quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Hercules & Love Affair na Casa da Música (A love that last for good)


Confessem que estavam ansiosos/as pelo meu comentário sobre a noite de dia 4 de Dezembro na Casa da Música. Pois bem, ei-lo.


Poucas foram as vezes que tínhamos (eu e o Rafa) ido à Casa da Música. Deduzi erradamente que só os jets é que estariam destinados a circular por lá. Talvez pela cultura musical que propunha - óperas, jazz, etc – mais ligada às classes mais altas. Apanhado pelo meu próprio preconceito…


A nível estético, o edifício é como a coca-cola: primeiro estranha-se, depois entranha-se. E entranha-se bem pois o edifício é lindo. Estruturas minimalistas misturadas com pinturas barrocas, bancos futuristas de mão dada com escadas surrealistas fizeram as minhas delícias. Ideal para sessões fotográficas.


Da mesma forma, nunca tinha ido ao Clubbing Optimus


Chegamos, eram 22h, sempre com o receio do atraso iminente. O alisamento da juba, os nossos momentos a saborear duas grandessíssimas taças de champanhe rascofe e as típicas filas (bichas?) de trânsito parece que se uniram para não nos deixarem chegar as horas. Vencemos! Para pena nossa não entramos pela porta principal (oooh). Primeira noção: pessoas de diferentes classes (mais classe média e média-alta), lado a lado, mais gays por metro quadrado do que o Pride à sexta-feira à noite, sem consumo. Punks, góticos, snobs, vanguardistas, novos-ricos, homens, mulheres, (muito) jovens, adultos (que tarefa ingrata de dizer “idosos”), etc. Em suma, a pós-modernidade em acção.


Entramos na sala 2. Uma sala vermelho-escura, apenas iluminada por um letreiro pseudo-neon azul metálico e por rapagões de dois metros e músculos a condizer. Não sei se o erro foi dos nossos relógios, da programação ou se a Boavista têm um fuso horário diferente do resto do país mas os H&LA, que era suposto subirem ao palco às 23h, apenas o fizeram à meia-noite. Atraso para inglês ver? Provável.


Antes disso, assistimos a um set de um DJ, já nem sei o nome, que nos deixou, como diria a Gaynor, “petrificados”. É o que dá os (quase) 15€ que pagamos. Não fazíamos ideia que tal preço permitia-nos assistir a tod@s artistas que iriam actuar na CM. O DJ era bom. Um warm-up gostoso antes do apogeu.


A sala começou a encher a olhos vistos. Procuramos um lugarzinho no centro-esquerda (coincidência ou não com as minhas ideologias políticas). Tic toc, tic toc. De repente, um Andy Butler entra na sala a correr e ordena aos seus pupilos e aprendizes de pupilos (eu inclusive): Dance! Dance! Dance! Como se estivesse a mandar o pessoal evacuar o edifício de umas chamas rosa retro. Neste caso, mandou-nos ficar. E nós não poderíamos ficar quietinhos com tamanho ímpeto. Dançamos e ardemos!


Nem sinais da belíssima Nomi nem do soturno Anthony. Chuac, chuac. Na sua vez vieram um cantor (ou cantora, não percebi bem…) negro, com umas rastas esquisitas, trajado a rigor com um vestido de luz arabesco. Não sei o nome mas sei que veio directamente de NY o que, sejamos sinceros, é mais “memorizável” do que o próprio apelido (Shaun, i guess…). Do outro lado do palco (mais do nosso lado), uma cantora negra, cabelo afro, inserida milimetricamente num vestido azul às bolinhas brancas translúcidas. Era a mistura exacta de um travesti com a vocalista dos Ebony Bones. Falava um português fluido. Daniella Negro (acho que) era o nome dela. A comandar as hostes a vocalista, Kim-Ann Foxman. Com uma caviada preta lindíssima rasgada nos ombros, um boné de pele como aqueles que os gunas usam e calças largonas. Completamente dyke. Era giro ver a pequeníssima Kim, com o seu ar de macho-papi, a interagir com as suas ladies traveconas negras. Não se enganem, a sua altura não era proporcional ao seu vozeirão. Fiquei abissalmente surpreendido.


A sala encheu definitivamente, as magnificas backdrops de artefactos greco-romanos e espectros disco incitavam ao fulgor da dança e as batidas electro-house faziam-nos cair num vórtice 80’s. O álcool era o comparsa ideal: o Rafa bebeu uma vodka preta com sumo de limão – wham –. Em mim, os efeitos da cerveja oferecida pelo C. Optimus começavam a fazer-se notar.


Tudo começou com uma “true false fake real” revestida de sintetizadores bombados, seguiram-se algumas músicas que pensamos virem a constar do seu próximo álbum em 2010. A “Classique #2” magnetizou o Rafa (e o pessoal) mas o público acordou mesmo com a irresistível “Raise me up” sem o Anthony mas com duas marionetes negras e vivaças que interpretaram muito bem o seu papel. Eram as butchers do disco. A determinado momento, quando uma delas (a afro Daniella, protótipo perfeito de Macy Gray) decidiu pedir ao público palmas no ar e este parecia estar numa hipnose house, eu cumpri a ordem e ela sorriu-me! Passei a ama-la. De seguida, “Wonder Woman” fazia efervescer o fulgor house da multidão extasiada com um refrão cantado em sussurro por Kim.


O delírio total foi o mega-hit “Blind” e aí o público ficou cego. Da luz, do profissionalismo, do show, de tudo. Senti que aquele era um grande concerto. A “you belong” tardou mas apareceu no final: yuppie! Mãos no ar imploravam um encore e os pedidos foram satisfeitos: uma excêntrica “I can’t wait” (pelo próximo álbum?) foi um bombom de despedida e lá a Daniella (penso ser este o nome dele/a) declarou: “vocês são fantásticos! Vamos voltar!”. Graxa? Não apenas um grande concerto…


Ainda tivemos tempo para assistir aos devaneios de um rapper electro-punk da favela armado em “one-man-show”, dizendo atrocidades e abanando o seu bumbum peludo. Ideal para a ressaca. Para mais informações ver a crítica da Blitz aqui.


Nota: continuo à espera das fotos do concerto, o Rafa anda a dormir…


Concerto? Nota: 5

Sem comentários: