terça-feira, 29 de julho de 2008

Tratado sobre a tomada do poder

Este panfleto político disfarçado de novela infantil já tinha sido publicado em Portugal, sob o título O Triunfo dos Porcos, mas surge outra tradução, de Paulo Faria, com novo título, A Quinta dos Animais, mais próximo do original inglês de George Orwell, Animal Farm. Nomes e detalhes geográficos foram alterados, para aproximar o texto do estilo original de fábula. Este livro polémico (odiado à esquerda, incompreendido à direita), é conhecido em Portugal, mas a a nova versão da Antígona merece leitura atenta.

O clássico de George Orwell foi concebido como narrativa política, de crítica anticomunista, mas a sua essência permanece tão actual que quase podia ser um tratado sobre a tomada do poder. A Quinta dos Animais é um livro antitotalitário, escrito a pensar no destino fatal da Revolução Russa, mas que podia muito bem aplicar-se aos contemporâneos Zimbabwes. As personagens são esquemáticas e simples. Há um tom geral de comédia sinistra. O livro conta-nos a substituição do preguiçoso senhor Reis pelo porco Napoleão e acólitos, da transformação de um sociedade opressiva numa outra, onde a opressão é, talvez, ainda mais radical e cínica. Esta é sobretudo a comovente história da morte das utopias e dos efeitos da soberania da linguagem. Orwell, que conhecia os mecanismos do totalitarismo, inventou neste texto uma das grandes frases do século XX: "Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros."


Luís Nave
, Notícias 26 de Julho, 2008





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