Agosto é, por excelência, o mês do Verão e como tal de la fiesta, da música e da dança. Por isso optei por fazer duas playlists com 12 músicas (cada uma com doze malhas) e não foi nada fácil porque tive que cortar muitas e muitas boas canções como a balada eloquente da Christina Aguilera (mas secante às vezes pois é muito negativista fazendo lembrar a «Hurt»), o regresso inusitado dos Arcade Fire, o novo hit dos Snow Patrol ("Just Say Yes") que, de facto, nada nos traz de muito novo, os devaneios electro-pastiche de Enrique Iglesias ("I Like It"), a promessa dark house de Kele Orekeke ("Everything You Wanted"), a resposta masculina da "Just Dance" de GaGa na voz do bonzão Darian ("Girl Next Door"), a frieza caústica de "White Robes" das meninas que um dia eram lésbicas (por conveniência) e agora são mais heteros que a Katyzinha (El TaTu), assim como, a (re)descoberta de músicas mais antigas como o bem coreografado e vintage "Maybe" de 2003 piscando o olho à demanda 007 (falo de Emma Bunton), a melancólica "Symphonies" de Dan Black (a paredes meias com Kid Cudi) de 2009 e o megahit house "My Heart Goes Boom" de French Affair perdido no báu transloucado de 2000 (depois do bug).
Posto isto., seleccionei as faixas que mais me acompanharam no mp3, no telemóvel e no rádio rumo à praia. Plurais mas centradas na componente da dança. Aqui vai a primeira playlist:
Playlist de Julho:
1. Hurts - Wonderful Life (Arthur Baker Remix)
2. Basement Jaxx ft. Yoko Ono - Day Of Sunflowers (We March On)
3. Morcheeba - Even Though
4. Noisettes - Never Forget You
5. Chromeo - Fancy Footwork (CSS Remix)
6. Kele Okereke – Tenderoni
7. Kelis – 4th Of July
8. Goldfrapp – Alive
9. Yoav - Beautiful Lie (Robert Remix)
10. The xx - Islands
Tiesto ft. Tegan & Sarah – Feel it in my bones
Desta vez o rei germânico das pistas de dança convidou gente famosa para o seu álbum de 2009 ("Kaleidoscope") como Nelly Furtado, Kele Orekeke ou Tegan & Sarah. Este "Feel it in my bones" de facto tem um efeito estranho nos nossos ossos. É enérgico como Tiesto mas emotivo como a dupla Tegan & Sarah. Resulta e não deixará as discotecas descansadas.
N.E.R.D. ft. Nelly Furtado – Hot And Fun
As misturas entre o R'n'B mais chique, os ritmos caribenhos e a aspereza da batida levaram sempre os N.E.R.D ao centro nevrálgico da polpa pop mainstream. Muito se deve também ao hedonismo declarado de Pharell e da sua voz sexualmente magnética ("She wants to move" remember?). Desta vez convidaram Nelly Furtado (está em todas!) e prometem um hit escaldante (e sexy) para os dias de Verão mais exóticos e... quentes.
Hot Chip - Feel better
Os magos da electrónica childish decidiram entrar numa de evidente provocação e no seu clipe ironizam o fetichismo boysband que tanto marcou os finais da década de 90. Desejos obscuros ou mensagem subliminar: "se nós fossemos assim, gostariam mais de nós?". Hot Chip andarão com crises de identidade e/ou auto-estima? Não se percebe pois a sua música está cada vez melhor. Do experimentalismo electrónico difuso até à operacionalização house foi um tirinho (ou melhor, um tirão porque já têm 4 álbuns, embora todos eles com muito pouco espaço de intervalo). "Feel Better", sucessor do exótico "One Life Stand", entra na mesma linha horaciana do Carpe Diem nas malhas de um sintetizador e de um refrão que grita pop em todas as direcções. Cada vez eles feel better. E fazem música better...
Maria Clementina – Veio a Maria Clementina
A onda irreverente de mistura entre o tradicionalismo e a modernidade é uma fórmula comum de sucesso entre as novas bandas portuguesas tal como o terramoto electro/hip hop de Timbaland ou o black/house dos BEP o são para os mercados norte-americanos (e não só) em fim de decáda último. Tudo começou em "Humanos", trespassou "Deolinda" e culminou em Maria Clementina (a primeira banda virtual portuguesa; uma espécie de "Gorillaz"com sotaque lisboeta). Na onda indie-pop de uns Clã ou de uns Mesa, cantam os amores e desamores (metáforas até dar com um pau ou não estaremos nós a falar do obscurantismo lusitano, de Eça a Pessoa) de uma Maria Clementina. Perguntam vocês: prima afastada da Maria Albertina? Não, muito próxima...
Katy Perry – Teenage Dream
No reino encantado de Katy Perry (onde peluches com acne desatam a cantar o amor gay com guitarras ao pescoço) tudo é válido. Já se reparou, no entanto, que a onda rock (plastificado, é certo) é uma constante em Perry e os devaneios vocais (que não dão para muito) são tolerados. Fora disso, Katy Perry não promete grande coisa em termos de pop. Tirando uma ode aos beijinhos entre meninas... Com este Teenage Dream mais vale acordar em La Vegas!
Diego Miranda ft. Liliana – Just Fly
Depois do furacão house do "Ibiza for Dreams", o maior rival do Pedro Cazanova decide mais uma vez recrutar a maior rival de Andreia, Liliana das extintas Nonstop, para um dueto de sucesso. "Just Fly" transporta-nos outra vez para o sonho house. A Rynair não tem mãos (ou asas) a medir. Também, não íamos a Ibiza a pé, né verdade?
Crystal Castles – Vanished
A banda que utiliza sons das Nintendo para criar hits (e que se envolveu com polémicas de plágio com Madonna, sendo, pela primeira vez nestas situações, Madonna a acusadora), apresenta "Vanished", um torpedo electro-pop alternativo de alma punk/rave. Subterrâneo como uma mina que guarda o segredo de uma discoteca 80's ou luminosa como uma bola de espelhos multicolor. Seja como for, estranha-se? E entranha-se...
Brandon Flowers – Crossfire
Demorou mas tardou: Brandon Flowers, vocalista dos (ex, não ex, já não sei...) The Killers, a solo! Porquê é que já não me espanta esta onda dos vocalistas de bandas, mais tarde ou mais cedo enveredarem (ou experimentarem com o intuito subliminar de enveredarem) por uma carreira solitária? Uma masturbação rápida? É que nem se trata de onanismo pois Charlize Threaton, qual vingadora em Kill Bill, trata de dar um arzinho da sua graça com esperado girl power. A música essa, é mais do mesmo: uma balada épica a fugir para o country solarengo. O que se poderia esperar de Brandon Flowers? Música rock-pop?
Medina – You & I
Há sempre uma música de Verão que fica nas nossas cabeças (nem é uma questão de gosto, é uma forte estratégia de marketing). Desde do longínquo "Summer Jam" dos Underdog Project até ao poderoso "I Gotta Feeling" de BEP e Guetta, que se poderia traçar uma genealogia com tais ilações. Ainda é cedo para afirmar que o furacão house de Medina (uma versão da one hit wonder, Gia, mas negra) se pode converter a salvadora das pistas de dança mas, pelo andar da carruagem, não tardará muito.
Klaxons – Echoes
Os meninos britânicos, auto-intitulados megalomaniamente Reis inquestionáveis da Rave mundial, estão de volta. "Echoes", retirado de "Surfing The Void", não é mais do que uma versão virada do avesso de uma Golden Skans (ou o seu eco) com prego a fundo nas guitarradas. Não desgostamos mas para quem promete muito, esperamos mais...
M.I.A – Paper Planes
Evocar M.I.A. é evocar as desigualdades gritantes entre os países do Norte e do Sul. Toda a imagética de M.I.A. incide nesse orgulho de uma classe desfavorecida oprimida pela etnizição e classicismo daí as críticas a GaGa (representante do capitalismo norte-americano) ou o apelo ao free download (sendo até suicídia da parte da artista tal evocação). Os seus clipes são, por isso, inversões radicais da beleza normativa da burguesia pós-moderna, branca e masculina. E o espectro feminista e o alheamento propositado do universo mainstream norte-americano é que separa M.I.A. dos seus congéneres rappers, muitos vezes paradoxais (criticam o money system mas andam sempre soterrados de ouro) e polémicos (atente-se no piscar de olhos a Clockwork Orange do clipe de "Born Free") exibindo a crueza e veracidade das vivências dos mais desfavorecidos (muito bem registada no filme "Who wants to be a slummdog?"). Quase que vangloriando a atitude de quem se rege pela lei básica da sobrevivência. Em "Paper Planes", essa lei está bem patente no refrão: «all i wanna do (ouvem-se disparos de uma pistola) and take your money (ouve-se o tilintar de uma caixa registadora)».
Yolanda Be Cool – We Speak No Americano
«Why Don't" dos Gramozheinde iniciou uma era em que a electro-house largou os pudores quanto à música dos girlie groups dos anos 60 e se imiscuiu de mansinho nas pistas. De sotaque cubano faz-se este potencial hit. It's only electro-tango and we love it!
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