sábado, 24 de julho de 2010

20% de riquezas eclesiásticas e 80% de hipocrisia


Há hipocrisias que são insustentáveis. D. Carlos Azevedo defende que os políticos deviam criar um fundo social com 20% dos seus salários. Esperem, tenho que ir à WC e vomitar com todas as minhas forças. Acho que, quando alguém não percebe o ridículo da situação e a falta de racionalidade e sentido naquilo que profere, chegamos ao cúmulo da neurose.

Em primeiro lugar, acho demasiado ofensivo um padre (ou um outro qualquer elemento representativo de uma religião qualquer) vir a público manifestar-se sobre as suas posições pessoais sobre determinado tipo de assunto político. Como qualquer cidadão ou cidadã, num Estado laico, democrático e livre, poderá fazê-lo; como identidade representativa de uma instituição não-laica, considero uma provocação (porque não ouvir a opinião a um sem-abrigo? Ou a um beneficiário do RSI?). Acho uma terrível falta de sentido de oportunidade...

Em segundo lugar, religião e política são assuntos, apesar de interligados (porque todas as ideologias pensam no lugar da religião), separadas. Salientarão os arautos da "verdade" o peso "incontornável da ICAR como instituição de solidariedade. Então porque não se ouvem as instituições laicas de solidariedade?

Em terceiro lugar (e esta é a essência da hipocrisia), que moral tem um padre para pedir (de uma forma popularucha e exuberante como salienta Pedro Silva Pereira do PS) 20% dos salários dos políticos?! Que moral a Igreja, instituição do luxo e da ostentação, possui para tal observação?

O que a Igreja faz (e fez e fará) é uma estratégia que eu denomino de "produção de clientismo". Mostra-se muito aflita com as desigualdades sociais (e aproveitam-se da fragilidade das pessoas com a ideia viciante da Salvação Divina) para criar novos crentes em troca de uma mera esmola, sedimentando a verticalidade de poder e a "vidadependência" em troca da "fé". No final, dirá que a ICAR é indispensável para a coesão social. Óbvio, com tal estratégia, nem a hipocrisia nos salva da presunção e água benta...

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