terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Playlist de Janeiro

1. Kanye West – Monster (ft. Nicki Nihaj)



Kanye West parece ter apostado em se tornar na versão masculina e negra de GaGa (e não é só o título da canção que o indica!). Essa estratégia traduz-se numa preocupação estética, conceptual e “vanguardista” para a sua música (a black music deixa de ser um turbilhão homogéneo de calão e sexismo), numa constante reinvenção de sonoridades (ele é auto-tune, ele é samples de música clássica) e na elaboração precisa e estratégica de um universo muito próprio, seguindo a cartilha do Rei Jackson mas de teor mais adulto.

Em «My Beautiful Dark Twisted Fantasy» (o nome é sugestivo!), Kanye, mais do recorrer à psicanálise freudiana, recruta uma séries de grandes nomes do pop mundial (de veterana Alicia Keys ao impensável Elton John passando pela vistosa Fergie ou a menina-do-momento, Rihanna) que relega para segundo plano com desdém e petulância de rapper.

«Monster», terceira amostra desta fantasia distorcida, bonita e negra, é um poço de desejos: samples de Bon Iver nas partes periféricas para conceder um pouco de misticismo à coisa, exercício irónico com o lirismo da canção e excentricidade “gagática” (e obscura) na imagética do clipe. Monstros sagrados da black music (o mago Jaz-Z e a novata mas igualmente polémica Nicki Minaj) dão uma ajuda.

Rui Miguel Abreu, na BLITZ, refere: «Como Elvis, Kanye também há muito que abandonou o edifício do rap (…) tal como o conhecíamos até aqui». E a gente concorda!

2. Christina Aguilera – But I’m a Good Girl



Todas as canções de «Burlesque» são canções perfeitamente encaixáveis no protótipo musical/cabaret mas «I’m a Good Girl», embora um cliché declarado e da aproximação nua e crua a Catherine Zeta-Jones de «Chicago», é um bom momento pop, não só na nudez de Aguilera mas na perversidade da letra por isso nada como perder umas boas horas a treinar o playback e os movimentos teatrais.

3. Hercules & Love Affair – My House



Passaram-se três anos desde que Hercules & Love Affair se estrearam nas lides musicais com um álbum homónimo e dois desde que incendiaram a Casa da Música. As coqueluches da altura eram a explosiva Kim Foxman e a exótica e exuberantemente sexy transexual Nomi. A Europa recorda-se da avassaladora e melancólica/house (e único hit realmente marcante) «Blind» na voz de Anthony e talvez seja esse o seu grande ex-libris. Às portas do novo (e sempre difícil) segundo álbum, intitulado «Blue Songs», H&LA lançam «My House». A canção é uma exercício de semi-experimentalismo que contraria o êxito dance-pop de «Blind» mas é fiel ao seguimento disco/eighties que H&LA nunca esconderam de traçar. Isso é notório (bastante aliás) no clipe, produzido em VHS e com direito até a intervalo e publicidade, marcado pelo carácter inacabado e sujo e onde o house rasca de fim de década 80 marca presença. Dois elementos em oposição, a jogar a favor e contra: demasiado experimental e, simultaneamente, fiel à onda eighties com o recrutamento, habitual arriscaria, de grandes nomes (i.e., Kele Orekeke, ex-vocalista dos Bloc Party). As coqueluches recrutadas são Shaun Wright e a venezuelana cantora Aerea Negrot. Esperamos ser convidados/as para a casa deles/as para termos a certeza de que a expectativa não dá lugar à desilusão…

4. Scissor Sisters – Invisible light



Muito foi dito sobre Scissor Sisters e o álbum «Night Work» (Bono Vox considera-os a melhor banda pop do mundo, o facebook censura-lhes a capa), a verdade é que «Night Work» é simplesmente uma obra-prima: junta o drama «Dexter» numa darkroom gay, o glam declarado de Minogue com a sedução requintada de Matronic, o pop rosa florescente e a “sombriedade” leather do disco.

«Invisible Light» (já falada na playlist de Maio de 2010 e agora com clipe) é o centro nevrálgico de «Night Work»: invoca a dança sobre os trejeitos obscuros e tem um clipe onde se confundem estilos musicais e artísticos diversos: psicanálise freudiana com surrealismo, simbolismo com feitiçaria, erotismo leather com Hitchcock. Até Ian McKellen dá o ar da sua graça com a recitação de um poema. Confirma-se: Scissor Sisters, senhores/as da pop 2011!

5. Cut Copy – Take Me Over



Cut Copy regressam mas não mudam de fórmula: synth pop voltada para a disco. «Take me Over» segue as pisadas da fórmula, tim a tim. Não é mau mas não se pode dizer que é original. Contudo, em Março, tira-se a prova dos 9.

6. Duffy – Lovestruck



Poucas coisas realmente me surpreendem, muito menos a minúscula loira com voz de Golias, Duffy. Porque? Sempre achei uma cópia (re) trabalhada de Amy Winehouse, empurrada aos trambolhões da onda soul sixties jazzy que embateu sobre o mundo em 2007. Não sou grande fã do estilo, é certo, mas não desgosto. Contudo, Duffy, no seu segundo registo, fez-me mudar de opinião.

«Endlessly»(2010) de Duffy é uma caixinha de surpresas: do enjoativo «Well, well, well» ao oriental «Keeping My Baby», do natalício «Breath Away» ao romântico «Hard for The Heart», Duffy prova que é moça versátil. «Lovestruck» revela o seu lado mais felino. Duffy Fatale!

7. Take That – The Flood



O mundo mudou imenso desde da onda avassaladora das boys e girlsband que marcou a ferro e fogo a pop dos anos 90. Backstreet Boys e Spice Girls dão voltas na tumba. Contudo, Robbie Williams parece estar descontente com esse (evidente) desfecho: reúne os colegas de colégio e elabora um videoclipe auto-sarcástico que ironiza, quer a idade, quer o iminente mau resultado da canção. Robbie enganou-se: «The Flood» é uma boa canção pop. Imaculada, inteligente e certeira, o que convêm. Isto tudo claro, sobre a supervisão perspicaz de Stuart Prince (Madonna, The Killers, New Order, etc).

8. Britney Spears - Hold it against me



Nada fazia prever que miss Britney Spears lançasse agora um bebé pop, a não ser (mais do que óbvio) a iminência de um mega hino pop nas mãos de GaGa (“Born This Way”) que ameaçaria o estrelato, já em banho-maria, da ex-virgem de Kentuchy. De facto, ao contrário da burlesca Aguilera, GaGa é uma rival de peso (apesar de ambas pesarem pouco menos de 50kg). Á primeira audição, «Hold it Against Me» é uma canção foleira, óptima para se ouvir nas corridas de carrinhos de choque por gente de pouca confiança (ou como se diz: “cunfia”) mas (e tirando o lirismo patético, banal e “maisdomesmo” da canção), a originalidade da sonoridade é de louvar: dubstep. O The Guardian refere que «(…) depois de Hold It Against Me, espere Madonna se jogar no dubstep até o fim do ano!». Não me parece, até porque Madonna já andou a navegar por essas áreas (“Bedtime Stories”, “Music”) mas, de facto, Britney Spears parece ter uma arma fatal contra GaGa (onde se espera que a fórmula “electro-pop + rnb” seja usada em força). Nem que lhe custe acusações de plágio…

9. Serge Devant ft. Emma Hewitt - Take me with you



Após a impulsivamente erótica «Addicted», é a vez de «Take me with you» fazer alguns estragos na pista. That’s only house and we like it.

10. Ricky Martin - The Best (ft. Joss Stone)



Desde que assumiu a sua homossexualidade, Ricky Martin tem apostado na exploração das temáticas sobre igualdade, tolerância, etc (o clipe é prova viva!). Neste (improvável) dueto com Joss Stone inventa o reggae latino (esqueçamos os devaneios da «Loca» de Shakira) e digam o que disserem, os quarenta dão-lhe charme. Ricky, alicia-me!

11. Taio Cruz - Higher (ft. Kylie Minogue)



Kylie parece determinada a entrar no universo «euro-hop» criado por Guetta e alia-se a Taio Cruz. Tirando o ardil machista do clipe, a promoção gratuita aos BMW's e as leves semelhanças com «Music» de Madonna, só o charme de Kylie, directamente proporcional à idade, é que a eleva... mais alto! Taio, clone de Usher, fica em terra... Aviso: a canção vicia!

12. Jamie Lewis ft. Kim Cooper – 1001 (Mix)



Os senhores (e senhora) de «So Sexy» e «Mo'Butter» estão aí com «1001», uma amálgama house onde os ritmos árabes e a black music andam aos beijinhos. Conclusão: o meu som do momento!

Outras canções que andaram a fazer comichão no meu mp3:


• Stromae - Alors dance
• Uffie - Pop the glock
• Aurea - Busy (for me)
• Maroon Five - Give a little more
• Lykkie Li – Get some
• Louie Austen – You, only you
• Placebo - One of a kind
• Bedük – Better than my baby
• Gaga – Born this way (Mugler Remix)
• Pink – Fuckin Perfect

Sem comentários: