quarta-feira, 9 de junho de 2010

Kelis - Flesh Tone

Sempre que alguém fala comigo sobre o seu gosto quase doentio por Beyoncé ou Janet Jackson ou Rihanna surge-me uma imagem forte na cabeça: a etnicidade africana. As cantoras referidas podem-se desdobrar em múltiplas personagens, tocar inúmeros géneros, vestir este ou aquele modelito mas essa ideia persegue-me: elas são reduzidas à sua cor de pele. O mesmo tipo de preconceito surge quando falo de Kelis, a autora de poderosos hits como o perverso “Milkshake” ou o contagiante “Trick me”. Contudo (há sempre um “contudo”) o novo álbum da cantora é qualquer coisa de transcendente: se o “I feel cream” da Peaches, o “Ciao Tiga!” do Tiga e o “Fame Monster” da GaGa foram os meus álbuns de 2009, “Flesh Tone” da Kelis, a par do “Head First” dos Goldfrapp, é o meu álbum 2010. Incrivelmente…

Basicamente o álbum, produzido por Guetta e Will!am, é uma mistura acertada entre o house (Guetta), o electro (GaGa) e o funk (Prince, ou na sua versão mais moderna, Sam Sparro). Kelis surge como uma diva eléctrica das discotecas usando e abusando da mesma imagética excêntrica de GaGa numa versão mais tribal (e o preconceito justifica-se). Nunca pensei que um álbum de Kelis me deixasse tão entusiasmado mas temos que reconhecer a versatilidade da cantora que vai desde do r’n’b novencista e agressivo de “Out There” até à sensualidade funk de “Bossy Girl”. Apertem os cintos, a experiência “Flesh Tone” vai começar:

1 – Intro



Para começar é uma intro invulgar porque, ao contrário das intros tradicionais, tem 3 minutos e tal. É uma mistura entre um warm up de Donna Summer com um vocal a tocar de leve Alison Goldfrapp (mas sempre com a rouquidão de Kelis a marcar pontos). É uma espécie de invasão alienigiena básica: “We control the dancefloor”. Quem somos nós para discordar?
Nota: 3

2 – 22th Century



Depois da entrada triunfante é a vez das boas vindas. Por acaso, é Sam Sparro chapado (até porque o cantor tem uma música com o mesmo nome). Pseudo-plágios à parte: é pura house. Se a ouvíssemos nas discotecas não diríamos que era Kelis. Tem a mão de Guetta? Concerteza e termina com uma experimentação de piano receado de loops electrónicos.
Nota: 4

3 – 4th of july (fireworks)



Se existe música no álbum que é a cara chapada de Guetta é esta. Aliás, a canção é uma revisita do hit “One Love” do DJ com Estelle mudando só a protagonista. É mau? Não. Pelo contrário, é original. A fusão entre o funk e o house nunca foi tão bem conseguida. Em alguns momentos Kelis parece Timberlake. “4th Of July” acerta na data: é a música ideal de Verão. Em resumo: a minha preferida do álbum; apetece cantar (a rima é estúpida, reconheço): you make me high just like the sky on 4th of july…

4 – Home




A contrário do título, a canção é agressiva e crescente. Quase que juraríamos que Benny Benassi tinha comparticipado na produção do álbum. Não. “Home” é magistral sem cair no ridículo da “azeiteirice”. O electro-techno marca presença e Kelis divaga (dentro do possível). Satisfaz.
Nota: 5

5 – Acapella



Primeiro avanço do álbum. “Acapella” é o mix perfeito de funk tribal e house de Ibiza. Uma letra simplória mas pertinentemente apaixonada. No clipe, qualquer semelhança com GaGa é pura coincidência. Pulsante, sedutora e mega-pop. A pista virou selva!
Nota: 5

6 – Scream



Guetta, guetta, guetta! Rebusca-se algum do house eigties (cujo H&LA vão usar e abusar nas suas apresentações ao vivo) e mistura-se com o french house de Guetta. Voilá: hit perfeito. Sound the alarm/Rise your arms, canta pausadamente. Se isto nao é Bob Sinclair vou ali aumentar o volume e já venho.

7 – Emancipate



Prince e stereo house são as palavras que poderiam descrever esta canção sofisticada e enérgica. Os coros evocatórios, a necessidade de liberdade 80s e o quase-sample de remisturas dos Tecnotronics fazem o resto: pronta a ouvir.
Nota: 5

8 – Brave



O electro vence o house-funk e Kelis entra numa de disparar em todas as direcções, mantendo sempre a sua aura de essência black. Guetta não falta e se nunca tivesse criado a “Love Don’t Let Me Go”, “Brave” seria a sua marca registada. Poderosa e viciante.
Nota: 5

9 – Song For The Baby



Apaixonadamente funk 80s (as raízes black vem ao de cima) com a sempre pitada de house (muito próximo do lounge). O álbum termina aqui, com uma canção onde as palavras, que eram escassas noutras faixas, dominam o cenário e exigem que Kelis seja considerada a nova musa da música pop. Ou funk. Ou electro. Ou melhor, house.

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