segunda-feira, 20 de abril de 2009

Quero um abrigo!


As aulas de “Comunicação e Relação Humana” começam a parecer aulas de Educação Sexual. Depois do meu polémico comentário “a homossexualidade feminina faz parte do fetiche da maior parte dos homens heterossexuais”, a sala de aula nunca mais foi a mesma.

Sexta-feira passada. O exercício da discórdia era o seguinte:

Abrigo subterrâneo

Imaginem que a nossa cidade está sob ameaça de um bombardeamento. Aproxima-se um homem e que nos solicita uma solução imediata. Existe um abrigo subterrâneo que só pode abrigar 6 pessoas. Há 12 que pretendem entrar. Abaixo há uma relação das 12 pessoas interessadas em entrar no abrigo. Escolha apenas 6.

· Um violinista com 40 anos, narcótico-viciado;
· Um advogado com 25 anos;
· A mulher do advogado com 24, que acaba de sair do manicómio. Ambos preferem ficar juntos, no abrigo ou fora dele;
· Um sacerdote com 75;
· Uma prostituta com 34 anos;
· Um jovem com 20, autor de vários crimes;
· Uma universitária que fez voto de castidade;
· Um físico com 28 anos que só aceita entrar no abrigo com uma arma;
· Um declamador fanático de 21 anos;
· Uma menina com 12 e QI baixo;
· Um homossexual de 47 anos;
· Uma deficiente mental de 32 anos e que sofre de ataques epilépticos.

O nosso grupo optou por, em primeiro lugar, escolher individualmente. Eu escolhi o sacerdote, a prostituta, o jovem de 20, a universitária, a menina e o homossexual. A minha escolha prendeu-se sobretudo por uma razão de segurança. Escolhi elementos que, à partida, não representariam problemas ao meu bem-estar. Os crimes do jovem não estão explicitados. Fumar marijuana, por exemplo, é um crime mas não poria a minha segurança em causa. As opções podem ser muito relativas. Por exemplo, o físico e o facto de ele levar uma arma consigo não seria relevante pois perceberia a necessidade de ele também manter a sua segurança, alem disso, é físico, tem um grau académico, seria inteligente suficiente para não desatar lá aos tiros (se bem que isso também pode não simbolizar nada). Escolhi o homossexual por uma questão de consciência de classe, claro! (e não, não tem a ver com necessidades sexuais pois com 47 não faria muito o meu género)

Entretanto a Sara tinha-nos dito que a opção pelos 6 elementos prendia-se com questões da reprodução para a perpetuidade da espécie humana, logo o homossexual ficaria de fora. Engraçado, eu nem sequer tinha pensado nessa hipótese mas o grupo ficou logo enviesado com a teoria naturalista mesmo que o exercício não nos diga se o bombardeamento seria temporário ou ilimitado, global ou circunscrito ou se a espécie humana estivesse em perigo de extinção. O grupo optou por outros elementos deixando de fora o homossexual. Eu ainda argumentei que existiam formas de reprodução sem ser através de relação sexual, como por exemplo, inseminação artificial e alguém confundiu a inseminação artificial com uma experiência científica avançadíssima dando o seu exemplo peculiar de dificuldades reprodutivas, negando implicitamente que os elementos femininos do exercício seriam, a priori, férteis como a maior parte das mulheres. Passei para o argumento da maleabilidade sexual dizendo que o homossexual poderia “dar o jeito” mas essa nem foi discutida (porque não convinha).
Houve alguém que ainda ficou indeciso entre o sacerdote de 75 e o homossexual. Tive que dar uma risada. Ora, vejamos:

O Sacerdote

· Não nos diz nada sobre a sua orientação sexual;
· Aos 75 provavelmente (pela lógica das maiorias) seria impotente;
· Aos 75 provavelmente (novamente pela lógica das maiorias) estaria na andropausa, logo seria infértil;
· A prática do sacerdócio implica, na maior parte dos casos, a não-prática de relações sexuais de qualquer tipo, ou pelo menos, assim o era. Se houver uma mudança na estrutura podemos argumentar que não sabemos quando é que a acção se passava (sabendo que pelo facto de haverem bombardeamentos se deva situar no inicio do século XX).

O Homossexual

· Aos 47 anos, na maior parte dos casos, é fértil;
· Aos 47 anos, na maior parte dos casos, não é impotente;
· A reprodução pode-se dar sem relação sexual através de inseminação artificial por mais difícil que seja o processo;
· O homossexual poderia ter uma relação heterossexual com uma mulher. Não é isso que prega a teoria da maleabilidade sexual?

Homossexual - 4 Sacerdote - 0

Quem optou pelo sacerdote em detrimento do homossexual sentiu-se com o fardo moral de optar por um “servo de Deus” em detrimento de um mero “paneleiro” inútil para a espécie humana. Homofobia pura e dura. Temos que reconhecer o facto. Não é preciso dizer que quem o fez é um homem heterossexual pois não?

No entanto, ainda comentei com um risonho mas provocatório “olha que o sacerdote também não ia lá”. Galhofa total.

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