sexta-feira, 26 de junho de 2009

Ascese - Uma das fases da bicha


Estava a vaguear pelo dicionário e encontrei um termo que me causou uma curiosidade enorme:



Ascese: A ascese (do grego ἄσκησις, derivado di ἀσκέω, “exercitar”) consiste na prática da renúncia do prazer ou mesmo a não satisfação de algumas necessidades primárias, com o fim de atingir determinados fins espirituais. É uma espécie de celibato mas menos condicionado.


Eu sempre me senti atraído pela filosofia de abnegação de Ricardo Reis (com a excepção do desprendimento em relação aos bens materiais) e a ascese não deve estar muito longe.
Passo a explicar as razões pelas quais eu me tornei, ou pelo menos, me ambiciono tornar num ascético:


Quando era chavalo, sempre fui muito importunado pelas hormonas, aliás, como qualquer adolescente. Some-se ao facto de esse adolescente ser gay e estar na fase da auto-descoberta sexual. Dos meus 16 aos meus 20, não parei um segundo. Experimentei quase de tudo, a nível sexual. A minha energia libidinal, o meu despudor e as oportunidades não cessavam. Penso que seja normal, entre os adolescentes. Se os homens heterossexuais tivessem as mesmas oportunidades com as mulheres, certamente, seriam até piores que eu.
Esse meu desejo avassalador era acompanhado com uma necessidade intrínseca de amar e, principalmente, ser amado (a baixa auto-estima não é por acaso). Não sei até que ponto é que isso era uma desculpa para me dar carnalmente ou eram mesmo ilusões do foro sentimental (sempre fui fascinado pelas relações romantizadas, eternamente monogâmicas e conceptualmente perfeitas).


Seja como for, à medida que fui crescendo, ganhei uma nova concepção de mim mesmo, e se os meus 20, 21 foram caóticos (crises de identidade), aos meus 22 já não estou para aturar algumas merdas.


Nas questões do afecto e da sexualidade ganhei um novo estofo. Tornei-me exigente. É obvio que novos projectos (tirar a carta, arranjar emprego, acabar o curso, etc.) implicam novas necessidades e posturas assim como determinadas reflexões sobre a vida em geral, mas penso que me tornei mais consistente, duro e impertinente. Já nada me serve. Já experimentei muita coisa, nem tudo me convêm. Pareço o Variações na música Estou Além (até rimou).


No campo amoroso, só me aparecem chavalos (aquela classes de pessoas, de 18 anos para cima, sempre disponível para a queca) indecisos ou que depois do acto fazem logo o filme do Romeu & Julieto; frustrados que não dão a cara e que usam e abusam do ciberespaço, do sexphone ou das zonas de engate (WC’s, estações de serviço, etc); gajos com PDM, que misturam uma característica natural da personalidade “ser-se directo” com um defeito terrível, a inconveniência (falta de tacto, a quanto obrigas!) e, que na maior parte das vezes, tratam os outros como lacaios da sua snobice ou da sua “evidente” beleza física. E muitos outros (estou mesmo a pensar postar sobre isso).


Não tenho pachorra para hi5’s, msn’s, gaydares, o habitat das bichas frustradas ou das indecisas. Não tenho pachorras para “vamos tomar café” (que, na maior parte das vezes, traduz-se por “vamos dar uma queca”) e cada uma das pessoas está para ali a interpretar um papel para ver se encaixa na expectativa do outro. Estou farto de gajos. Pelo menos, de gajos gays/bis que são o meu alvo preferencial, por motivos óbvios.


Não tenho pachorra para gays homofóbicos e bichinhas adestradas. E por favor, gays moralistas (que de moral percebem pouco) não me apareçam à frente…


Sinto que, por vezes, desperdicei oportunidades de construir boas amizades em detrimentos de quecas fugazes e, diga-se de passagem, à medida que se vai crescendo vai ficando mais complicado construir boas amizades (seja lá isso o que for…).


Não vou conseguir aniquilar o meu impulso, então vou converte-lo para outras práticas. Uma espécie de canalização freudiana. Aliás, como Focault propunha para a identidade homossexual.
Vou viver a minha vida. Viver para mim. Amar-me. Isso é o que realmente importa. Deixando os outro/as presumirem o que quiserem. Cheira-me é que já o devia ter feito…

2 comentários:

João Roque disse...

Excelente filosofia de vida no campo sexual...

Leman disse...

Gostei de ler e reconheço algumas fases deste percurso, e estou perfeitamente de acordo com a decisão em jeito de conlusão, se ela tiver partido de um percurso racional e não de uma contrariedade emocional.