sexta-feira, 9 de julho de 2010

The Golden Cage



Das aulas teóricas de Métodos de 2006 (na minha fase “quero lá saber disto!”), recordo-me da Profª Sofia Marques Silva, à qual admiro imenso dentro da Faculdade sendo uma das minhas “ídolas”, a empregar uma expressão de uma socióloga, julgo eu britânica, nem sequer sei o nome (mas que por força dos factos deve ser estruturalista), que se refere à relativa autonomia que os seres humanos tem nas suas vidas sendo que estas são socio-historicamente construídas através dos discursos e das praticas e dependentes de relações de força e poderes diversos (politico, ideológico, económico, cultural, etc): golden cage.

Golden Cage significa, traduzindo para o português, “gaiola dourada” e é uma expressão genial. Ao mesmo tempo que estamos presos/as numa gaiola (condicionados/as pelas estruturas) temos uma certa permissividade (dai a gaiola ser dourada, cor do privilégio).

Faz-me lembrar a história das golden shares. Há quem critique o facto de o Estado se imiscuir nos assuntos privados da propriedade, de o fazer através de regalias “especiais” (não vejo o pânico moral aqui visto que os próprios empresários e empresarias detêm privilégios face aos seus e suas subordinados/as), de controlar as liberdades individuais, etc. Eu vejo as coisas de uma forma diferente.

Independentemente de todas as nossas características identitárias (e outras) estamos todos/as filiados/as ao Estado através da cidadania e da justiça social, tendo direitos e deveres. Seria uma enorme falta de tacto certos grupos sociais porem e dispor das suas economias (reais ou simbólicas) de tal forma que comprometa essa cidadania e essa justiça social, sendo até anti-ético e paradoxal. A golden share é legítima. Ponto. É uma forma de dizer que as empresas não fazem o que querem. Não podem agir sem escrúpulos.

Não deixa de ser irónico que quem proclame mais Estado para as questões da segurança e dos costumes em nome da coesão social atente violentamente o Estado Social com privatizações galopantes quando foram estas privatizações e estes jogos de poder que definiram o Estado Crísico da economia mundial (na imagem vampiresca do/a banqueiro/a). Estado Social que é o símbolo civilizacional máximo dessa mesma coesão social.

Assim, é a tal história diática da golden cage. Liberdade e condição. Direito e Dever. Não se pode proclamar liberdade para umas coisas e condição para outras. Isso é manipulação da democracia que esta cada vez mais enfraquecida pelas constantes más interpretações e retóricas que lhe reduzem ou conspurcam o valor (ver o desejo voraz do PSD em rever a Constituição). Pobre PSD, sempre no dilema: encerrado numa gaiola dourada e querer voar sem puder cortar as asas aos/às outros/as ou ficar na gaiola e esta perder o seu brilho faustoso de puro ouro.

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