sábado, 13 de março de 2010

Os perigos do bullying aos agressores


Opinião de leigo e, (espera-se), futuro mediador sócio-pedagógico:

Eu sei que vou ser acusado de lirismo se rejeitar o velhíssimo esquema de “erro-castigo” para punir os agressores do rapaz que se suicidou em Mirandela, contudo, será, de facto, essa uma solução viável? Atenção, não estou a dizer que deva haver punição: um erro deve ser invariavelmente interpretado, na óptica simbólica, de algo que é mau mas essa punição (prefiro, nestes termos, chamar-lhe orientação), isoladamente, surtirá, futuramente, o pretendido (isto é, a internalização da fuga ao erro)? Não me parece. A punição, como algo desprendido, nunca surtirá efeito se não for acompanhada de mecanismos que amparem e previnam situações idênticas no futuro (psicólogos/as, assistentes sociais, etc). Aqueles rapazes que, certamente, viram nas agressões que efectuaram um sinónimo de escoamento para múltiplas frustrações (conflitos familiares, afectivo-sexuais, relacionais, económicos, etc), vão, possivelmente, ser vítimas de estigma na escola e na comunidade e as suas frustrações, “justificação” para a violência que praticavam, vão se tornar mais óbvias e aí sim, justificadas. Devemos (nós, sociedade, e comunidade educativa), na minha perspectiva, acompanhar estes/as jovens, não no sentido pacóvio da coisa, como se fossemos substitutos de um diva freudiano, mas numa perspectiva de tentar perceber e, antes de explicar, compreender, o que originou este processo? Até que ponto foi algo pontual ou não? Será repetido? Se sim, o que fazer para o evitar? Pensar na repressão, em termos de castigo impiedoso, destes jovens como uma estratégia eficaz é, antes de mais, cair no mesmo erro; depois, é negligenciar os processos que lhe deram origem e, por último, é amplificar o estigma a que estão sujeitos/as e que, possivelmente desencadeou esta violência.
Outra consideração: alguém duvida que o bullying quando efectuado entre rapazes possui sempre dinâmicas de homofobia? A homossexualidade masculina e, principalmente, a expressão queer, anti-heteronormativa, é o bode expiatório da ausência de masculinidade dos homens, nem que seja de forma simbólica. Independentemente de as vitimas serem, de facto, gays ou não. Será este bullying uma manifestação de homofobia? Em caso positivo, os intervenientes educativos e outros e a comunicação social não vai prestar muita atenção.

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