sexta-feira, 2 de abril de 2010

Abrazos Partidos



Assistir a um filme de Almodôvar é como apreciar um quadro de Dali. Lá estão contidos, de uma forma diluída, um conjunto de metáforas, demónios interiores, simbologias indecifráveis, mistério e imprevisibilidade que, ao mesmo tempo que confundem o/a espectador(a)/apreciador(a) de arte, ao mesmo tempo o confortam com uma familiaridade invulgarmente gritante. “Abrazos Rotos” é assim.

À primeira vista (tirando o facto de o personagem ser cego), “Abrazos Rotos” parece ser um remake heterossexualizado do “La Mala Educacion” (até resgata um dos actores principais, ): tem romances controversos e sofridos, passados sombrios que se misturam com presentes igualmente inusitados, mistério que se conjuga com a imprevisibilidade (temos a certeza do desfecho e, de repente, nada é aquilo que parece), meta-análises sobre filmografia (um filme que retrata os processos de um outro filme que, por acaso, se mistura com a história), enredos gordinhos, iconografia gay que baste (personagens – gays, não heteronormativos ou de sexualidade fluida –, ícones – Jeanne Moreu, Andrew Hepburn, etc –, música camp, tragédia, etc), intensidade feminina (o ex-líbris dos filmes de Almodôvar e, consequentemente, complexos de Édipo mal resolvidos (mães sofredoras, pais ausentes ou, metaforicamente, cegos).

“Abrazos Rotos” continua a ser um grande filme para quem ame Almodôvar (tipo, eu) e nunca se canse de o revisitar, para outros/as pode ser uma total falta de originalidade mas numa coisa devemos estar, à partida, de acordo: a Penélope Cruz está divinal! Nunca a apreciei muito como actriz; sempre a tinha achado demasiado singela e pouco expressiva mas em “Abrazos Rotos”, Penélope Cruz é elevada a diva (particularmente nas cenas em que se parece com Andrew Hepburn).

Nota? Nota: 4,5. “Abrazos Rotos” é, apesar de tudo, um bom filme.

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