segunda-feira, 9 de março de 2009

Dia Internacional da Mulher


Ontem foi o Dia Internacional da Mulher. Em conversa com a Joana (uma amiga de longa data) surgiu a pergunta em forma de hipótese: E se tivesse sido mulher noutra época?
Hoje em dia, com a actual integração do direito da mulher no consciente colectivo da nossa sociedade, todo o processo reivindicativo, decorrente de décadas e ate séculos anteriores, torna-se tão esquecível. Direitos tão básicos como o direito de voto, o direito ao trabalho assalariado ou o direito à educação, hoje já mais do que conquistados, era algo que não estava ao alcance de todos. Ou devo dizer todas?
A Joana interrogou-se se ela se revoltaria contra o sistema ou simplesmente ia ao sabor da corrente. Pergunta de resposta difícil. É muito difícil contextualizar a questão. A importância que o “aqui” e “agora” contém é demasiado poderosa para formular respostas simplistas sobre estas questões. E também não vou fundamentar uma dissertação ou elaborar uma tese de mestrado sobre o tema.
Hoje as mulheres portuguesas já podem votar, já tem acesso ao trabalho assalariado e a educação quer-se para tod@s mas até que ponto? Apesar da conquista do sufrágio universal, existem muitos entraves, muitas vezes não estruturais, à participação das mulheres na política. Apesar de, felizmente, Portugal ter um dos menores índices de disparidade salarial do conjunto dos países europeus, as mulheres continuam a receber 30% menos do que os homens no exercício das mesmas funções. Apesar de a educação ser para tod@s, as expectativas de sucesso escolar nos rapazes é superior ao das raparigas, o que de certa forma, manipula também os resultados escolares a nível geral.
Além destas problemáticas existem ainda questões tão relevantes como a violência doméstica que vitimiza predominantemente a mulher independentemente da sua raça, credo, etnicidade, orientação sexual ou classe (caso actual da cantora Rihanna), que apesar de as denúncias aumentarem e a APAV desempenhar um papel importantíssimo nesse espectro (como por exemplo, a publicação de cartazes como alertas) os casos continuam a aumentar. Sabemos que os homens também são vítimas mas os moldes em que a violência é exercida são diferentes. Na maior parte das vezes são as mulheres que estão financeiramente dependentes dos maridos agressores e não se conseguem libertar e dar um passo em frente. Ou até mesmo permanecem pelos filhos. Em muitos casos os agentes limitam-se a encaminhar a mulher para casa, conversando apenas com o marido sem aceitarem a queixa. Mesmo se a mulher apresentar marcas visíveis de violência física. Para não falar da violência psicológica, invisível mas igualmente danosa.
A identidade feminina marca a quarta vaga da acção feminista na actualidade sendo a violência doméstica um dos graves problemas dos tempos modernos. Mas questões como o aborto, a contracepção, a (homo)sexualidade, a transexualidade são também problemáticas em que é mais evidente que as discrepâncias entre géneros continuam a existir. E falamos, claro está, da mulher portuguesa, reflexo da mulher ocidental mas se viajarmos para outros países, muçulmanos por exemplo, e observarmos que existem mulheres em que chicotadas ou pena de morte são os castigos para uma traição (e o homem permanece impune curiosamente) ou que se pratica a mutilação do clítoris para assegurar que a mulher não é infiel negando-lhe o prazer sexual, então observamos que muito existe por fazer. Para não falarmos daqueles direitos básicos acima mencionados.
Poderíamos culpar o sistema do patriarcado ou a naturalização do sexo mas isso só desviaria a nossa atenção para o problema crucial.
Espero que as novas gerações (homens inclusive) se interroguem: E se tivesse sido mulher noutra época? e fiquem felizes por as coisas terem mudado.

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