quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Lady GaGa - Tha Fame Monster



Passei as últimas semanas num frenesim caótico à procura de uma brecha no sistema para sacar em primeira mão o prometido segundo álbum de Lady GaGa. Consegui a semana passada. Afinal era só um EP. Quem esperou algo (muito) diferente, desenganou-se. The Fame Monster é o The Fame, tal e qual. Muda apenas o conceito e a batida glam e luminosa condensa-se num espectro gótico e (pseudo) industrial. Nem a referência 80 é capaz de sair do sítio.

Susto a susto:

Bad Romance



A cara chapada de GaGa. Progressiva, carregada de intensidade electro e deita pop por todos os poros. Peca pela letra, simplória, ridiculamente simples e repetitiva. Embora não seja por isso que me impeça de a ouvir 500 vezes por dia.

A história é acessível mas não menos polémica: GaGa é uma inocente rapariga drogada com vodka por duas andróides (?), levada pela máfia russa intergaláctica com o objectivo de ser vendida como prostituta. Crítica à indústria musical? Possível. Tal como em “Paparazzi”, explora o efeito dominatrix que traz consigo inevitavelmente contornos macabros: acaba por incendiar o seu comprador (para aumentar a vertente feminista o fogo sai pelo seios), muda 6 vezes de roupa (não, não é exagero) e aparece nua (mas mais valia estar vestida pois o seu corpo alienígena artificialmente anorectizado não está com nada). Mas a polémica não acaba aqui: a cantora acompanha os seus carrera brancos, com um longo vestido glacial feito de… pele de urso polar. Será que a PETA anda a ver videoclipes?

O clipe é ideal para criar um universo próprio da artista com influência da ficção científica (Metropólis, Matrix – reparem nos efeitos especiais que são usados quando a artista fica rodeada de diamantes) e dos mitos urbanos (GaGa Bathouse), sempre fazendo uso de coreografias mainstream com a finalidade de apelar ao público jovem.

De referir que a versão do clipe é diferente daquela que saiu da net há umas semanas atrás (a do clipe é muito mais experimental).

Ultima consideração: como todas as músicas pop pastilha elástica, vicia!

Nota: 5

Alejandro



A canção inicia-se com um instrumental que apela à pose latina e uma GaGa com sotaque desesperantemente sexy e denso incita ao imaginário voodoo como se estivéssemos presos a um feitiço. Bem, e estamos mesmo!

Os sintetizadores são uma arma fatal e os nossos ouvidos são alvos móveis. Os low downs da canção impulsionam um refrão carregado de tensão erótica com um caliente Alejandro (ah, e não nos esqueçamos do Fernando e do Roberto). É a continuação viciante de Bad Romance mas em versão latina e sexy.

Nota: 5

Monster



De todas as canções esta é talvez a que capta melhor o som melancólico do pop industrial e gótico dos anos 80. Hipnótica, agita-nos como um vórtice ao som de um apaixonante vocoder angustiante: “he ate my heart” e de um Red One quase imperceptível. O refrão simplório (como manda o cardápio) entranha na cabeça como uma familiaridade incomum. Afinal, quem nunca amou um monstro?

Nota: 5

Speechless




Todos os artistas têm uma área musical que funciona um bocadinho como uma extensão fetichista daquilo que o artista costuma fazer (ou por gosto pessoal ou por imposições dos patrões/patroas). GaGa não é excepção. A cena jazz dos anos 60 (aquela a que Amy e Duffy vão beber) é o guilty pleasure de GaGa. É aí que a artista deixa os seus graves e a sua poesia irregular divagar. “Speechless” é um exemplo perfeito. Apesar de não ser má de todo, fica um pouco descontextualizada com o conceito do álbum e além disso alguns b-sides do género, como “Let Love Down” ou “Fooled Me Again, Honest Eyes” conseguem demonstrar maior coerência.

Nota: 2

Dance In The Dark



A única consegue rivalizar com “Monster” em termos de semelhanças na apropriação do pop gótico dos 80. As metáforas que misturam críticas ao conceito de beleza e à escuridão conseguem ser, surpreendentemente inteligentes. Em termos gerais, a sonoridade não difere muito de muitas das cantigas do The Fame. Mantêm-se o compasso beat it, as repetições e o lirismo fútil. Destaque para o (curto) rap vogueizado no final da canção e para a sonoridade fade out que faz parecer a música uma experiência passada minimamente agradável.

Nota: 4

Telephone (ft. Beyonce)



Será uma forma de agradecimento por Lady GaGa ter feito uma participação especial no clipe de “Videofone” de Beyonce (note-se as semelhanças no titulo) que fez com que a ex-Destiny Child participasse na canção com um rap muito sui generis? Não saberemos. Sabemos sim que a intensidade electro é retomada em grande força. Recurso a som de telefones (Hung Up?), a funk progressivo (Black Eyed Peas?) e refrões vibrantemente onomateipizados (Poker Face?). Primeiro estranha-se, depois entranha-se. Futuro single?

Nota: 4

So Happy i could die



E o ritmo abranda novamente. A pulsão pop-art do costume é transformada em ecos melancólicos que nos fazem querer dar voltas e voltas por ruas desertas e abundantemente iluminadas no centro da cidade. Era ideal para abrir o álbum. Ao fechar dá a sensação de ressaca.

Nota: 3

Teeth



Mais um exercício de voodoo. GaGa passa de garota maravilha do electro-pop norte-americano a uma feiticeira africana pseudo-porno. Seria original se não fosse enfadonhamente previsível. Canção sem grandes solavancos, apesar de título macabro.

Nota: 3

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