quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A psicanálise da homofobia


Descobri este texto por acaso na net. Foi escrito pelo José Magalhães, estudante ou licenciado em Psicologia, não sei e encontra-se no seu blogue... Tive que comentar!


Houve no parlamento lugar a um debate acerca dos casamentos entre homossexuais. O nível do debate foi muito baixo ao nível da sensibilidade e profundidade que se pode dar ao tema. Os defensores dos ditos casamentos argumentam que se trata de uma questão de direitos civis e de igualdade. Considero que não seja esse o ponto fundamental a ser discutido. Aliás, do ponto de vista político e económico, é uma questão menor. Não quero dizer com isto que sou contra os ditos casamentos. O que acho é que a única vantagem que os homossexuais retiram desse diploma é que estes passam a contar com determinados benefícios fiscais. Não deixa de ser legítimo, mas a questão é outra. O que os homossexuais pretendem realmente é a legitimação da sua orientação sexual, o que é um aspecto decorrente de uma forma de neurose, já que há uma conflito decorrente da tentativa de moldar as nossas pulsões sexuais a um objecto fixo e definitivo. Já anteriormente me referi aqui à questão da homossexualidade do ponto de vista psicanalítico, mas deixo aqui mais alguns apontamentos. Para Freud somos todos bissexuais. Todos mantemos relações afectivas com homens e mulheres e todos temos a possibilidade de retirar prazer dessas relações. Para Jung, o homem tem um anima, uma parte mulher dentro de si, e todo a mulher tem um animus, uma parte homem. O problema surge quando existe a necessidade de moldarmos as nossas inconstantes pulsões sexuais segundo conceitos abstractos rígidos e castradores. A homossexualidade e a heterossexualidade, à partida não existem. São identidades que é necessário construir. Do ponto de vista do desenvolvimento infantil as coisas passam-se mais ou menos segundo este esquema:

Infância (0-5 anos)___________________Bissexualidade

Quando nasce, um bebé olha para o corpo da mãe como sendo o prolongamento do seu próprio corpo, sendo que essa separação é gradual, à medida que a criança se vai tornando fisicamente mais autónoma. Com esta autonomização motora gradual, surge uma necessidade de explorar o mundo externo, sendo que se vai apercebendo aos poucos da sua individualidade face à mãe e ao mundo externo. Até aos 5 anos, as crianças investem afectivamente todo a realidade e o campo familiar de forma indiferenciada e exploratória.

Latência (6-11 anos)___________________Homossexualidade estruturante

Este período é particularmente importante para as nossas reflexões sobre a homossexualidade. Entre os 4 e 5 anos dá-se o complexo de Édipo/Electra, sendo que este processo começa mais cedo, antes de mais pela percepção da diferença de sexos. Resolvido este conflito, a criança começa a ganhar a noção de pertença a um género. É aliás o primeiro sentimento de pertença a um grupo: o do sexo. O período de latência é aquele período em que os rapazes só andam com rapazes e as raparigas só andam com raparigas. Os rapazes têm "nojo" das raparigas e estas acham os rapazes "parvos e porcos". É o que Freud chama de homossexualidade estruturante, situação típica do período de latência que Freud caracteriza assim:
"é no período de latência total ou parcial que se constituem as forças psíquicas que mais tarde farão obstáculo às pulsões sexuais e, à semelhança de diques, vão limitar a sua evolução (desagrado, pudor, aspirações morais e estéticas). (...) No período de latência as tendências sexuais são desviadas do seu uso próprio e aplicadas a fins diferentes, processo a que se dá o nome de sublimação, um dos pilares em que assenta civilização"

Adolescência/idade adulta (>12 anos)________Neurose

Com a puberdade e a adolescência, as crianças desenvolvem seu corpos, tornam-se homens e mulheres com seus caracteres sexuais principais e secundários plenamente desenvolvidos. A reprodução é possível e os adolescentes só pensam em duas coisas: sexo e sexo. É também nesta idade que se consuma uma noçao de identidade, de eu, mais definida, com uma estrutura neurótica já bem desenvolvida. Há nesta idade um conflito entre a preservação de uma identidade recém adquirida, e uma necessidade de uma abertura para a alteridade, para capacidade de, após a homossexualidade estruturante do período de latência, voltar a haver interesse pelo mundo do sexo oposto. O sexo oposto surge como um grande mistério e diferença absoluta que atrai.

Erich Fromm diz que "o desvio homossexual é o fracasso em atingir essa união polarizada, e por isso o homossexual sofre a dor da separação,nunca solucionada, fracasso, entretanto, de que com ele compartilha o heterossexual comum que não consegue amar."
Fromm refere-se então ao homossexual como uma neurose partilhada com o heterossexual comum, relativamente à incapacidade de amar em pleno, fruto da dificuldade de relacionamento com a anima e animus, os caracteres do sexo oposto presentes em cada um de nós. O homem neurótico heterossexual responde muitas vezes a este conflito através da homofobia, evitando adoptar ou mostrar simpatia com características femininas. O homem homossexual responde às suas sensibilidades femininas também de uma forma desconfortável, gerando dúvidas que são fruto de dualismos mentais rígidos. Assim, homens e mulheres altamente racionalistas, são mais propensos a dúvidas típicas de homossexuais. Não é por acaso que muitas das características de um homem homossexual, tais como a parcimónia na limpeza, a organização, obsessões e rituais, são típicas de uma neurose obsessiva, que se caracteriza por uma excessiva racionalização da vida afectiva. Neste esquema, as dúvidas em relação a aspectos básicos da identidade sexual são difíceis de gerir. Ferenczi chegou a fazer uma distinção entre homossexuais da seguinte forma: o "homo-erótico, subjectal", que sente e se comporta como uma mulher, e o "homo-erótico, objectal", completamente masculino, e que apenas trocou um objecto feminino por um masculino. Os primeiros denominou de "intermediários" e os segundos denominou precisamente de "neuróticos obsessvivos". Contudo, esta distinção parece-me algo dicotómica, eliminando a vivência da ambivalência entre estes dois modos. Freud referiu-se a essa distinção da seguinte forma: "reconhecemos a existência destes dois tipos, acrescentamos que há muitas pessoas em quem se encontra uma certa quantidade de homo-erotismo subjectal combinada com certa proporção de homo-erotismo objectal"

O "sair do armário", a assumpção e identificação com o papel homossexual é um passo que tenta resolver a ambivalência, mas que não resolve o conflito. Há posteriormente, uma necessidade de reconstruir toda uma identidade nova. Frequentemente relatam que, olhando para a sua vida passada sempre se sentiram homossexuais, o que é uma falsa questão: aplica-se aqui o conceito de Freud de Nachträglichkeit, conceito que é difícil de traduzir mas que reflecte uma um efeito retroactivo da consciência presente sobre as memórias anteriores. No fundo, as memórias anteriores são sempre possíveis de actualização e modificação tendo em conta as circunstâncias presentes. Há uma passagem de Lautréamont que é um bom exemplo disto: "Assentemos em poucas linhas como Maldoror foi bom durante os seus primeiros anos, em que viveu feliz; está dito. Reparou depois que tinha nascido mau: fatalidade extraordinária"

Para terminar deixo aqui a nota de rodapé que Freud em 1915 acrescentou ao primeiro dos seus "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade" de 1905:

"A pesquisa psicanalítica opõe-se firmemente a qualquer tentativa para a separação dos homossexuais do resto da humanidade considerando-a como um grupo de características especiais. Ao estudar outras excitações sexuais além das questões que são manifestamente apresentadas, a psicanálise descobriu que todos os seres humanos são capazes de fazer uma escolha de objecto homossexual e até a fizeram de facto no seu inconsciente. Na verdade, vinculações libidinais por pessoas do mesmo sexo desempenham um papel como factores na vida mental normal, não inferior ao desempenhado por vinculações similares pelo sexo oposto (...). A psicanálise considera que a escolha de um objecto independentemente do seu sexo - susceptível de se distribuir igualmente entre objectos masculinos ou femininos - como se encontra na infância, é a base original de onde, em resultado de restrições numa ou noutra direcção, se desenvolveram tanto o tipo normal como o invertido. Assim, do ponto de vista da psicanálise, o interesse sexual exclusivo de um homem por uma mulher é também um problema que precisa de ser esclarecido e não um facto auto-evidente baseado num atracção que, em última instância, é de natureza química"
José Magalhães

Eu sinceramente não sei muito bem como classificar este texto. O recurso a falácias aberrantes, os paradoxos ideológicos e a argumentação assente em paradigmas epistemológicos da Psicologia para lá de ultrapassados causam-me um misto de gargalhada e “nojo”. Não sei. Se calhar tenho mesmo que fazer psicanálise e descobrir a razão para tal reacção.

O autor do texto limita-se a descrever a homossexualidade como um processo neurótico, o que dito desta forma nos levaria a concluir que o texto é possivelmente um dos muitos textos, espalhados pela Internet e escritos por psicólogo/as possivelmente cristãos e cristãs sobre a “evidente” dimensão patológica da homossexualidade. Puro engano.

Dessa forma, o autor do texto faz um exercício de nivelamento, ou seja, põe também a heterossexualidade na condição de neuropatia. Isto é, ambas as orientações sexuais seriam neuroses (pois ambas são fruto do Édipo). À primeira vista não nos pareceria homofóbico. Outro puro engano.

Todo o discurso supostamente igualitário do autor não passa de um embuste porque subliminarmente submete a homossexualidade a um grau inferior, em termos potenciais, quando passa o discurso do campo epistemológico para o campo político.

Um dos seus primeiros erros, desconhecendo os contextos em que estas questões surgem e a historicidade da homossexualidade (os/as psicólogos/as, na sua generalidade, têm esse pequeno problema) são as ilações erróneas. Passo a citar: “O que acho é que a única vantagem que os homossexuais retiram desse diploma [o casamento] é que estes passam a contar com determinados benefícios fiscais.”

Desconhece, portanto, a amplitude dos direitos e garantias em jogo, razão pela qual nem especifica esses “determinados benefícios fiscais”.

A esclarecer: esses direitos referem-se à gestão de heranças, gestão do património comum, direito de visitar o/a parceiro/a ao hospital como casado/a oficialmente, ao facto do nome do/a parceiro/a ser mudado (uma mariquice mas simbolicamente algo relevante que se prende com dignidade, apesar desta questão ser alvo da fúria das feministas e com razão) e outros aspectos de reconhecimento legal da relação como oficialmente casado/a, nomeadamente a nível de prestígio social. Por exemplo, se eu for ao Wikipédia pesquisar personalidades históricas, eu sei que muitas delas são heterossexuais porque são casadas (2 aspectos a considerar: a) não necessariamente mas a possibilidade de serem heterossexuais é mais forte do que a possibilidade de não serem, nem que não seja no simbolismo do casamento tradicionalmente heterossexualizado; b) o casamento a que me refiro é o tradicional, heterossexual obviamente), ora o mesmo não se aplica ao reconhecimento de alguém que é homossexual porque não existe esse reconhecimento legal. Logo, essa “omissão” contribui para invisibilizar a homossexualidade.

Por outro lado, independentemente do tipo de direitos e da sua relevância (porque cada um/a dá o seu valor a esses direitos), direitos são direitos. Defendendo a posição que defende custa a acreditar que nutre uma simpatia pelo comunismo…

Prossegue com: “o que os homossexuais pretendem realmente é a legitimação da sua orientação sexual, o que é um aspecto decorrente de uma forma de neurose, já que há um conflito decorrente da tentativa de moldar as nossas pulsões sexuais a um objecto fixo e definitivo.” E aqui a porca torce o rabo! (salvo seja!)

Ora bem, como já li o resto do texto, o autor não entra naquelas velhas falácias da tentativa barata de patologizar a homossexualidade exclusiva porque, como já referi, coloca a própria heterossexualidade exclusiva nesse patamar. A inovação do seu discurso, até aqui essencialmente de asserção psicológica e a partir daqui num misto de política e ciência, é que refere que o Estado não deve legitimar uma neurose. Até aqui nada de muito grave. Porquê? Porque a falácia é facilmente desmontável: se a homossexualidade exclusiva tal como a heterossexualidade exclusiva é uma neurose, então se a homossexualidade exclusiva não pode ser legitimada pelo Estado a heterossexualidade exclusiva também não. Pois, o problema é que o deslocamento desta postura epistemológica para o discurso político sugere uma reviravolta nos termos da igualdade em jogo, porque a heterossexualidade (consubstanciada no acto pénis + vagina = reprodução) representa para o Estado, numa óptica essencialista, reprodução biológica e portanto essa reprodução é algo de extrema importância, não numa perspectiva biologizante de continuidade da espécie, mas numa perspectiva de seguimento e prosperidade do Estado, mesmo que se reconheça que essa reprodução biológica advenha de uma mecanismo de heterossexualidade exclusiva compulsória, neurótico e perpetuado pelo sistema de sexo/género. Mesmo sendo de cariz neurótico, ela, a heterossexualidade exclusiva na sua forma potencial de reprodução, assume essencialmente uma funcionalidade politicamente estatal, ao passo que outro tipo de neurose, a homossexualidade exclusiva, seria portanto dispensável.

Ao não entender a reivindicação do casamento PMS, faz-me perguntar: porque é que não defende a abolição do casamento PSD já que a heterossexualidade é uma neurose?

A própria concepção “a-homossexualidade-é-uma-doença-mas-não-posso-dizer-isso-alto-porque-o-lobby-gay-dá-me-cabo-do-canastro” encontra-se presente com a sugestão da heterossexualidade como uma forma de desenvolvimento psico-sexual dito normal e a homossexualidade como desvio. Daí chamar desvio à própria homossexualidade.

O autor desconhece também a estratégia da identitatização. A identitatização permite a comparação dos direitos dos gays e das lésbicas com o direito das mulheres e com o direito dos negros. Ao estipular essa lógica aleatória na escolha dos objectos sexuais desconfigura essa identitatização e torna inválida uma luta em torno da cidadania. Por conseguinte, quando o autor refere o carácter universalista e aleatório da pulsão sexual, despolitiza a discussão. E note-se a contradição: logo de seguida, consubstancia o desejo sexual numa identidade, que embora falseada, assume uma relevância posicional (essencialismo estratégico).

Por outro lado, o autor recorre a muitos erros típicos de quem tece os seus “achismos” sobre o tema da homossexualidade. Primeiro, para ele, os homossexuais são sempre homens. Erro abissal. Segundo, recorre a generalizações grosseiras, como por exemplo, “não é por acaso que muitas das características de um homem homossexual, tais como a parcimónia na limpeza, a organização, obsessões e rituais, são típicas de uma neurose obsessiva, que se caracteriza por uma excessiva racionalização da vida afectiva.”; como se os homens gays partilhassem TODOS ou até mesmo UMA LARGA MAIORIA DELES essas mesmas características. A mais pura das falácias.

Pior pior só mesmo a explicação individualista porque nessa nos estereótipos só cai quem quer. Explicação individualista porque omite as estruturas que fazem com que haja uma possibilidade incomum de homens gays que sigam esse padrão. Por exemplo, não lhe ocorre que a padronização tradicional do género “homem = caça; mulher = cozinha” afecta também homens gays (por serem homens) e, que portanto, faz mais sentido que estes se dedicam à cozinha do que os homens heterossexuais porque não terão uma mulher ao seu lado.

Não deixa de ser aterrorizante, do ponto de vista intelectual, por um lado, considerar essas características como fruto de neuroses obsessivas (tadinhas de muitas mulheres - e note-se, que digo ALGUMAS mulheres, não TODAS as mulheres) e depois, que essas características advêm de ritualizações como se a sexualidade andasse em redor da organização familiar heterossexualizada e os homossexuais fossem robots autonomizados em função das suas identidades desviantes personificadas e sedimentadas sobre e em função do espectro do sexo oposto. Ardis argumentativos atrás de ardis argumentativos.

Depois, pegando numa citação de Fromm, refere que os homossexuais não conseguem amar bla bla bla. Clichés modernistas da psicanálise contrariados por inúmeras investigações. Onde elas estão? Perguntem à Associação de Psicologia Norte-americana. A não ser, claro está, que se ache que essas investigações forão enviesadas e manipuladas pelo poderosíssimo lobby gay. Nesse caso, chama-se a corporação ainda mais influente da ICAR e resolve-se o assunto.

Por outro lado, não se pode dar um conceito fixo a um fenómeno tão subjectivo e abstracto como o “amor”. Poderia até pôr em causa o próprio amor heterossexual e reduzi-lo à sua configuração procriativa, o que nos levaria a concluir que amor com “A” grande só o amor homossexual (ver conceito de “relação pura” de Giddens), pois move-se, não por imperativos reprodutivos mas forças motrizes de aliança.

O mais irónico é que o autor do texto simpatiza com o PCP. Imaginem se não simpatizasse. Acho que se enganou no partido. O dele deve ser mais o PNR ou assim.

Não creio que o autor faça por mal ou seja propriamente homofóbico no sentido primitivo do termo (tal é a frase de Oscar Wilde no blogue e as referências a Foucault), mas as suas melhores intenções abrem brechas nos discursos que poderão eventualmente ser aproveitadas para o poder discursivo mudar de mãos. O próprio discurso assenta em paradoxos que são observáveis nos discursos do senso comum: “não tenho nada contra mas…”. É a tentativa politicamente correcta de legitimar a homossexualidade mas ao mesmo tempo de dizer que há qualquer coisa de errado ou de menos bom nela.

É o que acontece quando os homens heterossexuais (como, presumo, o autor) se põem a discorrer sobre homossexualidade masculina sem indagar-se sobre homossexualidade feminina e sem explicar a própria homofobia.

De referir que a psicanálise lançou um dos primeiros mecanismos a tentar explicitar a homossexualidade e note-se que até o próprio acto de se tentar explicitar a homossexualidade é per si discriminatório, pois só os desvios à norma são explicados, como se houvesse algo para explicar ou justificar e curiosamente a norma passasse incólume a essas tentativas de explicação (ninguém pediu esclarecimentos à heterossexualidade).

Freud estabeleceu, através da sua teoria do Édipo, uma primeira formulação teórica para explicitar a homossexualidade mas partindo do pressuposto que o modelo familiar alemão era o único modelo. Esse é o maior erro do Édipo freudiano. É um facto que libertou a (homo)ssexualidade do jugo da biologia e isso foi a novidade da psicanálise mas ao considera-la um desvio contribuiu para a sua patologização em detrimento da sua emancipação. O mesmo aconteceu com as mulheres. Freud não fez por mal, nem o autor do texto, mas não soube questionar-se. E porquê?

Porque a psicanálise hoje é insuficiente para explicar realidades e fenómenos. Além de insuficiente não é operacional. O próprio dilema de Complexo de Édipo é circunscrito a um modelo familiar monogâmico (como se não houvessem comunidades educativas, como orfanatos), heterossexualizado (como se não existissem famílias homoparentais), biparental (como se não existem famílias monoparentais), socialmente padronizado em termos de etnia (como se não houvessem famílias “racialmente misturadas” em termos biológicos e em termos de adopção), comportamento de género (como se uma mãe fosse a exclusiva ou mais importante educadora de uma criança ou como se os pais tivessem um comportamento típico em relação ao seu género (“quando nasce, um bebé olha para o corpo da mãe […]”) e classe social (como se houvesse simetria entre famílias de classes sociais diferentes ou entre cônjuges do mesmo casal). É um modelo descontextualizado, logo inoperante.

Em suma, o padrão de desenvolvimento psico-sexual proposto por Freud não é universal mas sim contextualizado. É um padrão etnocêntrico que omite variantes sócio-culturais. Por outro lado, não há uma ligação necessária entre saúde mental e sexualidade já que muitas das possíveis objecções a práticas sexuais surgem no plano legal e cívico e não no plano médico-psiquiátrico (exemplo: a masturbação já foi considerada uma doença e não afecta a liberdade de ninguém).
A par da Astrologia e da dimensão metafísica (como a religião, por exemplo), a Psicanálise é uma teoria fechada, ou seja, não permite a refutação e por isso ineficiente, falaciosa e cientificamente inválida.

Como defende Karl Popper, a psicanálise é uma pseudociência, pois uma teoria seria científica apenas se pudesse ser falseável pelos factos.

A própria tentativa de patologizar a homossexualidade tem que ver com a garantia do poder político não mudar de mãos (tal como a escravatura; exemplo: ao darmos a liberdade aos negros/as, os/as negros/as farão, como uma espécie de vingança, o mesmo aos brancos/as). É uma forma de reprimir os gays e as lésbicas, de remete-los para um beco, um gueto, um lugar obscuro, invisível.

É claro para se perceber porque é que a homossexualidade não pode ser considerada uma doença. Ela não cumpre dois pré-requisitos nosológicos:

a) Não afecta a liberdade do outro;

b) Não põe em causa o bem-estar do indivíduo que é homossexual;

Ora, se a homossexualidade foi considerada uma doença em tempos deveu-se fundamentalmente a este último ponto. Os homossexuais eram estereotipadamente retratados como depressivos, neuróticos-obsessivos, com tendência para o suicídio, excessivamente temperamentais, etc. Havelock Ellis vem dizer que afinal essas tendências depressivas se devem à pressão social e ao preconceito e não à homossexualidade per si, havendo muitos homossexuais que são socialmente ajustados e mentalmente sãos.

Mas valeu o esforço. Para finalizar, poderia utilizar um cliché psicanalítico gay e referir que tamanha homofobia poderia indicar uma pulsão homossexual inconsciente mas não o farei. Não quero tentar explicar o desvio heterossexual, não que considere a heterossexualidade exclusiva um desvio, apenas uma neurose, logo daí não perceber porque é que os heterossexuais devam ter “determinados benefícios fiscais”, mas isso deixo para Freud explicar.

1 comentário:

Mr disse...

ADOREI PAH! Ainda bem que ha pessoas como tu que conseguem defender a homossexualidade de gente maluca como esse homem!