sexta-feira, 22 de julho de 2011

A Católica vai nua


Quem pensou que o neoliberalismo não traria consigo os símbolos mais patéticos do neoconservadorismo que se engane. De facto, esta ligação antinatura (como diria o professor António Magalhães) é evidente e sistemática. Ao ler esta notícia pensei que os/as alunos da Católica teriam que andar com os sapatos "Prada" do Papa ou todos/as de batina ou hábito de freira...


Em primeiro lugar, como se define essas formas de vestuário? Visto que existe uma intersubjectividade partilhada que torna indefinível o que se entende por "formas de vestuário dignas e convenientes etc e tal". Se não é especificado e consubstancializado, o sentido perde-se: o que para mim é adequado, para sujeito y pode não ser e vice-versa.

Em segundo lugar, a Católica - assim como todas as universidades - rege-se pelo princípio da não discriminação em função da religião. Apesar de terem um plano privado de funcionamento estão sobre o aval do Estado (laico) e não podem contrariar a Constituição. Se lhes apetecesse queimar homossexuais na fogueira ou apedrejar ateus não poderiam (apesar de ser tentador para o núcleo duro da sua administração; ai ai a tentação...). Da mesma forma, tem que haver respeito por alunos/as de outras religiões que não a católica que se queiram vestir de forma diferente das "adequadas de uma Instituição da Igreja".

Em terceiro lugar, toda a sensibilidade mesquinha e assistencialista de conteúdo religioso católico ("vinde a mim pobretada!") perde-se a partir do momento em que se tornam insensíveis ao facto das classes médias baixas - e mesmo socialmente desfavorecidas; sim, porque elas também existem nas privadas - se servirem de um vestuário considerado mais light. De facto, vestuário de acordo com os parâmetros religiosos exigem dinheiro (uma caviada não custa o mesmo que um fato e uma gravata).

Em quarto lugar, apesar de todo o discurso funcionalista de teor neoliberal/conservador, parece que a educação também é performance; neste caso, trata-se da disciplinização moderna e foucaultiniana do corpo; uma forma ideológica de homogenização - e franca desigualdade. Já Assumpção Cristas - a beta do CDS - se preocupara com isso, curiosamente de forma inversa.

Em quinto lugar, acho irónico que a Católica - as privadas de forma geral - critiquem o sistema público de ensino e sejam mais papistas que o Papa. Liberdade? Poh...

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