sexta-feira, 5 de março de 2010

Privado de Educação




De quem é a culpa? De quem é a culpa? Dos rankings. E eu bem sei que não são os únicos culpados mas tem um grande peso de culpa no cartório. Perante as listagens amorfas dos rankings, os olhos dos pais e mães dos/as meninos/as só acedem ao campo de visão que lhes permite vislumbrar o pódio campeão. Ora, por questões de desigualdade socioeconómica gravíssimas, os primeiros lugares são, invariavelmente, ocupados por privadas, onde uma nota de 20 euros conta mais que meia dúzia de neurónios.

A notar: os rankings são meros estatísticos. Não servem como indicador viável das realidades. Que critérios obedecem aquelas escolas para estarem nos lugares cimeiros? Que múltiplas leituras se podem fazer das escolas não tão favorecidas? Que apoios têm uma e outra? É preciso haver, mais do que trabalho quantitativo que nada nos diz, um trabalho interpretativo. Muitos progenitores preocupados com uma boa educação para os seus filhos colocam-nos nas privadas onde os professores têm um medo simbólico dos alunos (imaginem o que é pagar – e não é pouco – a um professor e descobrir que o seu filho tirou um 2?) e onde noções como cidadania e justiça social ficaram no armário.

Por outro lado, que investimento as escolas no fundo do ranking possuem? Se não tem investimento poucas são as práticas emancipatórias a que se propõem. Mobilidade social nem vê-la. Ora, um Estado decente é aquele que, antes de mais, financia as suas escolas e não patrocina escolas que estão fora do seu âmbito. Não obedece a lobbies nem a mimos.

Democracia? Democracia é não usar os mesmos referenciais homogeneizadores para avaliar escolas com profundas desigualdades económicas e escolas que funcionam como autênticos “paraísos pedagógicos”. Democracia é erradicar com a lógica da perpetuação da desigualdade através de estruturas e dispositivos que visam a reprodução continua da não-mobilidade. Como argumentar democraticamente contra a democracia? Justiça? Não, é uma falácia. Justiça é usar diferentes critérios para panoramas diferentes com o objectivo de uma igualdade simbólica (ou mesmo concretizada) onde o valor de uns não seja o desvalor de outros.

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