sábado, 29 de maio de 2010

Basta de tangos (e tangas!)


Não consigo perceber. Estamos em crise, certo? Certo. Quem provocou a crise? Os bancos da ganância desenfreada que desataram a conceder créditos a quem não os pode pagar, certo? Certo. Quem paga? As classes sociais mais desfavorecidas. Ou seja, quem não tem culpa directa da crise, quem deveria estar salvaguardada pelo Estado e a quem o Estado prepara-se para dizer: nada de feriados, nada de décimo terceiro mês, subsídio de desemprego só para quem trabalhou durante 15 meses, trabalho para quem fez desconto e está desempregado (nem que seja a recibos verdes e em condições marginais), medidas (ainda mais) apertadas para a atribuição do RMI, aumento da idade da reforma, fim dos abonos e da Qualificação Emprego (coitados/as dos recém licenciados/as). Sim, o Estado que deveria controlar a imundice das empresas sem escrúpulos obcecadas pelo lucro fácil e pela desumanização das pessoas, é o mesmo se prepara para atacar as pessoas e estar do lado das empresas (co-var-dia!).

Dirão: O estado deveria controlar? Não será um discurso muito “ditatorial” para alguém que se intitula liberal? Respondo: não entramos no perigoso engodo do relativismo (que a direita tanto abomina)? É o vale tudo do capitalismo?

Medidas de arbitrariedade, perdão, austeridade que só desprotegem as classes mais desfavorecidas e que as jogam para a necessidade de concessão de empréstimos verificando-se através o mesmo joguinho cíclico e vicioso que iniciou a crise.

Dirão: mas os grandes culpados foram as pessoas que se endividaram? Respondo: os grandes culpados foram os bancos que não souberam por travões. Pior: fecharam os olhos propositadamente para que o curso natural das coisas fosse o endividamento das pessoas e o lucro «através do pagamento das dívidas. Pergunto-me: se o Estado ajudasse estas pessoas, elas teriam esta necessidade? O Estado tem que ser corajoso. Há muita covardia, lobbys, relações de poder e ganâncias que conspurcam a atitude moral das pessoas. Mas tudo já foi dito e mais que mastigado. Não adianta estar a remoer ou a procurar bodes expiatórios mas atenção, tira-se o pão, cria-se ladrão. Depois não se queixem!

O século XIX foi o século da separação entre o Estado e a Igreja (note-se a falácia da notícia da Renascença, muito comum às dos diários económicos). Espera-se que este seja o século da separação entre Estado e Capitalismo.

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