quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Bananas


Desenganem-se aqueles/as que acham que, pelo título, vou discorrer o meu ácido sarcástico-sexual sobre delírios eróticos disfarçados de crónicas singelas de cariz claramente fálico, como manda o cardápio drag da gay culture. Não. Vou falar de política e neste campo (ou melhor, no que se refere a determinados setores desse campo) a única coisa onde posso introduzir (cof, cof) o "factor fálico" é mesmo na expressão do meu desejo libidinal de "mandar tudo para o caralho".

Pois bem, os resultados eleitorais para a eleição do Governo na Região Autónoma da Madeira deviam ser analisados, não por analistas políticos mas sim por psicólogos. Penso existir aqui material mais do que suficiente para a Psicologia Social de Massas (não sei se tal designação existe…) se entreter nos próximos dez milénios.

A vitória do PSD/Madeira, partido político com Alberto João Jardim à cabeça, provoca o nojo e o vómito a qualquer pessoa civilizada, seja ela ilhéu, continental, europeu, não-ocidental, etc. Os/As madeirenses que votaram Jardim fazem-me lembrar aquelas pessoas que, sendo acerrimamente contra as touradas, são vitimas constantes da ornamentação córnea e, perante tal evidência mais do que evidente (quando toda a gente já se esmerou em falinhas mansas para fazer ver ao manso a questão; afinal de contas, é-se o último ou última a saber), desatam num impulso, irrefletido ou não, a proteger o pobre amante, incompreendido claro, no seu amor fulgurante que faz a Santa Casa da Misericórdia e um rol de Instituições de Solidariedade Social parecerem mais forretas do que o Tio Patinhas.

Só encontro três explicações para tal facto: a conhecidíssima síndrome de Estocolmo ou a síndrome de ser português. A primeira reporta-se ao sentimento de afeto que a vitima (por exemplo, em casos de rapto ou abuso sexual) desenvolve pelo/a raptor/a ou agressor/a. A segunda trata-se de um factor histórico-cultural profundo que, ainda hoje não nos conseguimos desenvencilhar e é herdeiro do quase meio século de ditadura salazarista que tivemos e nisso madeirenses ou continentais, estamos todos/as no mesmo saco. Ou ilha. A terceira explicação? Puro sadismo.

Precisamos de alguém com (aparente?) pulso forte que nos diga o que fazer. Que tenha a palavra certa, o gesto certo, a atitude certa, o ato certo, enfim, “A” verdade singular, una, homogénea e infinitamente dogmática. E quem melhor para tal efeito do que um direitista extremista para quem o fascismo é bastante plausível, saudoso do demente slogan “Fátima, Fado e Futebol” e que diaboliza tudo o que é continental (e europeu e ocidental e mundial e planetário e… bem, “O Outro” é sempre “O Outro”) de uma forma escancaradamente populista, rude e empertigada? Aliás, esse culto ao Dux, tão evidente com Jardim, Salazar, Hitler, Mussolini ou até mesmo a Troika (sim, porque não tenho dúvidas nenhumas que iremos cumprir o programa, ao contrário da Grécia, sem grande agitação maior), é o sintoma mais claro da submissão bacoca das “nossas” gentes lusitanas (whatever that means), escondidinho no armário do pseudo-vanguardismo moderno das sociedades democráticas que dizemos amar.

Costuma-se dizer que cada um tem o que merece; a Democracia é assim mesmo, constituída por voz, voto e veto e, em alguns casos, não tem que ser racional, apesar de o seu (re) nascimento iluminista se dar sobre o símbolo, por vezes, retórico da Razão. Neste caso parece que os/as madeirenses tem o que merecem. Oxalá não caiam num buraco sem fundo. Ou melhor, em pleno estado de hipnose coletiva ainda não se deram conta da profundidade do buraco. Mas eles resumem bem o ser-se português: são aquilo que o senso comum da moral pública ou as epistemologias chamam de conformistas, a metáfora denomina de cegos e a minha avó designa de “bananas”. Ou não estivéssemos nós a falar da Madeira.

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