quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Madonna Grudenta

Eu fui ao concerto da Madonna. Esta frase muito "Rock in Rio" é a deixa exacta para uma crítica feroz. Calma! O caso não é para tanto (ou não!). Parece que Madonna optou por fazer da sua tão proclamada "Sticky & Sweet Tour" uma cópia do seu mais recente disco "Hard Candy", que é como quem diz, de 0 a 10 daríamos um 5. 5 redondinho. 50%. Metade, fifty-fifty. Tal e qual meio-século. Para quem jurou que Madonna ia bater as botas enganou-se, lá está, redondamente. Para quem julgou que ela ia ultrapassar recordes vindouros enganou-se novamente. Há quem jurasse ter visto as olheiras da Rainha da Pop. Veneno? We don't know... Sabemos sim que o antecessor daquilo que foi considerado o melhor espectáculo do mundo (falamos pois da "Confessions Tour"), afinal é um embuste que deixa muito a desejar. Não sendo mau, não chega a ser bom.

Para começar Madonna optou por "Candy Shop", selecção pioneira no cardápio; tema perfeito para desafiar a multidão numa noite amena de Setembro. Ou devo dizer, uma multidão amena numa noite de Setembro? Após a entrada triunfal (num palco rudimentar) que só os grandes mitos merecem, segue-se "Beat Goes On" com direito a Roll-Royce e a vídeos de Kanye West e Pharell. Genial? Não, previsível! O palco, com dois "M's" colossais de lado tornavam o palco mais pequeno que o anão mais pequeno da Branca de Neve. Exagero, eu sei. "Human Nature" à guitarra acompanhado com um vídeo de Britney Spears (no mínimo apropriado à mal fadada princesa da pop. Ou devo dizer ex-princesa?) deixa claro a intenção da diva: atrair as multidões da nova geração pop. A multidão só espevita com a clássica "Vogue" samplada com o hit "4 Minutes". Os bailarinos dão o ar da sua graça num palco giratório, imagética anos 20 (cabelo à Coco Chanel) e feixes de luz. Tal proeza rendeu a Madonna o título de copiona visto que esta performance faz lembrar a sua rival, Kylie Minogue numa exibição de 2002 em que esta presta homenagem a Madonna com um cover de Vogue. Mariquices. Um vídeo belíssimo mostra uma Madonna lutadora ("I guess i'll die another day" exclama em tom de ironia) e o primeiro bloco de um show non-stop dá-se por encerrado. O segundo inicia-se com uma versão rock interessante da velhinha "Borderline". Uma Madonna adolescente montada num carrinho e roçando num varão (Dj Inferno dá as cartas) junta miúdos e graúdos para a pista para depois supreender com a sua invejável boa-forma ao saltar cordas na lindíssima "Into The Groove". "Music" induz ao vómito mas não colectivamente, há quem pulasse de júbilo. "Heartbeat" surge sem sal e "She's Not Me" mostra uma Madonna irónica a lutar contra as personagens e estilos que ela patrocinou no passado. "Here Comes The Rain" dos Eurithmics surge num vídeo duvidoso. O terceiro bloco traz-nos a balada do álbum "Devil wouldn't recognize you" em tom de lamento (note-se a roupagem pseudo-gótica da diva debruçada num piano), a espantosa "Miles Away" eleva a parada e acorda os portugueses, "La Isla Bonita/Lela Pala Tute" poderia ser o responsável do aumento na compra de anti-depressivos ou algodão para os ouvidos (versão já muito explorada). Madonna, por favor! "-Hablas espanhol?" - Pergunta Madonna. "Spanish Lesson" torna-se mais enfadonha do que uma missa de domingo em Reguengos de Monsaraz e Madonna fecha com uma inusitada canção romena e a balada premiada "You Must Love Me". Terceiro bloco para esquecer. Um vídeo-alerta sobre os maléficios da acção humana sobre o planeta demostra-nos que Madonna aprendeu a lição com Bono Vox e Bob Geldof. Aponta para Obama (prenúncio?). A recente "4 Minutes" e a fantástica "Like A Prayer" samplada com "Don't You Want" dos Felix (e um vídeo que refere as várias religiões do mundo) não deixam ninguém com os pés no chão (a minha parte favorita!). "- Are you ready motherfuckers?", o público tem um orgasmo! "Ray Of Light" não tem o efeito desejado e "Hung Up" versão rock revela-se o fiasco da noite. "Give It 2 Me" sabe a pouco e Madonna desaparece num cubo muito anos 90. O público implora encore fruto da expectativa fracassada. Sem efeito.

O que separa Madonna de outras camaleoas do mundo da Pop daria pano para mangas, mas Cher viciou-se no vocoder e Kylie tornou-se uma caricatura de si mesmo. Mas em jeito de homenagem aqui fica um vídeo da excelente "Like A Drug" do novo álbum de Kylie, "X". Electro-pop, electro-pop, electro-pop. Qualquer semelhança com a imagética de Madonna, você já sabe, é pura coincidência.



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