segunda-feira, 2 de maio de 2011

Playlist de Abril

1. Britney Spears – Till The World Ends

«Femme Fatale» parece ter sido fatal para a princesinha mais badalada do momento (exceptuando Kate Middleton). Ao contrário de «Circus» que cumpriu o seu serviço enquanto regresso fulgurante da (então) Fénix da pop, este novo álbum (e sétimo de originais) deixou muito pouco a desejar, a começar pelo bombado «Hold it Against Me». Uma coisa é certa, a batida girlie pop foi extinta e substituída pela electrónica intensa digna de uma segunda versão do «Blackout» mas com uma fórmula mais do que mastigada e a tocar os limites do dubstep pimpolho. Este «Till the World Ends» tem uma componente mais etérea, é sofisticadamente calmo e autonomamente sexy. O clipe, apesar de não muito original (as semelhanças com «I’m Slave For You» são notórias) e pouco exuberante (o vestido vermelho é descaradamente rasca), também não é mau de todo (se tivermos em conta «Break The Ice» ou «If You Seek The Amy»). Espera-se uma mudança de Britney porque não iremos esperar até o mundo acabar.

2. Lady GaGa – Judas

O que foi dito a Britney pode muito bem ser aplicado à sua maior rival (desculpa Aguilera), Lady GaGa, que tal como Britney, é, indiscutivelmente, um produto fabricado. A novidade não é tanto a sua música, letra ou comentários (religiosos, sexuais, políticos, pessoais), outras atrás dela já o fizeram. É a sua bricolage identitária e a sua pastiche visual, tão pós-modernamente radicais, que eleva GaGa a patamares cimeiros, de tal forma que ela é mais ícone de moda do que diva da música. Este facto é uma das milhentas de semelhanças com a real (para usar as palavras de GaGa) [Pop] Mother Monster: Madonna, e já não falarei das semelhanças entre o novíssimo «Born This Way» e «Express Yourself: o mundo já entendeu que se tratava de um plágio descarado. A questão centra-se noutro aspecto. As parecenças inusitadas do «GaGavision» com o controverso «Blonde Ambition» (1990) de Madonna (a cara de GaGa, o falso showbusiness com direito a emoções teatralizadas) compatibilizam-se bem com o prazer de provocar a Igreja Católica com este «Judas», que, se não foi lançado na semana da Pascoa, será lançado em Maio, mês da Nª Srª de Fátima. Se recuarmos a 89 e nos lembrarmos de «Like a Prayer» reparamos que os plágios prosseguem tendo em Madonna o ideal catalisador. A paixão de Madonna por um Cristo negro é bem substituída pela paixão de GaGa (que será Maria Madalena no clipe) pelo rei dos traidores, Judas. Para piorar a minha teoria dos plágios, «Judas» é uma versão acelerada de «Bad Romance» à mistura com acordes similares à (espante-se) «Personal Jesus» de Depeche Mode onde até o efeito imagético é o mesmo. Nem tudo é mau em GaGa: mantêm-se o gosto pelos conceitos e a ousadia, o que não invalida a falta de originalidade. Para o quadro das semelhanças ficar preenchido, a Igreja excomunga GaGa. Caso para dizer: foste excomun-GaGa!

3. Beth Ditto – Open Heart Surgery

O percurso de Beth Ditto é igual a muitos outros. Começa numa banda (ou com uma postura) radical, anti-estalishment com ideiais punks ou hippies dizendo umas barbaridades e, mais tarde ou mais cedo, transforma-se, como por magia de fada, numa diva pop (Avril Lavigne, Kelly Osbourne). Neste caso, Beth seria mais a abóbora da Gata Borralheira. «I Wrote The Book» (que curiosamente – falando em plágios de Madonna – recria «Justify My Love» com voguing e tudo) é sexy mas não tanto quanto baste para transformar Beth numa Britney Spears em potência. Tal não significa que Dito, uma sapatão assumido, se converta numa deliciosa mistress. «Open Heart Surgery», em termos de sonoridade, consegue tocar épocas distintas. Por um lado, é uma óptima canção de house moderno lembrando Tiga ou Roisin Murphy; por outro lado, tem arranjos eighties que nos fazem recuar temporalmente lembrando a eterna «Don’t You Want Me» dos Human League. Até o clipe, demasiadamente minimalista, é um bom pretexto numa canção de letra inteligente e metafórica (Alanis Morissete?). O EP de Ditto («Desconstruction») é, talvez, um dos melhores EP’s (posso trata-lo com álbum apesar de ter só quatro canções?) deste ano. Muito bom mesmo. Adeus Borralheira, olá Cinderela.

4. Cocknbullkid – Hold On To Your Misery (Bellatrax Remix)

A minha nova descoberta, em termos de artistas, é Cocknbullkid. O nome é estranho mas a cantora entranha-se, e bem. A boa house synthpop, que hoje em dia de tão massificada terá que disputar o seu lugar com os Guettas e Will!ams deste mundo, poderá ver nesta cantora a salvação onde até a letra não é descurada como é tradição na synthpop (excepto Pet Shop Boys ou, a sua versão jovial, Hurts). Escusa de comprar o «Segredo» ou qualquer outro livro de auto-ajuda, «Hold On To Your Misery» não é apenas um placebo. É fresca, jovial e extremamente dançável. Para ouvir nos dias mais down ou stressantes.

5. Diego Miranda (ft. Vanessa) – Speed

Diego Miranda largou o núcleo nonstop (Liliana) e recrutou a ex-star da Academia de Estrelas, convidada do extinto programa das manhãs, «Fátima» e mascote da disco gay Trumps em Lisboa, Vanessa. Tirando essa novidade, o house de Diego continua igualzinho a si mesmo. Louvável pela sua qualidade (especialmente por ser português), inerte pela repetição da fórmula («Speed» é o «Toca’s Miracle» de Diego). Destaque para Vanessa e para a sua versatilidade e voz inconfundível. Pena que não se saiba reconhecer e valorizar os nossos artistas.

6. Jennifer Lopez (ft. Lil Wayne) – I’m Into You

Tal como previra, o novo álbum de JLO irá ser subestimado. Apesar da energeticamente fulgurante, inteligente (em todos sentidos) e ter percorrido os posts do facebook, «On The Floor» não teve uma merecida exibição nos topes, ficando-se por lugares periféricos (sexto na Billboard, por exemplo), o que, verdade seja dita, não é mau de todo. A sucessora, que estará a ser gravada neste momento no México (mais concretamente no icónico Chinchen Itza), é, mais do que a prova viva da inteligência de JLO (repare-se nas parcerias: Pitbull em «On The Floor», Lil Wayne em «I’m Into You», Taio Cruz na letra da dita cuja, RedOne em «Hypnotico», escrita por GaGa), um exemplo da sua versatilidade. Com uma sonoridade, mais refreada que o anterior single, mas igualmente catchy onde o electropop se encontra com o reggae e a sensualidade natural de JLO, faz lembrar uma ilha deserta. O feeling pop (as onomatopeias do refrão entranham-se na cabeça como restos de gordura no fogão) está intacto e aconselha-se. Ela está em nós. Impressão minha ou «Love?» será o meu álbum de Verão. Ou «Dance?».

7. Oh Land – Sun of a Gun

Outra artista sensação, outra boa descoberta. Atrevo-me a chama-la a nova “Little Boots” nórdica (perdão a Robyn), mesmo que a paradoxalmente ácida e doce «Sun of a Gun” soe mais a pop de cabaret do que a camadas modestas de sintetizadores. Em certo sentido, é a VV Brown branca (VV White?) onde até colaborações com SIA definem a sua pertinência. Não é genialmente genial mas é agradável ao ouvido.

8. Natalia Kills – Wonderland

Se GaGa copia descaradamente Madonna não é menos verdade que haja no mundo milhares e milhares de wannabes de GaGa, já sabendo, claro, que depois de Madonna parece que nada mais pode ser feito (ou acontecer) na pop feminina made in EUA, para o bem ou para o mal. O mesmo electropop/rnb digno de um clipe da MTV (Rihanna, Jessie J, Kesha); o mesmo gosto pela polémica num clipe onde se mistura indistintamente prostituição, drogas, violência policial, sexo anónimo, suicídio; a mesma imagética difusa, radical, excêntrica e sexualmente pujante. Assim é Natalia (que nome tão tuga!) Kills. E «Wonderland»? A canção, a nível lírico, vale muito mais a pena que os delírios enjoativamente românticos e pueris de Cyrus; a nível sonoro, nada de novo embora o refrão seja incisivo. Espera-se que Natalie não seja só uma one-hit-wonder e depois conversamos.

9. Copyright (ft. Imaani) - Nobody (Main Mix)

Uma das melhores faixas house do ano. Faz-me lembrar os invernos loucos do Bela Cruz. É pôr a tocar no volume máximo e rezar para pararmos de dançar.

10. Calvin Harris (ft. Kelis) – Bounce

Kelis fixou-se na house como ponto de partida para a construção de uma nova ética e estilo musical. Uma boa estratégia, diga-se de passagem que, encontra o seu fulgor máximo em «Flesh Tone» (2010), produzido por nomes como Guetta ou Tocadisco, sendo esse talvez um dos melhores álbuns de 2010. A estratégia pauta-se pela parceria com grandes DJs ou grupos pop-house (Ditto ou Orekeke já o tinham feito), como Benny Benassi (“Spaceship”), Basement Jaxx (“versão remix de Scars”), Duran Duran (“The Man who Stole The Leopard”). E claro, Clavin Harris (remix de «4Th of July»)! A novíssima do ultra mainstream DJ Calvin Harris, (Madonna, Minogue) «Bounce», que respeita/preserva o sentido rítmico tribalizado de Kelis sem nunca descurar a intensidade do electro plástico (e às vezes infantil) de Harris. Tirando a parte intermédia/final, é gostosa. Estamos perante a «Memories» de C. Harris.

11. Kele Orekeke – On The Lam

Não foi uma surpresa a saída de Kele dos Bloc Party, banda no qual era vocalista. Surpresa sim, foi o tipo de música que optou por construir a sua precoce carreira a solo. Demasiado pop para ser house, demasiado alternativa para ser pop, demasiado dançável para ser trip hop, obscura o suficiente para ser grande. «On The Lam», com uma letra curiosa, é o exemplo perfeito destas dúvidas, com uma só certeza: boa malha!

12. Darko – Define Joy

Por falar em ex-vocalistas, agora é a vez de Zé Manel, o ex-vocalista dos Fingertips. Esta coisa das decisões e mudanças requerem um ritual assertivo: mudança de nome (“Darko”) e estilo, neste caso, uma apropriação do pop cabaret mórbido da fase “Monster” de GaGa e uma pitada epistemológica de pós-modernidade queer no título: “Define Joy”. Pergunta complicada, já no caso do Zé, perdão, Darko, é fácil: os mesmos gemido s arrastados e infantis e a lamúria do piano. Definam boa música.

Outras:

Pleasurekraft - Carny

Metronomy - Heartbreaker (Diskjokke Remix)

Grace Jones – Pump The Bumper

Chromeo – Night by Night

Colton Ford – Lithium (Nirvana Cover)

Kazaky – In The Middle

Fagget Fairys - Feed The Horse (Original Mix)

The Knife - Got 2 Let U

Jon Cutler feat. E-Man – It’s Yours (Original Distant Music Mix)

Dangerous Muse- Fame Kills

Duran Duran (ft. Kelis) – The Man Who Stole The Leopard

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