quinta-feira, 13 de novembro de 2008

"W"

É o primeiro filme biográfico de um presidente dos EUA feito com este ainda a ocupar o cargo. 'W.', realizado por Oliver Stone, estreia-se hoje em Portugal, com Josh Brolin no papel de George W. Bush. Mas não é uma demolição arrasadora de 'Dubya'. Muito pelo contrário
Oliver Stone filmou uma cena de W., o seu filme biográfico de George W. Bush (estreia-se hoje), em que o Presidente dos EUA está a ver um jogo de futebol acompanhado dos seus dois cães e de Saddam Hussein, e de repente engasga-se com um aperitivo e quase morre sufocado. E outra em que Bush passa sobre Bagdade num tapete voador, enquanto a cidade é bombardeada pelas coligação aliada. Estas duas cenas foram cortadas da montagem final de W. por Stone, que achou que eram excessivamente fantasiosas, logo prejudiciais para um filme centrado na história factual de como George W. Bush, a ovelha ranhosa de uma ilustre e rica família texana, se tornou no Presidente dos EUA.Quem estava à espera que W. fosse um trabalho de demolição de não deixar uma pedra em pé, de um dos mais impopulares e odiados Presidentes da história dos EUA, pode tirar o cavalinho da chuva. Em W. não há nem sombra da militância ardorosa de denúncia de JFK (1991), nem um grama da ferocidade tenebrosa de Nixon (1995). O Stone rottweiler que ferra e não larga mais a presa destes dois filmes (e de Salvador, e de Nascido a 4 de Julho...) é um amável fox terrier em W.Oliver Stone disse que W. , escrito por Stanley Wiser (Wall Street), não ia ser um panfleto anti-Bush, um filme para causar apoplexias em série à direita neocon e fazer embandeirar em arco todos os opositores, inimigos e críticos de Dubya, da esquerda mais radical até à direita conservadora tradicional e libertária.Falando à Variety, Stone declarou que queria fazer "um retrato justo do homem. Como é que Bush, um alcoólico irresponsável, se transformou no homem mais poderoso do mundo? Vou falar dos demónios da sua vida privada, dos confrontos com o pai e da sua conversão ao cristianismo, o que explica muita coisa sobre de onde ele veio". O realizador até quis "mostrar o lado positivo do Presidente" e uma ou outra qualidade, caso da "tenacidade".E Stone fala de tudo isso. Mas ao fazê-lo deixa W. , por um lado, anestesiado pelos estereótipos do biopic familiar, como uma espécie de Dallas com política; e pelo outro, aprisionado pelas condensações e simplificações da realidade e das complexidades dos jogos políticos e da ideologia que enformaram a presidência de George W. Bush.W. é atiladinho de mais para ser crítico, e reducionista de mais para ser informativo: a invasão do Iraque foi causada pela sede de petróleo, Dick Cheney é o "Papa negro" da Casa Branca, que manda em vez do simpático parolo Bush, não há uma menção aos neocons nem à poderosa influência de Israel. E quase todos os actores, Josh Brolin incluído, fazem imitações sofríveis das figuras reais que personificam.W. é um retrato de George W. Bush em cores suaves de compreensão, quando se estavam mesmo a pedir cores violentamente contrastadas.

Retirado daqui.

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