terça-feira, 22 de julho de 2008

D. Afonso Henrique Monteiro


"Antes que venha a ILGA, ou outro qualquer lóbi "gay", acusar-me da costumeira homofobia ou coisas do estilo, permitam-me que diga o seguinte: sou, no geral, contra qualquer discriminação, nomeadamente contra a discriminação de homossexuais."


Fico agradecido que se lembre que existe uma ILGA. Fico agradecido também que reconheça a contra-argumentação. Astuto! Não compreendo no entanto porque é que o discurso de alguém que não é homofóbico (ou que pelo menos pensa que não é) usa constantemente a terminologia "lóbi", com sentido claramente pejorativo para designar grupos defensores das minorias. Como se os grupos defensores das minorias tivessem descendência alienígena, fossem dignos das pesquisas exautivas de Fox Mulder ou de uma desinfestação dos Men In Black (Black? Fugiu-me a boca para a minoria). Talvez seja uma estratégia da direita conservadora denominar negativamente de "lóbi" tudo que ouse contradizer a norma vingente no pedestal da sua máxima autoridade absolutista (Note-se que eu nem recorri do cliché de esquerda ao chamar de Henrique Monteiro de fascista porque nas suas palavras ele até é contra as discriminações de homossexuais. No GERAL entende-se. Paneleiros paneleiros vamos lá ter calma!). Continuando, Henrique Monteiro deve certamente esquecer-se das MAIORIAS nossas bem conhecidas como a Igreja Católica e a mentalidade judaica-cristã que daí advém ou MacDonalds (este último perigosíssimo inimigo dos homossexuais), que tal como Henrique Monteiro não são homofóbicos. Este, por sua vez, esquece também os jornalistas que trabalham na sua redacção que também não são homossexuais e, que possivelmente, não querem dar o nó. Eu queria. Dar o nó no pescoço do Senhor Henrique. Já que não há pachorra para nós no cérebro.

"Isto passa por defender, como absolutamente legítimo e inquestionável, a possibilidade de os casais homossexuais terem mais ou menos o mesmos direitos do que os outros casais. E digo mais ou menos porque há um direito que eu sei que eles não devem ter: o de adoptar crianças. Reparem que eu jamais direi que um casal homossexual, só por o ser, não sabe tratar crianças com amor e com todos os requisitos de que elas necessitam. Mais: defendo - e defendi, numa crónica neste jornal quando a questão concreta se pôs - que um tribunal não pode tirar um filho ao seu pai ou mãe natural baseado no facto de ele (ou ela) ser homossexual."


Vamos lá ver: ou tem todos os direitos ou não tem nenhum. Em que ficamos? "Todos" não são alguns. "Todos" são todos! Faz-me lembrar a velha História do: "Defendo absolutamente os direitos dos negros. Só que não defendo o acesso destes ao ensino. Não defendo as uniões inter-raciais. Não defendo profissões inclusivas para este grupo racial. Hum, pensando melhor defendo apenas o direito de estes existirem". Que é como quem diz, o direito de estes não levarem um balázio na testa sob pena de se sentirem tão iguais aos brancos.

"Apenas digo que o Estado, ou quem guarda as crianças a adoptar, não deve discriminar nenhuma delas entregando-a a um casal que não está dentro da norma (no sentido em que a norma, encarada do ponto de vista meramente estatístico, é o casal heterossexual). Aliás, quando o primeiro-ministro, criticando Manuela Ferreira Leite, considerou 'pré-moderno' afirmar que o casamento se destina à procriação, eu permito-me discordar. Não é pré-moderno, é da condição humana."


Um casal fértil (em que ambos os parceiros são fertéis) que decide adoptar, a nível estatístico, não está dentro da norma. Portanto não deve adoptar, certo? Henrique Monteiro prossegue dando relevo à condição humana. Entenda-se, condição biológica. Eu ia jurar que a capacidade de amar um filho não era meramente biológica ou humana se quiser. Capacidade essa que todos os casais homossexuais, como Henrique Monteiro afirmou posteriormente e muito bem, predispõem. Depois li a crónica do Henrique e fiquei a saber que a capacidade de amar é meramente biológica. Razão pela qual casais infertéis não amam ninguém. Ou noutra perspectiva, pais adoptivos não amam os seus filhos adoptados. Tradução: os laços de sangue sobrepõem-se ao amor por filiação. Agora compreendo aquelas mães que assassinam os seus filhos biológicos.

"Todos nós ao cimo da terra somos filhos de um pai e de uma mãe e não de dois pais ou de duas mães. O Estado pode legislar contra este facto da natureza, mas é arrogante pensar que pode alterá-lo na sua essência."


Até os homossexuais. Mas estamos a falar de adopção ou de gravidez biológica? Vou fazer um desenho: Papa + Mama = Filho biológico; Papa + Papa = Filho adoptado; Mama + Mama = Filho adoptado. Eu sou péssimo a desenho mas espero que o Henrique perceba. A questão mantém-se: Nature vs. Nurture. Quem dá mais?

"De resto, a discriminação que sofreria uma criança entregue a um casal homossexual é, a meu ver, muito mais condenável do que não chamar 'casamento' à união que consagra os direitos de dois homossexuais."


Com pessoas como o Henrique percebe-se logo o porque. As crianças que sofreram por terem dois pais divorciados nunca mais foram a mesmas depois disso. O Mário do Big Brother, que nasceu numa familía completamente funcional de classe alta (?), que o diga. Mas é claro que o divórcio ainda continua a ser algo muito raro.

"Acrescentaria, ainda, que uma lei de coabitação bem feita poderá perfeitamente servir. Com a vantagem de o Estado não necessitar de saber quem é homossexual e quem apenas vive junto por necessidade económica, amizade pura ou outro qualquer aspecto que só ao próprio diz respeito."


Semelhanças com o "uma coisa é o casamento, outra é outra coisa qualquer" de MFL ou o contubérnio entre escravos é pura coincidência.

"Resolver problemas na prática é a finalidade da política. Se permitir todos os direitos menos o da adopção (como parece ser a disposição do PS e do PSD), não se pode chamar a essa junção 'casamento', como pretendem certos políticos convencidos da sua modernidade. A insistência no nome apenas revela a agenda escondida, ou seja, a adopção de crianças por homossexuais. E isso seria de uma estupidez imperdoável."


Essa é o medo de morte da direita. Já percebemos todo o truque. Casamento e adopção. Nem mais nem menos! O perigo para as crianças sempre esteve em cabeças como o senhor. O velho argumento da direita: "Quem está em causa não são os direitos dos homossexuais, são os direitos das crianças!" Mas Henrique Monteiro, cá entre nós, reconheça: mais tarde ou mais cedo vamos casar e adoptar crianças, levando-as para uma nave especial nos confins de Plutão para aderirem em peso ao poderoso "lóbi" e depois acontece como a Dinamarca em 1989 que teve o desplante de legalizar a união civil homossexual (ou something like that) e cujo taxas de natalidade desceram a pique. Confirma-se: Henrique Monteiro é tão liberal como Manuela Ferreira Leite. Como dizia Fernanda Câncio "há que se chamar os bois pelo nome": HOMOFÓBICO!

P.S. A Resposta de Ana Matos Pires ao Senhor Verdade Absoluta! Clique aqui.

1 comentário:

João Roque disse...

Magnifico texto com um final poderoso, mesmo com a "ajuda" sempre preciosa da notável Fernanda Câncio.
Parabéns!