segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Referendar o Referendo


O referendo ao casamento entre PMS é, ao contrário do que vaticinam aqueles que o defendem, um atentado democrático.

É uma invasão da privacidade visto que estamos a dar a uma maioria de pessoas o poder para decidir o que uma minoria de pessoas pode ou não aceder e, por isso, pode ou não pode fazer. Pergunto-me se essa maioria gostaria de ver a sua privacidade devassada. Se gostaria de que lhe dissessem indicações sobre o que fazer na sua sexualidade.

É um atentado democrático pois é um desrespeito pelo programa de um partido (o PS), que mesmo não tendo maioria absoluta, foi escolhido para governar o país pela maioria das pessoas que foi votar e, eventualmente, é um desrespeito pelo programa de outros como o BE e o PCP que têm uma opinião favorável, de forma geral. É óbvio que quando votamos, fazemo-lo de uma forma a calcular os pós e os contras (falo por mim). Contudo, imaginemos que tínhamos que fazer um referendo sobre cada proposta de um partido político. A um nível mais específico, pergunto-me se teríamos que referendar um programa escolar, uma receita de frango estufado na cantina de uma empresa ou a cor de verniz de uma deputada (quiçá, de um deputado…) qualquer por ser demasiado ofensivo?!

É um atentado democrático pois é o usufruto de preconceitos e estereótipos sobre determinado grupo de pessoas (cidadãos e cidadãs) que, durante séculos, foram tratadas como aberrações subhumanas. É atirar uma questão, essa sim de igualdade democrática, para um antro de carniceiros que nada tem a perder mas que se acham no direito de legislar sobre modelos da sexualidade que já não se coadunam (alguma vez foram os únicos?), na sua forma exclusiva, com a realidade social. Teremos que preservar os modelos tradicionais de uma sociedade como, por exemplo, as touradas ou referendarmo-las?

É um atentado democrático e um atestado de estupidez. É colocar nas mãos de uma população (neste caso, a portuguesa) a decidir sobre um assunto que não domina. Imaginem por um médico a decidir sobre permanentes ou um pescador a decidir sobre química. Ridículo! É usar a homofobia social (aquela homofobia que todos/as nós temos um pouquinho) para negar direitos a todos/as. Embora até fosse giro descobrir que afinal o resultado do referendo seria diferente…

É um atentado democrático na medida em que se vai responder a uma questão que não põe (nunca pôs e, muito provavelmente, não porá) em causa a liberdade de ninguém. É despotismo puro de uma certa elite direitista e, a acontecer o referendo, de uma maioria sobre uma minoria. Despotismo é compatível com a democracia que tanto apregoa os “referendistas”?!

É um atentado democrático pois se decidíssemos sobre o voto das mulheres ou o fim da escravatura ainda hoje elas não poderiam votar e existia um/a escravo/a em cada casa portuguesa de alta socialité. Achamos admissível? É um atentado à dignidade humana!

Poderá alguém fazer uso da democracia para dar cabo da democracia?! Referendar o casamento entre PMS é dar cabo da democracia. Que ninguém esqueça o exemplo do referendo suíço sobre os minaretes árabes.

Afinal não havia tantos problemas para resolver? Para que fazer um referendo? Contradições…
Se é viável haver um referendo ao casamento entre PMS, pergunto-me: é viável haver um referendo ao referendo? E, em caso positivo, é possível haver um referendo ao referendo do referendo? E por aí fora…

Casamento para tod@s é democracia, casamento para alguns é fascismo! Ora, fascismo NUNCA MAIS!
Ou querem referendar se o Estado português deverá ser fascista novamente?!

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