terça-feira, 30 de março de 2010

Goldfrapp - Head First (2010)

É raro, muito raro, gostar de um álbum inteiro, sem uma única excepção nas faixas, à primeira audição. A última vez que me aconteceu foi com o “I Feel Cream” da Peaches (2009). Não que este “Head First” dos Goldfrapp tenha muito a ver com o o eletroclash da cantora canadiana (embora também não ande assim tão longe) mas porque são álbuns que entraram direitinhos para o meu mp3 e, ou muito me engano, o primeiro vai marcar o ano de 2010 (assim como o “I Feel Cream” marcou o de 2009).

Fazer um álbum inteirinho dedicado aos eighties, nesta altura do campeonato, parece chover no molhado ou, em bom português, falta de originalidade, mas uma banda que já tinha sido ( e têm sido) rotulada como uma das melhores bandas de electrónica do mundo e nunca tocar nos monstros sagrados da pop luminosa dos 80, parece ser insensato. E se não o fazem agora quando o farão novamente? Goldfrapp, que sempre tive em boa estima embora afastados do meu pedestal musical, ganharam um novo fã.

Reconheço todo o artifício e plasticidade do álbum (o que peca por, após algumas audições, cair no esquecimento, principalmente, quando nada nos traz de novo) mas tenho que reconhecer que não ter um álbum destes em casa é não apreciar música, mesmo que essa música seja um quase plágio repescado, contudo fresco, da década da bimbalhice sonora. Tenho (temos) que reconhecer que música pop é música de entreter e o duo Goldfrapp consegue faze-lo. Primeiro com a cabeça e depois com a música.

Faixa a faixa:

1 – Rocket




Electricamente inebriante, (muito à custa dos volts assertivos dos sintetizadores), beats retro (que parecem ter sido pedidos emprestados aos grandes hits da década de 80) e vocal sexy e onomatopaico (tem direito até a uma contagem decrescente à la Kylie Minogue). Este «rocket» parece ter ido mais longe que a lua e a sua alma pop com “P” grande pode fazer alguns estragos em certos tops mundiais (ok, europeus…). As pistas de dança flirtam com o “oh oh oh” do refrão e o corpo pede algum agito. O devaneio luminoso da canção faz lembrar “Physical” da Olivia New-John ou as melhores canções de Amanda Lear, ABBA ou Baltimora. Peca pelo clipe demasiado soturno para a música em questão e, por isso, descontextualizado.

Nota: 5

2 – Believer

Misturar Daft Punk com a ingenuidade de Madonna pode parecer complicado (e tanto que não é que, em 2000, o Music foi um sucesso da Rainha da Pop) mas «Believer» absorve toda aquela imagética minnie da Madge com loops radiosos Daft Punkianos. Canção audível mas enjoativa em alguns momentos.

Nota: 4

3 – Alive

Groove pop retirado directamente de uma narrativa qualquer sobre a ambição dos anos 80, teclados cintilantes que lembram Little Boots, acordes de piano e riffs de guitarra que parecem transportar-nos para um álbum de Scissors Sisters ou (na sua versão mais moderna) Mika. “Alive” é a cara chapada de um Flashdance e prova que os Goldfrapp estudaram bem a lição. O resultado? Uma canção descomplexada, fluroscente e sintética. A emancipação nunca foi tão bem cantada.

Nota: 5

4 – Dreaming

Uma programação electrónica, made in US, enredada na combinação de ambientação e cadência da New Wave europeia e os vocais numa tentativa de acompanhar uma batida up-tempo fazem desta canção uma obra-prima do álbum.

Nota: posso aumentar a escala para 100?

5 – Head First

A faixa-título do disco apoia os toques doces e nostálgicos do piano com as frequências FM sempre presentes. Dar uma espreitadela aos dourados anos 80 sem revisitar Bee Gees parece uma ofensa. E neste álbum, Goldfrapp esmeraram-se à séria.

Nota: 4

6 – Hunt

Teatral e lânguido. Mais uma vez, vénias a Kylie. A imagética é feminina, sempre: Aliston dá as cartas e a gente joga. Se houver uma junção perfeita entre o vintage 80 e a música ambiental, potencializada sobre um manancial de sussurros efeminados e sintetizadores retraídos, “Hunt” deve andar algures por aí.

Nota: 4

7 – Shiny And Warm

Agora é a vez do Glam. Vassalagem a Queen e a Bowie combinam com a canção que traz alguma contemporaneidade ao disco dos Goldfrapp e não anda muito longe do que eles fizeram ultimamente. A melodia a semi-voz faz-me lembrar a saudosa “Train” e a energia da canção dá para iluminar um quarteirão. Título perfeito!

Nota: 5

8 – I Wanna Life

Tal como “Alive” dava perfeitamente para ser a canção título do Flashdance ou do Fame e mostra-nos o quanto os Goldfrapp querem-nos impingir canções pop que se infiltrem na nossa cabeça. Venham elas!

Nota. 5

9 – Voicething

Basicamente é um instrumental a meias com os sussurros imperceptíveis e alienígenas de Alison. Parece ter caído de pára-quedas no álbum. Ode ao experimentalismo de “Feel Love” de Donna Summer? Inteligente! Mera canção para encher o saco quando não há letra? Ofensivo!
Nota: está dependente da intenção mas dou 2 porque, mesmo como instrumental, é fraco.

Sem comentários: