quarta-feira, 2 de julho de 2008

Mulher ao volante


Declarações de Manuela Ferreira Leite em relação ao casamento homossexual proferidas na sua primeira entrevista à TVI desde que tomou posse do PSD (13/05/08):


"Eu não sou suficientemente retrógada para ser contra as ligações homossexuais. Aceito. São opções de cada um, é um problema de liberdade individual, sobre a qual não me pronuncio (...)"

Dois conceitos que vindos de Manuela Ferreira Leite tornam-se incompreensíveis: "suficientemente" e "retrógada"; juntos tornam-se explosivos. Eu explico porquê. Será que ela desconhece o teor quantitativo da palavra "suficientemente" ou o significado exacto da palavra "retrógada"? É que um anula o outro, ou pelo menos confere-lhe outro significado. Depois chama às ligações homossexuais "um problema de liberdade individual". Entre problema e outra coisas já ouvi termos piores.


"Pronuncio-me, sim, sobre o tentar atribuir o mesmo estatuto àquilo que é uma relação de duas pessoas do mesmo sexo igualmente ao estatuto de pessoas de sexo diferente (...)"


Em democracia é como quem diz: uns são superiores aos outros, neste caso, os heterossexuais são superiores aos homossexuais. Façamos um paralelismo: Os brancos são superiores aos negros. Os homens são superiores às mulheres. Razão pela qual há um século atrás as mulheres não podiam nem sequer sonhar em votar quanto mais ser líder de partidos políticos...


"Admito que esteja a fazer uma discriminação porque é uma situação que não é igual."


E admite bem. Não é uma situação que não é igual. Aliás, nós exigimos também o casamento entre animais (refiro-me ao casamento formal porque o casamento para inglês ver já se faz há muito tempo! E estamos a falar de animais, não pessoas porque aliás, os homossexuais não são pessoas! Shame on you...) e o casamento polígamo. Nada de casamento como se entende o casamento heterossexual (porque aliás, ter o mesmo nome é obra do capeta!)

"A sociedade está organizada e tem determinado tipo de privilégios, tem determinado tipo de regalias e de medidas fiscais no sentido de promover a família (...) no sentido de que a família tem por objectivo a procriação"


Privilégios esses que só dizem respeito a um determinado tipo de pessoas: aqueles que reproduzem. Mas como será que explicamos à Manuela Ferreira Leite que há heterossexuais que NÃO QUEREM ter filhos, heterossexuais que NÃO PODEM ter filhos? Como explicar à Manuela Ferreira Leite que as pessoas casam, na maioria das vezes, porque amam o seu parceiro independentemente do projecto de vida ter como objectivo a utilização dos espermatozoídes ou dos óvulos? Como explicar à Manuela Ferreira Leite que os casais compostos por um membro do sexo masculino com andropausa e um membro do sexo feminino com menopausa NÃO CONSEGUEM REPRODUZIR e mesmo assim dão o nó? Como explicar-lhe que o conceito de família é um conceito mútavel, fruto da mudança social ou será que ela nunca ouviu falar em famílias monoparentais? Como explicar-lhe que a adopção de crianças por parte de homossexuais pode resolver o pequenino (e suposto) handicap da reprodução? A sociedade tem determinado tipo de regalias e de medidas fiscais no sentido de promover a família. Certo. E valores como a IGUALDADE? Não? Há uns que casam e outros que não. Há uns que pagam impostos e outros... que pagam impostos.


"Chame-lhe o que quiser, não lhe chame é o mesmo nome. Uma coisa é o casamento, outra é outra coisa qualquer"


O problema da nomenclatura já não é novo. A simbologia da linguagem faz todo sentido: que tal chamarmos ao casamento homossexual de casamento panasca? Casamento panilas? Casamento roto? Ok, um menos forte: união civil? Uns casam (uau!) os outros tem... tem... uma união civil? Se isto não é hierarquizar e segregar eu sou a Carmen Miranda! Se isto fosse sobre o direito de voto da mulher era algo do género: "Chame-lhe o que quiser, não lhe chame é o mesmo nome. Uma coisa é o voto, outra é outra coisa qualquer". Tipo que? Presidência do PSD? Cidade maravilhosa cheia de encantos mil...

Manuela Ferreira Leite não é suficientemente retrógada. É muito mais do que isso.

4 comentários:

TUSB disse...

Espantosamente posto, bravo... tenho pena um movimento como a Opus gay achar que AQUILO que ela disse é progresso... devem estar malucos...

Paulo Afonso disse...

"Eu não sou suficientemente retrogada, porque se o fosse seria presidente do Partido Nacional Renovador, apesar das minhas ideias quanto a essa questão estarem próximas de um partido neo-nazi!" - Manuela Ferreira Leite

Ainda dão crédito a essa gente... Ainda falam mal do primeiro ministro que temos! Haja vergonha em Portugal. Movimentos Gay em Portugal? Isso existe? Ou existe sim uma comissão de festas gay, que se permite organizar e chular aos gays deste país uns trocos com a venda de bebidas e bilhetes para essas festas? Eu sou pelos direitos dos homossexuais, mas sou também por melhores organizações...

Pony disse...

Parabéns menino Natcho. Eu não diria melhor. Como membro que sou desta minoria colorida, não quero casar, juntar de facto, unir civilmente ou fazer qualquer outro contrato com a pessoa com quem vivo. Mas há-que ter a opção de o fazer, tal como as mulheres que optam por não votar ou votar. Mas sabes, já desisti de Portugal há muito. Se um dia for velhinho e decidir dar o nó vou ali a Tui e a coisa resolve-se. Ah, ok, mas nessa altura Portugal será apenas uma retrógada província espanhola...

Mnema disse...

Concordo plenamente com o que "The Unfurry Swear Bear" disse.

Como é que a Opus Gay é capaz de dizer que o que aquela "mulherzinha" disse é progresso!?! Chocada.