sábado, 2 de janeiro de 2010

23 - A conta que Deuz fez


Fazer anos sucks. E não da melhor forma. Não, não vou começar o texto com a típica crise existencial de quem têm menos um ano de vida...

BUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH (snif snif - choro)

Fazer anos realmente sucks. São os/as amigos/as (especialmente as amigas; as mulheres têm um prazer especial em fazerem-no), os/as familiares, os/as colegas, os/as desconhecidos/as do hi5, do facebook e de outras mil e uma redes sociais por inventar que aderem a um movimento social, que podia ter perfeitamente o nome sui generis, de vamos-lembrar-o-Hugo-que-é-um-velho-caquético-e-que-a-incontinência-é-uma-inevitibilidade ahahahah (o ahahahah também faz parte do nome do movimento).
Nada abona a meu favor. Nem o número. 23. Quem é que faz 23? 23 é um número feio. É um número cujo algarismos são a progressão, um do outro, como 12, 23, 34, 45, etc. Para me lembrar que as plásticas serão, um dia destes, uma das possíveis aplicações do meu dinheirinho, a placa dentrífica será um dos meus grandes objectivos de vida e andar de transportes públicos será uma experiência tão ou mais agradável do que uma viagem, com estadia paga, à Suiça pela Reinar. Ainda bem que o Alzeihmer me espera: sempre me vou esquecendo como é doloroso fazer anos. Diriam alguns/algumas: "que exagero!" É sempre um exagero sentir o pânico de nos aproximarmos do dia D. GRRR.

18 é o auge, 19 é um misto de acne e de alguma sensatez, 20 é o inicio do fim (a entrada na casa cujo algarismo da esquerda é um "2"), 21 até uma idade sexy, 22 foi (notem a utilização do verbo ser no passado: foi) uma idade egocêntrica e estranha e 23... bem, 23 é... é... a ponte para os 24, a idade limitrofe da actividade sexual de um homem gay urbano classe média baixa: "Procuro homem até aos 24".
That's the point. É exactamente isso que mais me preocupa. A minha actividade sexual tem cessado drasticamente desde dos meus 20, o que me leva a crer que ela é inversamente proporcional à idade. Bingo Hugo, descobriste a pólvora. Substituir um preservativo pelo bricolage é como ser dono de uma multinacional e passar a arrumar carros no Parque da Cidade. 23, 23, a conta que Deus fez e destina a todos os seres humanos (os mais felizardos - ou não). Fuck, sou ateu...

Existem três coisas que os homens gays adoram (e sim, aqui dou-me ao luxo de generalizar; tenho idade para o fazer): Madonna (ou numa variante mais pós-moderna, Lady GaGa), fellatios (não, não deriva etimologicamente de "falar" embora envolva bocas) e culto céltico à beleza física (cremezinho, ginásiozinho, roupinha de marquinha, etczinha). Se a idade é também inversamente proporcional à beleza física, tal como o é em relação à actividade sexual, estou perdido. Terrivelmente perdido. Se o meu apelido fosse Clonney ainda me dava ao privilégio de ser comparado com um cálice de vinho de Porto, assim não. O máximo a que me podem comparar é a um balde de cerveja (e a barriga colossal que deriva do seu consumo excessivo).

A parte séria: Não há nada que me chateie mais do que crescer. Crescer por fora. Contudo, a terrível sensação de crescer por fora e não por dentro é mais aterrorizante. E mais aterrorizante ainda é a sensação que cada soprar de velas se vai tornando irrelevante como se fazer anos fosse tão comum como acordar todos dias. E é. É de acordar todos os dias que estamos aqui a falar. Acordar com os olhos e com o corpo mas sobretudo, com a sensação, intencional é certo, de dever crescer por dentro e ao crescermos por dentro torna-se cada mais irrelevante fazer anos. Melhor, todos os dias são o meu (nosso?) aniversário. Acordar é parte do processo. Acordar. Sempre! Até que cheguemos ao dia em que os nossos olhos se fecham eternamente e o nosso espírito possa finalmente, de uma vez por todas, soprar as velas com toda a força.

2 comentários:

João Roque disse...

Eu também não gostaria de fazer 23 anos (de novo), e digo-o com conhecimento de causa. Quando tive 23 anos fiz muitas coisas porreiras e das quais tenho saudades, mas não melancólicas, é melhor dizer "boas recordações"...
Mas, depois dos 23 fiz coisas ainda mais porreiras e das quais tenho ainda "melhores recordações"; pelo menos até aos 30, que considero a melhor idade do homem, com um equilíbrio perfeito entre o físico e a experiência.
Mesmo hoje, continuo a fazer coisas porreiras, embora já me seja de alguma forma penoso olhar muito para trás.
Se assim não fosse, como seria o mundo? Seríamos todos uns tristes a sonhar com o "Retrato de Dorian Gray".
Goza a vida, o melhor que puderes e souberes, e é tudo.
Abraço de felicidades.

Leman disse...

23 é um número primo, único, e só terás novamente esta hipótese daqui a mais 6 anos.
E daqui a 23 anos poderás continuar a ter hipóteses perfeitamente fantásticas, e ainda mais fabulosas, pelo menos foi o que me aconteceu.
E a tua vida sexual só poderá melhorar, e neste campo falo pela maioria das pessoas mais velhas que tu que conheço.
Felicidades e obrigado pelos textos que vais produzindo, e ainda que não concorde com alguns deles, reconheço-lhes uma clareza de raciocínio que me encanta