero um Portugal mais Alegre. Sem segundas voltas, matando dois Coelho de uma cajada só.

P.S. Porque raios é que o nome de Francisco Lopes é tão sem graça?

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Bedük - Better than my baby (2007)

Ando viciado nesta música graças ao meu best. Surpresas das surpresas: o gajo que a canta é turco, nasceu em Ankara, cidade que vou visitar em Março. Bem, vou treinar o playback do «Guetta euro-asiático» para fazer boas figuras em "terrenos otomanos".

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Minha rica filhinha


Em primeiro lugar é o facto de isto ser notícia. Em segundo lugar, Lyonce?! Sou apologista de que as pessoas possam dar (legalmente) qualquer tipo de nome aos seus filhos e filhas (os critérios depois pertencem à esfera pessoal) mas... Lyonce? Lyonce quê? Knowles? É o que dá a "africanitude" do Djalo e a "etnicidade" azeiteirolas da moçoila das "fadinhas".

Se os/as filhos/as pudessem processar os pais (mães, ...) pelo nome que lhes é dado, Luciana Abreu seria condenada à prisão perpétua.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Esclarecendo a "tradição"


Numa converseta (ok!), numa discussão acalorada com opositores político-ideológicos no facebook, sujeito x argumentava comigo na defesa da ideia de uma tradição.
A esclarecer: para sujeito x (que defendia uma posição típica da direita conservadora [PNR]), existiram, há algum tempo (sujeito x não situa historicamente), três tipos de blocos políticos: o socialismo, o comunismo e (pasme-se) o tradicionalismo, sendo que sujeito x defendia este último.

Percebi posteriormente que sujeito x nutria um ódio imenso ao comunismo e, mais resguardado, ao socialismo. Percebi também que o tradicionalismo que sujeito x defendia (aliás, estava a debater com um conceito “estranho” para mim ou, no mínimo, poderia despoletar um certo desfasamento conceptual porque o que é “tradição” para mim, pode não ser para sujeito x e vice-versa) se referia às tradições senso comunizadas: touradas, subordinação das mulheres, casamento entre pessoas de sexo diferente, isto é, o tradicionalismo de direita conservadora ligados às políticas dos costumes. Percebi ainda que sujeito x culpava o comunismo pela perda desse tradicionalismo.

Ora, comecei a minha argumentação precisamente pela contradição desta última premissa (e relembrando as aulas de “intervenção comunitária e desenvolvimento local” com o professor João Caramelo): o comunismo é também defensor da tradição. É um absurdo dizer que o comunismo é o responsável pela perda do tradicionalismo.

A explicitar (e falando de sociedades ocidentais): as tradições seculares, fortemente influenciadas pelo pensamento judaico-cristão, ergueram-se e mantiveram-se, da época pós-clássica, atravessando a época medieval (alta e baixa) até à pré-modernidade, graças à promiscuidade entre mecanismos jurídico-legais, defesa de uma ideia de moral religiosa e ordenamento estatal - republicano ou monárquico -, isto é, uma lei de um estado era uma lei religiosa; uma lei maioritária, que obedecia a princípios normativos universais (ou pretendia faze-lo), era uma lei inquestionável e absoluta. Estávamos no plano das grandes narrativas.

A Revolução Francesa (sec. XIX) põe em causa, embora lentamente, estas formulações, a partir do momento em que a mundialização e a industrialização se tornam modelos hegemónicos e a revolução dos transportes, expandindo as redes de comunicação, contribui para todo este processo.

Os ideais revolucionários espalham-se por toda a Europa, projectando (é verdade) a luta operária (fortemente rural e reaccionária) e os movimentos de emancipação (como o feminismo e o republicanismo, suportado pela ideia progressista da laicização do Estado).

A tradição - ou certa ideia de tradição - (assumindo que tradição se prende com ideais-tipo morais/religiosos católicos) é desfragmentada por processos de deslocação no sistema-mundo, pelo veiculo de novos ideais e mentalidades que, hoje em dia, (com o avanço das novas tecnologias – computador, internet, redes sociais, etc - e da dita “sociedade do conhecimento”), estão absolutamente intensificadas. Esses processos estão ligados ao comunismo? Não! Esses processos estão ligados à globalização como processo estratégico de expansão do capitalismo desorganizado, que por sua vez estão ligados a políticas neoliberais de direita.

Assim, a globalização desfragmentou identidades e sistemas sócio-culturais, em parte, devido às lógicas de mercado (marketing, diversidade de produtos, incremento da competitividade, monopólio cultural, etc).

Um exemplo típico é o do MacDonald’s: tem um prato típico de várias partes diferentes do mundo. Em certa medida, houve uma apropriação de determinados elementos culturais (como a alimentação), de diferentes culturas, em detrimento do lucro desenfreado. Essa apropriação desenraizou os elementos culturais da cultura de “origem” (ou cultura-tipo), isto é, rompeu com os cânones da tradição.

Parece evidente pois que a ruptura com a tradição relaciona-se directamente com a direita neoliberal. Porque é que não se relaciona com o comunismo? Precisamente porque o comunismo é, na sua origem ideológica, anti-capitalista e anti-globalização. Determinadas formas de comunismo são até muito radicais na defesa de determinada ideia de tradição, por exemplo, no que toca à regionalização e concessão de soberania ao poder local (desvinculando-o de um poder supra-unitário como o poder central/estatal). Estas medidas são ideais fortemente de esquerda porque contrariam lógicas hierárquicas de tipo top down e um (certo tipo de) desenvolvimento hegemónico global that happens to be o capitalismo. Razão pela qual PNR e BE (partidos, à partida, “opostos” ideologicamente), ambos, defendem o comércio tradicional (embora com motivações diferentes).

De facto sujeito x esta errado quando responsabiliza o comunismo com rupturas com a “tradição” e quando retira o papel da direita (há muitas direitas!) dessa ruptura. Parece-me que sujeito x foi levado pela sua onda anti-comunista (e pró-fascista) ao extremo num ataque irracional desproporcionado (“no comunismo é tudo de mau”) nem que para isso tenha que insurgir em mil e uma falácias. Espero que atitudes como a de sujeito x não resistam (lá está) à tradição…

Frase da Semana


‎«Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos que nos levam aos mesmos lugares. É o tempo da travessia, e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos».

Fernando Pessoa

Admitido

E é verdade: fui admitido no programa CHALID! Turquia, aqui vou eu!

Estatísticas natchinianas

Descobri que o «blogger» tem uma funcionalidade chamada «estatísticas» em que se pode ver tintim por tintim todos os detalhes de visualizações e estou deslumbrado. Curiosidade: a maior parte dos/as meus/minhas visitantes são... brasileiros/as. Que giro!

Obrigado e força por causa desse enorme pesadelo que o Brasil atravessa.

domingo, 16 de janeiro de 2011

O feitiço contra o feiticeiro


Cartazes xenófobos estão a passar no Luxemburgo e as vítimas são… portugueses/as. Afinal os/as portugueses/as podem também ser vítimas de xenofobia, e esta hein PNR? Atenção: isto não deve ser lido como uma forma de colocar dois grupos étnicos em confronto mas reflectir sobre as injustiças sociais em detrimento da nacionalidade, etnia, etc. As políticas conservadoras multiplicam-se um pouco por toda a Europa e as boas notícias vem… do Norte de África! Há coisas fantásticas não há? Contudo, gostava de saber a opinião dos/as portugueses/as de extrema-direita sobre esta atitude política dos seus e suas congéneres políticos húngaros/as... LOOL

O PSD e as liberdades convenientes


Desde da lei da blasfémia irlandesa que não me ria tanto, e espero que rir seja permitido… Ora, não vou discutir conceitos tão relativos como “interesse público” ou de inspiração religioso-fascista como “moral”. Admira-me sim que o país que, recentemente, tenha assumido a presidência rotativa da EU, tenha este tipo de leis anti-democráticas, inquisitórias e de índole fascizante. Que a comunicação social jogue muitas vezes o jogo do populismo conservador e das relações de lobbying, compreendo e não aceito mas limitar as liberdades de informação/expressão é atroz.

Mais: as instituições censuradas devem, em certos casos, dizer quais são as suas fontes. É legítimo, no sentido em que se trata do rigor e ética jornalística mas ilegítimo porque se trata de uma conveniência para uma censura inadiável (“se não agradar a fonte, censura-se”). Medo dos wikileaks deste mundo? Concerteza! Impossibilidade política nas sociedades do conhecimento de aplicar a lei? Ah pois, pensavam que a globalização poderia parar os fenómenos censuradores? No way. Eles estão aí…

O curioso nesta questão toda é que o PSD vetou uma crítica bloquista à lei da censura húngara, levando até o Francisco Louça a escrever no seu facebook. Curioso porque se trata do PSD que, há uns tempos, queixava-se da “censura socrática”. Ou as liberdades são dimensões defensáveis só quando nos cheira?

sábado, 15 de janeiro de 2011

Tragédia no Brasil



Há três coisas que não posso assistir na TV: idosos mal-tratados, crianças vítimas de violência doméstica e animais em risco/mal-tratados. É por isso que este video faz-me uma certa confusão...

Dilma, all world is watching!

A entrada do FMI e os cãezinhos de Pavlov


Relativamente à entrada do FMI em Portugal, Santos Silva diz que a direita “saliva” pela intervenção do mesmo no nosso país. Ora bem, eu acho que a direita não só saliva por isso mas pelo próximo passo: as eleições. Alegre refere que os/as funcionários públicos/as vão sofrer as consequências. Oh yeah camarada.

A propósito desta questão, um pedacinho do meu trabalho de «Análises Politicas Educativas e Sociais», sobre a educação e o Banco Mundial mas poderia ser sobre as intervenções inusitadas das agências de rating internacionais/externas (como o FMI) que visam “reparar” aquilo que elas causaram: a crise mas no seu núcleo duro, isto é, a correcção do curso dos mercados e não os efeitos colaterais, esses sim graves: o desemprego, o aumento dos impostos, o corte nas prestações sociais, etc:


«(…) Correia (2000) demonstra como a ideologia democrática se imiscua com a ideologia da modernização durante este período [anos 80] e que a inquestionabilidade desse modelo «(…) tem a sua matriz ideológica no conceito de evolucionismo linear, conceito que, subsidiário do carácter cientificizante e etnocêntrico do saber ocidental que procura estabelecer regras gerais para casos particulares, atribui ao sistema social português, dada a sua condição histórica se¬miperiférica, um estádio intermédio, inacabado que só atingirá completude quando alcançar condição de país do centro (…)» (Teodoro & Aníbal, 2007: 19), referem Teodoro & Aníbal, recordando Magalhães (1998).

Assim, relativamente à presença do Banco Mundial na política educacional portuguesa após 1976 e que «(…) propõe como principal medida de reforma educativa a criação e lançamento de um ensino superior de curta duração voltado para a formação de quadros qualificados de nível intermédio (…)» (Teodoro, 2003: 48), constata a intrumentalização e funcionalismo da educação no que toca ao capital humano (estritamente ligado à noção de “vida activa”). Não é por acaso que «(…) as questões relativas aos recursos humanos assumem uma centralidade progressiva no processo de integração europeia, dado o papel que lhes é atribuído na competitividade da economia da União Europeia, preocupação crescentemente obsessiva; nesse sentido, a política delineada pelas instâncias comunitárias nos domínios da educação e formação é dominantemente inspirada, e mesmo colonizada, por orientações vistas como imperativas, que decorrem das prioridades ou necessidades percepcionadas com origem na economia» (Antunes, 2005: 127).


Referências bibliográficas:

ANTUNES, Fátima M. (2005) “Globalização e europeização das políticas educativas: Percursos, processos e metamorfoses”, In Sociologia, Problemas e Práticas, n.º 47, pp. 125 – 143.

MAGALHÃES, António (1998) A escola na transição pós-moderna. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional.

TEODORO, António (2003) “O Banco Mundial e a normalização da política educacional”, In Globalização e Educação – políticas educacionais e novos modos de governação. Porto: Edições Afrontamento, pp. 45 – 48.