quarta-feira, 11 de novembro de 2009

A Igreja, a comunicação social e casamentos PMS - Qual é a parte do laico que os media não percebem?


Ultimamente a ICAR têm estado mais na berra do que a Lady GaGa com uma crise de megalomania. Ela é aborto, ela é declarações ateias de Saramago, ela é eutanásia, ela é casamento de pessoas do mesmo sexo. Não pára, é um autêntico rodopio. Mas não pensem que actua sozinha, ela precisa de cúmplices. Aliás, como qualquer lobby organizado. E quem é o grande cúmplice da ICAR? Óbvio: a comunicação social.


Claríssimo para toda a gente ver. Não são raras as vezes em que artigos contra o casamento PMS são expressos nos media (jornais diários, por exemplo), muitos deles expressos por membros do clero sem que se apresente uma contra-argumentação fundamentada e coerente. Não porque não exista mas porque, sendo minoritária, não têm voz. As opiniões a favor são camufladas ou não lhes é dada a devida atenção. Notem os próprios telejornais. O casamento PMS é um dos assuntos mais quentes do momento e não focam o assunto como é devido (continuamos a dormir descansados mas convenhamos, a ICAR até fez duas conferencias episcopais no prazo de um ano, onde abordou o assunto, é porque, de facto, ele merece algum destaque). E não aceito desculpabilizações homofóbicas do género: “ah, há coisas mais importantes para resolver”… Pois há, a homofobia.


A ICAR tem que ter um certo cuidado. Ela sabe que não está em jogo a capacidade reprodutiva da sociedade e todas as suas campanhas serão excursões de ódio homofóbico. Ninguém está contra a família (tradicional) e ela nem sequer está em perigo. Eles sim, estão contra o alargamento do conceito de família. E fica a pergunta no ar, pelo menos para mim: para quando uma campanha contra os casais heterossexuais que abandonam os filhos?!

A ICAR está imparável. Usa e abusa de estratégias bem calculadas para mobilizar o seu rebanho. Até o próprio Papa deverá vir a Portugal este ano. Só espero que, da vez que estiver cá, não repita as pérolas irracionais sobre o uso do preservativo.

Admiro a crítica que fazem à homogeneização dos dois sexos (critica à teoria do género) quando eles próprios querem a homogeneização das opções sexuais. Admiro quando omitem, por exemplo, a violência doméstica gritante homem-mullher no seio de uma relação heterossexual. O que têm eles a dizer sobre o assassinato de homossexuais, por exemplo? Os homossexuais não são seres humanos? A ICAR sabe que a sociedade não vai mais na sua hipocrisia e que qualquer tentativa de voltar aos velhos tempos da “repressão” não vai surtir muito efeito…


Mas ganham terreno e a disputa reaccionária começa a tornar-se mais acesa. Tudo sobre o aval da comunicação social. Dois casos flagrantemente gritantes: o site da Renascença tinha como titulo: “49,5% dos portugueses são contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo” (referindo-se à possibilidade afirmativa do referendo). Uau, grande coisa… Porque é que não se viu as coisas noutra perspectiva? “50,5 dos portugueses são a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo”?


Um outro caso, esse sim, visivelmente manipulador: basta colocar nas notícias do Google “casamento homossexual” e uma das primeiras notícias que aparece era um estudo estatístico do INE que comprovava que os casamentos (tradicionais, heterossexuais) estavam a diminuir e que os divórcios estavam a aumentar. Notem a iniquidade da questão. Era uma forma de manipular a opinião das pessoas que iam pesquisar sobre o assunto “casamento homossexual”, para despertar a lógica apocalíptica do “ai meu deus o casamento PMS vai desestruturar a sociedade”.


Permitam-me agora também manusear a mentalidade dos/as meus/minhas leitores/as. Um estudo recente comprovou que a orientação sexual é um dos critérios discriminatórios mais graves apontados pelos/as portugueses/as. Quererá isso dizer alguma coisa?

Finalizo com uma frase do Vital Moreira na crónica do Público de 10 de Novembro nº 7161 pagina 37, ilustrativa das incoerências católicas:

“Os católicos não podem defender a exibição dos seus símbolos religiosos nos estabelecimentos públicos nos países onde a sua religião é dominante e depois queixarem-se, como toda a razão alias, da exclusão ou discriminação de que são vítimas noutras latitudes onde a religião católica é minoritária.”

Ora nem mais.

2 comentários:

João Roque disse...

Os cães ladram e a lei passa!!!!

Tiger! disse...

Gostei do comentário do pinguim, não há melhor! ;)