terça-feira, 21 de julho de 2009

Comportamento de risco: a homofobia


Hey, três postes quase seguidos com tag LGBT…

Pois bem, o ministério da saúde acabou de assinar uma directiva em que legitima que se pergunte, no caso dos homens que querem dar sangue, se este teve relações sexuais com outro. Em caso positivo, este já não pode dar sangue.

Sendo assim, quando achávamos que certas leis, obtusas, decadentes, leis do século XIX já estariam ultrapassadas, parece que voltamos a ter que nos a ver com elas.
Esta lei é HOMOFÓBICA! Claramente… Quando tomei conhecimento da notícia até fiquei pálido.
O argumento desses senhores é que:

1 – Não se está a discriminar homossexuais porque não se nega a doação de sangue por parte das lésbicas. Pois, mas em última ánalise, está-se a discriminar o sexo das pessoas e discriminação relativa ao sexo é crime;

2 – Não se está a discriminar homossexuais porque não se pergunta a orientação sexual. Pergunta-se apenas se a pessoa (do sexo masculino) já teve ou têm relações sexuais com outro homem. DAH! É preciso lembrar qual é a definição de homossexual masculino? Óbvio que uma pessoa pode ter relações sexuais com outro homem e não ser homossexual (pode ser bissexual ou heterossexual que teve uma ou duas experiências) mas a maior parte dos homossexuais masculinos têm relações sexuais com homens. É óbvio que o alvo deste apartheid são homens gays.

No meu parecer:

1 – O único critério para a aprovação do sangue recolhido deveria ser a qualidade do mesmo. Quando alguém (homem, mulher, hetero, homo) vai dar sangue, este é analisado por meios e mecanismos altamente eficientes. É claro que nada é 100% seguro. O preservativo não é 100% seguro, a existência de Deus não é 100% segura. Contudo, a veracidade dos testes são mais de 90% viáveis. Se o objectivo é acabar com as infecções de doenças através das transfusões de sangue, não é por aí. Contudo, o objectivo é outro;

2 – Esta lei é hipócrita porque qualquer pessoa pode mentir ou omitir factos. Eu, gay, posso omitir ou mentir e dizer: “não, nunca tive relações sexuais com outro homem” e mesmo assim dar sangue”. É claro que não é legítimo porque, além de ser uma invasão da privacidade, ter que mentir sobre a minha identidade não devia ser viável, por uma questão de princípios e simbolismos;

3 – E se os meus familiares precisarem do meu sangue em caso de doença? Não lhes posso dar?
4 – Esta lei só vem contribuir para a confirmação de um estereótipo funesto e irreal, resultante dos anos 80: “gay = seropositivo”, e que o sexo entre homens é algo a evitar. Algo largamente ultrapassado e sem sentido nos tempos que correm;

5 – Discriminações relativas à orientação sexual são CRIME! C-R-I-M-E! Será que esses palhaços conservadores já não respeitam a lei?

6 – Uma defesa desses homofóbicos lambe-cricas é que não se discrimina a identidade mas sim o acto. Idiota! Como é que, se respeita a identidade e se rejeita simultaneamente o acto? A homofobia ataca a identidade, não o acto. Não se diz “cometeste um acto apaneleirado”, diz-se “TU ÉS PANELEIRO!”.

7 – Compreendo que o sexo anal possa se traduzir em mais riscos para a propagação de doenças sexualmente transmissíveis do que outras formas de actos sexuais. Mas quantos homens não praticam sexo anal com as suas mulheres? Quantos homens heterossexuais não vão a prostitutas, muitas delas, infectadas com doenças sexualmente transmissíveis, nomeadamente, HIV-sida? Quem disse que o acto sexual mais praticado entre homens gays é o sexo anal? Uma boa parte dos estudos não sugerem isso… De referir também que a prostituição feminina (logicamente orientada para homens heterossexuais) é muito mais comum do que a prostituição masculina (não necessariamente orientada para homens gays). O herpes vaginal não afecta milhares de homens heterossexuais? O herpes vaginal é uma doença de homens heteros?

8 – Gosto da forma como se chama a esta proibição “cientificamente comprovada”. Não, tenho mesmo que me rir! LOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL a superioridade da raça ariana também foi “cientificamente comprovada”;

9 – Querem factos científicos? A incidência de HIV-sida em gays é, de longe, inferior à incidência em homens heterossexuais, na actualidade. Mesmo sabendo que os heterossexuais (homens e mulheres) são uma maioria. Há discrepâncias relativas a assimetrias de proporção;

10 – Não é estranho que esta lei apareça agora em tempos de eleições autárquicas e legislativas e numa altura em que se ande a discutir os direitos dos homossexuais referentes ao casamento e à adopção?

11 – O casamento não será uma fórmula de evitar comportamentos de risco e controlar a promiscuidade?

Sem comentários: