
Querido M.
Sinto-me desorientado. Frágil. Qualquer palavra ou frase poderia transpor os meus ouvidos e dilacerar o meu coração. Não sou feito de carne. Sou puro vidro. Há uma espécie de perpetuação destas sensações que me acompanham desde sempre. Por mais que as tente afasta-las, elas voltam. Voltam e voltam, vezes sem conta. Insuportável ter-me que me ver ao espelho. Saber que em toda a parte existe sempre alguém que me obriga a uma comparação. Não me consigo sentir superior. Cada rosto na multidão. No autocarro, pelas ruas. Nos cafés, nas vielas, esquecidos a um canto. Não sou ninguém. Há sempre alguém que me recorda o quanto não me consigo sentir bem comigo. Apetecia-me chorar mas não consigo. As lágrimas secaram.
Dizem que não devo procurar. Devo esperar. Esperar? Se eu esperar ninguém sabe que eu existo. Mas eu não quero que saibam que eu existo. Quero que me encontrem sem saber que eu existo. Quero ser especial. Único. Apreciado como acho que mereço. Eu acho que mereço ser amado. Mas ninguém partilha da minha opinião. Dizem que devo gostar de mim. Eu gosto de mim. Mas como continuar a gostar de mim se ninguém gosta? Se ninguém me adora? Se ninguém me recorda o quanto importante eu sou? Não consigo suportar tentar a continuar gostar de mim. Brilhar e cegar-me com o meu próprio brilho sem ninguém aprecia-lo também. Gasto muita energia comigo e entedio-me. Pertenço a uma minoria. Pior. A uma minoria de uma minoria: Os fantasmas. Ninguém me vê. Ninguém me toca ou se preocupa. Nem estou vivo nem estou morto. Tenho medo de acordar. As vezes preferia não dormir mais ou dormir para sempre. Isso não mudaria nada. Não quero ser mais fraco. Sei que há uma solução. Tenho que mudar de estratégia. Dizem que devo ter auto-estima. Dizem que devo ser eu mesmo. Não consigo compatibilizar as duas questões: Se tenho auto-estima não sou eu, sendo eu não consigo ter auto-estima. Um novelo. É isso. Um novelo.
O valor de algo torna-se invisível no meio do nada. No meio do tudo. Das ruas. Do frio. Das cores da cidade que explodem e implodem incessantemente. Algures nas trevas suspiro. O futuro não faz mais sentido. Desafiei-me a mim mesmo. Perdi. Não há volta a dar. Bati no fundo e nada mais me parece tenebroso. Não tenho mais medo. E quando não se tem mais medo é-se capaz de tudo. Até de matar. Morrer? Já morri. Quero ressuscitar e matar. Atirar para matar. Bati no fundo. Bati no fundo e agora o único caminho é para cima.
O teu sempre eterno,
Natcho
Sinto-me desorientado. Frágil. Qualquer palavra ou frase poderia transpor os meus ouvidos e dilacerar o meu coração. Não sou feito de carne. Sou puro vidro. Há uma espécie de perpetuação destas sensações que me acompanham desde sempre. Por mais que as tente afasta-las, elas voltam. Voltam e voltam, vezes sem conta. Insuportável ter-me que me ver ao espelho. Saber que em toda a parte existe sempre alguém que me obriga a uma comparação. Não me consigo sentir superior. Cada rosto na multidão. No autocarro, pelas ruas. Nos cafés, nas vielas, esquecidos a um canto. Não sou ninguém. Há sempre alguém que me recorda o quanto não me consigo sentir bem comigo. Apetecia-me chorar mas não consigo. As lágrimas secaram.
Dizem que não devo procurar. Devo esperar. Esperar? Se eu esperar ninguém sabe que eu existo. Mas eu não quero que saibam que eu existo. Quero que me encontrem sem saber que eu existo. Quero ser especial. Único. Apreciado como acho que mereço. Eu acho que mereço ser amado. Mas ninguém partilha da minha opinião. Dizem que devo gostar de mim. Eu gosto de mim. Mas como continuar a gostar de mim se ninguém gosta? Se ninguém me adora? Se ninguém me recorda o quanto importante eu sou? Não consigo suportar tentar a continuar gostar de mim. Brilhar e cegar-me com o meu próprio brilho sem ninguém aprecia-lo também. Gasto muita energia comigo e entedio-me. Pertenço a uma minoria. Pior. A uma minoria de uma minoria: Os fantasmas. Ninguém me vê. Ninguém me toca ou se preocupa. Nem estou vivo nem estou morto. Tenho medo de acordar. As vezes preferia não dormir mais ou dormir para sempre. Isso não mudaria nada. Não quero ser mais fraco. Sei que há uma solução. Tenho que mudar de estratégia. Dizem que devo ter auto-estima. Dizem que devo ser eu mesmo. Não consigo compatibilizar as duas questões: Se tenho auto-estima não sou eu, sendo eu não consigo ter auto-estima. Um novelo. É isso. Um novelo.
O valor de algo torna-se invisível no meio do nada. No meio do tudo. Das ruas. Do frio. Das cores da cidade que explodem e implodem incessantemente. Algures nas trevas suspiro. O futuro não faz mais sentido. Desafiei-me a mim mesmo. Perdi. Não há volta a dar. Bati no fundo e nada mais me parece tenebroso. Não tenho mais medo. E quando não se tem mais medo é-se capaz de tudo. Até de matar. Morrer? Já morri. Quero ressuscitar e matar. Atirar para matar. Bati no fundo. Bati no fundo e agora o único caminho é para cima.
O teu sempre eterno,
Natcho
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