sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Deus não existe, vai uma aposta?


A Aposta de Pascal, criada por Blaise Pascal, longamente apresentada no livro "Penseés", não é um argumento directo da existência de Deus. É um argumento que poderá ser considerado calculista, a favor de um comportamento humano de acordo com a existência de Deus, seguindo a "razão do coração". Este argumento tem mais ou menos o conteúdo que se segue:

Se você acredita em Deus e nas Escrituras e estiver certo, será beneficiado com a ida ao paraíso.
Se você acredita em Deus e nas Escrituras e estiver errado, não terá perdido nada.
Se você não acredita em Deus e nas Escrituras e estiver certo, não terá perdido nada.
Se você não acredita em Deus e nas Escrituras e estiver errado, você irá para o fogo eterno.


No entanto, este argumento apresenta-se como uma maneira muito maldosa para se tentar convencer as pessoas da possibilidade da existência de Deus. Se analisado, constata-se que é uma falácia do tipo argumentum ad baculum ou apelo à força, uma vez que ela afirma que "se deve acreditar no Deus judaico-cristão sob pena de ser severamente punido após a morte". O perigo e a crueldade desta forma de argumento foi denunciado pela filósofa Hipátia de Alexandria, por volta do ano 400dC, com o seguinte comentário, sobre o Cristianismo que crescia na epoca;

- Governar acorrentando a mente, através do medo de punição em outro mundo, é tão baixo quanto usar a força.

A Aposta de Pascal também incorre na falácia do tipo falsa dicotomia, quando reconhece a existência de apenas duas opções, acreditar ou não no deus judaico-cristão -- ignorando, porém, que existem milhares de outros sistemas de crenças, cada um com seu(s) respectivo(s) deus(es), a serem considerados como existentes ou não. A crença no "deus errado", de acordo com a maioria das religiões, é punida da pior maneira possível. Portanto, as chances de acertar acreditando no Deus judaico-cristão são muito menores do que o estipulado por Blaise Pascal, que é de 50%. Outra coisa a se considerar é o fato de existirem "deuses não-documentados" com propriedades bem diferentes do que as estipuladas pelas Escrituras: omnipresença, omnisciência, omnipotência, benevolência etc.

Esta "aposta" tenta nos levar a acreditar em algum deus, com o pressuposto que isto é muito vantajoso você estando certo e insignificante se estiver errado. Mas esta vantagem é ilusória, pois nunca foi provado que alguem recebeu tal beneficio. E o preço a pagar por crer não é insignificante, pois a pessoa precisa prestar obediência a lideres religiosos, seguir dogmas e tradições sem questionar, e contribuir financeiramente para manter a religião.

A Aposta de Pascal também pode ser usada para tentar-se provar que outras religiões estejam certas, como trocar as Escrituras pelos Evangelhos, ou pelo Corão, por exemplo. No entanto, o resultado, se devidamente analisado, mostrará que as possibilidades de se crer no deus estipulado são mínimas. A conclusão sobre o assunto é variável de acordo com as crenças de cada um. A Aposta, no entanto, independentemente das controvérsias religiosas, é um interessante jogo de argumentação, que mostra como levar as pessoas a um raciocínio errado.

É de Blaise Pascal a frase "O coração tem razões que a própria razão desconhece".

Texto retirado do wikipedia e adaptado.

9 comentários:

Anónimo disse...

A famosa citação de Pascal - de que é do nosso interesse em acreditar num Deus porque não perdemos nada caso exista falha em termos de lógica.

Existem mais hipóteses e não apenas essas quatro.

Mais, diversos matemáticos tentaram provar ao longo do tempo a probabilidade ou a existência de Deus, mas a seguinte creio sintetiza porque é que talvez exista:

Tudo no Universo tem origem em si mesmo ou noutro fenómeno qualquer.

Se formos a pensar tudo no Universo tem origem noutro fenómeno qualquer: desde as estrelas, aos planetas, radiação existente no espaço, energia, formas de vida...

Inevitavelmente chegamos ao Big Bang e não temos nada antes. Logo Deus tem origem em si mesmo.

Eu sei que isto não parece lógico, mas aí tem de se assumir a possibilidade de que existem coisas que transcendem a ordem física ou da lógica do universo que habitamos. Afinal, decerto que o Universo não se estende infinitamente para trás, e admitir que se estende seria abrir caminho para outras perguntas cujo respostas não fariam sentido.

O ateísmo e agnosticismo, o seu se calhar, surgem em resposta à violência da religião institucionalizada que usa Deus, escrituras sagradas, etc como ferramenta de controlo das massas, mas acaba por deixar de fora aqueles que conseguem conciliar a crença num ser superior com a ciência, e que não precisam da religião para acreditar em Deus.

pense nisso

Um abraço

Lobby Queer disse...

Existe uma incapacidade cognitiva de vermos as realidades numa lógica de continuidade. Somos, quase sempre, levados a ver as coisas por momentos: começo, fim. Se pensar bem o Big Bang não será muito diferente do fim do mundo, pelo menos na imagética de explosão a que, por norma, associamos os dois fenoménos. Aliás, a sua afirmação de que Deus terá origem em si mesmo é uma incoerência racional visto que afirma que todos os fenomenos têm origem em algo. Em última instância, poderíamos afirmar que, tal como Deus, os fenomenos não tem origem em coisa nenhuma o que seria incompreensivelmente uma fálacia.

Anónimo disse...

O que eu disse foi:

"Tudo no Universo tem origem num fenómeno ou em si mesmo." Excluídas todas as possibilidades de situações que têm origem em fenómenos que lhe são exteriores sobra Deus, é claro, com origem em si mesmo.

A transcendência não me parece que seja suposta ser explicada a uma mente, que independentemente de quão avançada as nossas possam ser, não vêm sem limitações. Conforme disse: há coisas que transcedendem o reino das leis pelas quais nos regemos.

E de facto não deixa de ter a sua ironia que os ateus insistam na existência de Deus exactamente com a mesma insistência que as religiões institucionalizadas insistem na imposição dos seus dogmas. A meu ver pecam ambos pelo mesmo: dogmas. Ambos tentam provar algo mas não têm provas daquilo que afirmam ou contestam.

Além do mais, nós sabemos de diversas coisas que têm origem noutros fenómenos, e sabemo-los descrever.

Da mesma forma as deficiências a que se refere no que toca aos nossos mecanismos de adquirir conhecimento, e na insistência em reconhecer uma linearidade aos fenómenos, deixa de parte algumas perguntas importantes:

-se o Universo tem principio no Big Bang, o que o antecede?
-se o Universo efectivamente não teve principio significa que se estende ao longo do tempo, infinitamente, em todas as direcções?

Eu? Eu acredito em Deus, mas não ponho de parte a possibilidade de ser uma fabricação nossa para que nos sentissemos mais confortáveis no nosso mundo, no nosso universo e por conseguinte menos expostos e sozinhos.

Mas como disse: por enquanto acredito :)

Lobby Queer disse...

Bastian, então Deus é a excepção. Se Deus é a excepção Deus é irracional pois rompe com o sistema normativo das leis gerais.

A transcedência foi usada, durante séculos, para matar milhares de pessoas em nome de algo não muito transcendente: a Natureza.

Falou bem: referiu a diferença entre as religiões instituicionalizadas e os ateus. Percebeu a diferença do "instituicionalizadas"? Além disso, quem é que lhe disse que sou ateu? Ah, foi a transcedência. Não posso argumentar contra ela né verdade? Por outro lado, há uma diferença entre impor uma religião e ser a favor do laicismo estatal. A primeira afecta a liberdade das pessoas, a segunda não.

Já aqui referi mas eu traduzo: O que antecedeu o Universo é o que virá. Disse Laivoisier, nada se destroi, tudo se transforma ;)

Anónimo disse...

Já reparou que existe uma grande diferença entre os nossos dois discursos, porque eu não estou a tentar prová-lo errado e estou aberto à possibilidade de estar correcto, apesar de acreditar em Deus;

por outro lado está a tentar provar-me errado porque eu acredito e você não? ;)

Quaisquer das maneiras eu não sou católico, ou cristão, nem nada. Não estou integrado nem sou praticante de nenhuma religião. Tão pouco sou apologista dos horrores cometidos pela Igreja Católica (e outros tantos pelos fundamentalistas islâmicos) em nome de Deus: Cruzadas, Inquisição, Jihads, etc etc etc...
E às da Igreja Católica junto as calinadas do D. Policarpo, que parece insistir em continuar a controlar a mentalidade dos católicos para indirectamente influenciar algo que não diz em nada respeito à Igreja, mas adiante...

A transcendência de que falo diz respeito ao facto de que se Deus existe talvez esteja além da nossa compreensão.

Eu não o consigo pôr por palavras...o melhor que posso é tentar evocar uma imagem. Conhece os desenhos do M.C. Escher, certo?

A transcendência e a lógica por de trás de Deus são um bocado como os desenhos do Escher. Os labirintos, em particular. Não é algo que possa ser traduzido e realizado fisicamente dentro das leis do nosso universo. Trancende-o portanto.

Peço desculpa pela falta de melhor argumentação, não porque não me consiga articular, ou porque creia ser impossível de o explicar..

Sei que também existem argumentos contra a natureza omnipotente de Deus: "será que Deus pode fazer uma pedra que ele não pudesse levantar?" É um paradoxo.

Não é que acredite ser algo inexplicável. Apenas acho que não é possível de explicar à luz das leis da física e da lógica do nosso universo porque o transcende.

A nossa percepção e compreensão de tudo irá ser sempre limitada. O nosso cérebro embora desenvolvimento tem limites, e creio que um deles é o não poder compreender os mecanismos de algo que é demasiado abstracto e aquém da nossa realidade.

Eu acho que é possível acreditar em Deus sem ser um fanático religioso que engole a Bíblia e é um cordeiro de algum rebanho que é desprovido de individualidade. Acho que é possível não aderir a nenhuma forma de religião institucionalizada e acreditar em Deus, e saber respeitar que alguém pode partilhar de ideias diferentes das nossas nesse sentido.
E que no meio dessa liberdade, há também espaço para pôr em causa se Deus realmente existe.

Acho que ao fim dos meus poucos anos de vida (não menos que os teus) foi a postura mais racional e adequada que consegui alcançar e sinto-me confortável com ela ^^

Lobby Queer disse...

Bastian, não quero ceder a uma generalização mas tem vindo a ser comum que os religiosos e os agnósticos utilizem a estrategia da vitimização para conseguirem travar a laicidade do estado. Repare, você é que veio aqui comentar. Parece os colonialistas no séc. XV: "bem, indios lamento imenso mas vão ter que bazar daqui; não resistam ok? nos ate somos simpaticos"...


A transcedencia é merda, pura merda. Que voce acredite nela, tolero mas nao aceito. Estamos no plano real/material, não na metafisica. Desculpe la... Em nome do metafisico, digo-lhe: a conversa acabou. "ah e tal, n ta a ser racional..." Nao discuta cmg, discuta com o Deus que acredito.

Acho que ao fim dos meus poucos anos de vida (não menos que os teus) foi a postura mais racional e adequada que consegui alcançar e sinto-me confortável com ela ^^

Anónimo disse...

1. Eu não lhe faltei ao respeito;
2. Apesar de termos posições diferentes eu não o tentei (nem nunca tentei converter à minha, nem a si nem a ninguém...);
3. O facto de eu acreditar em Deus ou nalgo transcendente não significa que eu esteja no mesmo prato que os fanáticos religiosos Já me distanciei desses e de qualquer forma de religião;
4. Eu acredito em Deus, mas não é uma posição hermética, impossível de ser mudada. Estou aberto à possibilidade de que se calhar nem existe nada.

Agora você... no fim ao cabo não é em nada diferente dos fanáticos religiosos que falam à boca cheia de religião e de Deus.

A única diferença entre você e os outros é que você não acredita em nada e eles sim. Isto não faz uns melhores que os outros... Vocês são todos merda do mesmo saco.

Se você não sabe ser tolerante quanto à minha posição, apesar de me ser igual a sua e de nem sequer eu tentar fazê-lo mudar de ideias (nem tenho pretensões a fazê-lo com ninguém!)

Se ainda assim cai na vulgaridade de ser mal-educado só porque acha que tem razão e não gosta de ser contrariado, não o acho em nada diferente a qualquer fanático.

E agora eu dou a conversa por terminada, não porque a fosse estender por muito mais tempo, mas porque se eu quisesse aturar putos que fazem birrinha eu teria ido para educação de infância. Bixas pseudo-intelectualóides que se acham com o rei na barriga... hmmm, não. I think I'll pass ;)

Boa sorte (bem que vais precisar disso)

Lobby Queer disse...

Cuidadinho com a língua. Eu não o insultei. Agora tenha um pouco de tento na língua. Discriminação em relação à orientação sexual das pessoas é crime. Veja lá se não quer que lhe ponha um processo em cima. Heteros de merda!

Lobby Queer disse...

E sim, estou a discrimina-lo por ser hetero. Porque? N posso?! E estou a discrimina-lo por ser agnostico e agora?!

Detesto heteros e nao-ateus!

Ja leu Nietsche? Leia! Vai perceber o radicalismo das minhas posiçoes e agora va pregar para outra freguesia.