
Quando reparo em alguns estudos sobre sexo, género, sexualidade ou educação sexual não deixo de sorrir com alguma ironia quando a questão da homossexualidade, pura e simplesmente, não aparece.
Mas a minha questão fulcral não é essa. De facto, em muitos estudos recentes sobre sexo, a questão da homossexualidade parece surgir, normalmente nas questões estatísticas. As perguntas mais relevantes, relativas a essa dimensão, são: “Considera-se homossexual?” ou “Já teve alguma experiência homossexual?” (Ver estudos da Visão)
Contudo, o que me provoca um valente ataque de riso são as respostas percentuais: “5%”, “6%”. Respostas percentuais que parecem só existir para nos distinguirmos de países não ocidentais como o Irão e não chegarmos à conclusão que “afinal, os homossexuais não existem, aqui no Ocidente”.
Outro motivo para rir são aquelas conclusões de que a mulher é tendencialmente bissexual. Desculpem, mas estou-me a grisar outra vez. Leiam este meu poste e percebem porquê. Escusado também será dizer que os estudos cujo ilações finais são essas são elaborados, normalmente, por homens heterossexuais.
A questão dos estudos estatísticos e a sua veracidade são um assunto polémico em Psicologia, particularmente no que se refere à população LGBT, por questões óbvias de impossibilidade de comprovar a orientação sexual e a sua imutabilidade e relativas ao estigma da visibilidade homossexual.
Já desde dos velhinhos anos 50 que Kinsey, o pai da sexologia, comprovou que 10% da população norte-americana considerava-se homossexual e que 36% dos homens já tinha tido, pelo menos, uma experiência de cariz homossexual (sexo oral/anal/masturbação). E estamos a falar de homossexualidade masculina. Com tal facto, Kinsey foi imediatamente atacado, principalmente no que toca à viabilidade da escolha da amostra (homens presidiários) e porquê? Porque certas verdades não são para serem ditas.
O mais irónico é que, apesar das sociedades ocidentais começarem a abrir a sua mentalidade relativamente à questão da homossexualidade, o número (10%) tenha diminuído dos anos 60/70 (anos decisivos no movimento dos direitos LGBT) até aos nossos dias (cujo aceitação supostamente deveria ser maior), para 5, 6%. Estranho não é?
Não sei até que ponto a percentagem não terá também um motivo político, com o objectivo de controlar as mentalidades: se se comprovar que os homossexuais são demasiados, obrigaria a reacção homofóbica a ser mais intensa, então dá-se um número percentual para ver se agrada aos homofóbicos que esperam que nós sejamos poucos (o que contradiz a sua homofobia, na medida, em que os homossexuais, como são apenas 10%, não representam um perigo para a perpetuação da espécie, logo, não devem ser reprimidos) e os homossexuais porque, embora minoria, se perspectivarmos que 1 em cada 10 pessoas não é hetero até parecem alguns. E os próprios 10% também me parecem uma percentagem estranha…
Em 2005, o Expresso publicou um estudo onde se afirmava que 10% dos portugueses era homossexual. 1 em cada 10 pessoas. 100 em cada 1000. 1 milhão em 10 milhões de portugueses. A questão é: homossexual tipo quê? Gay ou lésbica? Tudo junto? E os bissexuais? E os transsexuais? E as pessoas, homens e mulheres, que ao longo da sua vida experimentaram, pelo menos, um acto homossexual (oral/anal/masturbação)? E aquele/as que se ficam pela curiosidade? E aquele/as que recalcam os seus desejos homossexuais ou bissexuais, por vários motivos que confluem num: a homofobia?
Partindo da minha experiência pessoal, pergunto: quantos homens que eu conheço, alguns pseudo-heteros como o filho do meu padrasto que agora está casado com uma mulher mas que teve varias experiências homossexuais comigo, nunca na vida confessariam ser homo ou bissexuais a um/a psicólogo/a, mesmo num clima de anonimato e confidencialidade?
Acredito piamente que, nós homossexuais, sejamos uma minoria e condeno estudos entusiastas que digam que sejamos uma maioria mas não contem comigo para acreditar que 10% é um número bonito, porque, sejamos sinceros, o filho do meu padrasto nem consta nele.
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