segunda-feira, 20 de abril de 2009

Dos Mapas e dos Territórios




1. A organização perceptiva da maioria das pessoas parte do geral para o particular. Por regra, quando olhamos, por exemplo, para alguém, vemos primeiro a grande mancha que permite a identificação de que se trata de uma pessoa, e só depois se vai detalhando especificidades: o género a que pertence, a idade que tem, a cor de pele, o modo como está vestida. Até chegar aos pormenores da cor dos olhos, do formato das sobrancelhas ou das unhas, de um dado sinal característico ou de um detalhe que nos permite saber se é casada, está triste ou tem os sapatos rombos, precisamos de mais algum tempo e de algum interesse em perscrutar.


Mesmo sabendo que são os pormenores que nos podem propiciar as informações mais precisas e diferenciadoras da singularidade do nosso sujeito em observação, quase sempre o nosso interesse não chega para mais generalidades que facilitam a vida em sociedade.


2. Exactamente porque a maioria de nós possui essa característica de ver ou apanhar as coisas no geral, tendemos, em imensas matérias, a achar que percebermos razoavelmente o que nos rodeia, a fazer juízos de valor sem muita ponderação, a considerar como fáceis tarefas que depois se revelam complexas ou a ter a convicção de que sabemos, ou somos capazes de vir a aprender e dominar com rapidez, zonas de conhecimento que nos parecem, de longe, atraentes e sem grandes espinhas.

Agimos e pensamos como se o que nos rodeia fosse um mero mapa de um território a que não conseguimos ou não queremos aceder e, quase estranhamente, ficamos satisfeitos com isso.
Parece que nos chega ter umas ideias sobre a realidade que nos cerca quando, não mesmo, julgamos preferível que assim seja em quase todos os domínios. Não vá o conhecimento do verdadeiro território desiludir-nos, inquietar-nos ou mostrar-nos os nossos limites escondidos.


3. Os territórios, todos os territórios: físicos, conceptuais, afectivos, tem cheiros, paladares, densidades e coloridos que não podem figurar nos respectivos mapas. Têm, também, perigos não assinalados e gratificações inesperadas.
Mesmo que se saiba ler muito bem os mapas, isso nada diz do que se pode ser e fazer nos territórios em que a vida se joga e algumas pessoas existem.

Isabel Leal, psicóloga in Noticias Magazine, nº 882, 19 Abril de 2009


Sem comentários: